Agronegócios
30/11/2020 09:21

Bebidas: Grupo Petrópolis quer autossuficiência em lúpulo e dispensar importação


Por Clarice Couto

São Paulo, 30/11/2020 - O Grupo Petrópolis, dono de 12 marcas de bebidas incluindo as cervejas Itaipava e Crystal e o energético TNT Energy Drink, começa a mostrar os resultados de um projeto que busca a autossuficiência na produção de lúpulo, uma das matérias-primas da cerveja. Após alcançar produção de 800 quilos de lúpulo seco, na colheita de março, e lançar seu primeiro lote de cerveja especial com insumo nacional, em outubro, a companhia espera atingir o dobro de produtividade na colheita de janeiro, um passo importante para deixar de depender do insumo importado.

"Nossa intenção de longo prazo é conseguir a autossuficiência na produção de lúpulo. Hoje, o Grupo usa em torno de 350 toneladas de lúpulo por ano, importadas da Alemanha, Estados Unidos, República Tcheca, Austrália e outros países, e para substituirmos isso pelo lúpulo nacional, precisaríamos atingir uma produtividade de 1,3 mil a 1,5 mil quilos por hectare, o dobro da obtida nos 3 hectares de plantio que temos agora", explicou o diretor executivo do Grupo Petrópolis, Marcelo de Sá. "É um sonho grande, esperamos alcançá-lo em alguns anos."

O Brasil tem de importar praticamente todo o lúpulo que precisa para a produção cervejeira - em 2019, foram 3,6 mil toneladas trazidas do exterior e somente 60 toneladas cultivadas localmente, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo). Produzir aqui o insumo reduziria os custos em aproximadamente 50%, com a eliminação de despesas portuárias, seguro e desembaraço da carga, de impostos de importação, gastos para movimentar e estocar o produto e da exposição ao câmbio, que influencia os custos em moeda brasileira, explica o diretor industrial do grupo, Diego Gomes.

A demanda atual por cervejas artesanais e com ingredientes nacionais e a perspectiva de produzir cervejas "mainstream" em larga escala com lúpulo brasileiro fez a empresa investir, até agora, R$ 2,5 milhões em infraestrutura, mudas, mão de obra, insumos agrícolas e equipamentos para o beneficiamento. Os resultados alcançados em 2021 nas plantações do grupo no Centro Cervejeiro da Serra, em Teresópolis (RJ) - reduto do desenvolvimento de cervejas artesanais -, e no processo de beneficiamento serão decisivos para levar a produção local a um novo patamar.

Na colheita de março, a companhia conseguiu extrair menos de um quilo de cone verde (parte da planta destinada à produção de cerveja) por pé de lúpulo. Para a próxima colheita, em janeiro, Gomes espera chegar a 1 quilo; em abril, e a expectativa é atingir 2 quilos por pé, o que elevaria a produção a 4 quilos por planta/ano, em duas safras. Ao mesmo tempo, a área plantada deve ser ampliada em abril, dos atuais 3 hectares para 20.

"Se obtivermos bons resultados em produção e no beneficiamento do que vier desses 20 hectares, não teremos muito trabalho em expandir para 100 hectares. Rompendo os 20 hectares, a produção deixa de ser experimental", afirmou Gomes. O Grupo Petrópolis tem 400 hectares disponíveis para o plantio de lúpulo, 170 deles no Centro Cervejeiro da Serra, onde foi iniciado o projeto em 2018, e mais de 230 hectares em Petrópolis, também no Estado do Rio.

Mais sol

Um dos principais requisitos para ampliar a escala de produção, explica Gomes, é reproduzir artificialmente nas plantações brasileiras as condições de luminosidade de países produtores com clima temperado. Neles, as plantas chegam a receber até 17 horas de sol por dia no verão, quando amanhece por volta de 4h30 e anoitece perto das 22 horas. "Aqui no Brasil, mesmo no verão, temos no máximo 13 horas de sol. Estamos trabalhando para aumentar o número de horas a que as plantas são expostas à luz", conta o executivo. Para isso, o grupo tem adotado a tecnologia mulching israelense, uma cobertura do solo que ajuda a planta a absorver mais a luz.

A parceria com o Viveiro Ninkasi, o primeiro do País a obter registro no Ministério da Agricultura para cultivares da planta, vem contribuindo para identificar as melhores variedades e adaptá-las ao clima tropical. Outros parceiros são a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que atuam com o intercâmbio de geneticistas dentro da fazenda. Houve progressos ainda na secagem do lúpulo verde, o que ajudou a aumentar a quantidade de lúpulo seco obtido por pé e alimenta a expectativa de alcançar 1.500 quilos produzidos de lúpulo seco já em janeiro.

Para a expansão da área plantada, Gomes diz que será necessária a mecanização de atividades nas lavouras. O grupo fez parcerias com fabricantes de máquinas para adaptar tratores e colheitadeiras às necessidades das plantações brasileiras. A colheita de janeiro ainda será manual, porém com o auxílio de um trator, e a empresa fará ajustes em uma colheitadeira. "Poderíamos importar as máquinas, mas sairia caro", disse Gomes.

O primeiro lote de cervejas produzidas com lúpulo nacional pelo Grupo Petrópolis, 2 mil longnecks da cerveja Black Princess Braza Hops, está sendo vendido exclusivamente pelo marketplace do grupo, o Bom de Beer. Com o dobro de lúpulo seco em janeiro, a empresa poderia chegar a uma produção de 67 mil litros da "Braza Hops" ou 191,4 mil longnecks.

O estilo da próxima cerveja feita com lúpulo nacional, no entanto, ainda não foi definido, e isso determinará o volume de cerveja produzido, pois cada estilo demanda certa quantidade de lúpulo. "Com maior volume, poderíamos vender em algumas lojas físicas, nas melhores casas", disse Gomes.

Contato: clarice.couto@estadao.com
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