Agronegócios
07/05/2021 20:41

Coluna do Broadcast Agro: Cresce emissão de títulos verdes do setor agropecuário


Por Clarice Couto e Leticia Pakulski

O agronegócio vem captando mais recursos por meio de operações de crédito sustentáveis, os "títulos verdes", e a expectativa é de que o montante levantado em 2021 cresça ao menos 50%. É o que diz à coluna Cristóvão Alves, gerente de Finanças Sustentáveis da Sitawi. A organização é líder em avaliações independentes dessas operações. Após uma única transação em 2015, a da BRF, e duas em 2019, saltou para 13 no ano passado o número de títulos internacionais, empréstimos, Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e outros papéis com benefícios sociais, ambientais e/ou climáticos. Em 2021, já são 11. Diversos fatores impulsionam o mercado. Desde agosto do ano passado estão publicados critérios de certificação para o agronegócio pelo Climate Bonds Initiative (CBI) e tem aumentado o interesse do setor em se financiar por esta via, assim como há maior procura de investidores. Alves aposta também nas captações por bancos para emprestar ao agro.


Soja e floresta. Empresas de grãos se financiaram com green bonds FOTO: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO


Limpos. Em 2020, usinas de açúcar e etanol lideraram as transações com títulos verdes. Mas empresas produtoras de grãos, ovos e cooperativas também contribuíram para a captação chegar a R$ 1,472 bilhão no Brasil e US$ 655 milhões no exterior - US$ 940,8 milhões ao todo.

Aqui mesmo. Neste ano, das 11 captações, oito foram no Brasil, somando R$ 2,161 bilhões, e três internacionais, de US$ 830 milhões, totalizando US$ 1,213 bilhão. Companhias de bioenergia ainda são maioria, mas M.Dias Branco, de biscoitos e massas, e Ourofino Agrociência, de agroquímicos, também entraram no jogo.

Chega mais. A chefe do CBI na América Latina, Leisa Souza, explica que os critérios de agricultura orientam a certificação de "Títulos Climáticos" emitidos para diversas culturas, como soja, algodão, setor sucroalcooleiro e pecuária. Leisa, assim como Alves, também vê possibilidade para que, no curto prazo, bancos ou agroquímicas façam emissões verdes cujos recursos se destinem a um grande número de produtores. "Um CRA pulverizado não é algo que está longe de acontecer", diz a executiva.

Maduros. Os segmentos de carnes e o sucroalcooleiro são hoje os mais preparados para emitir títulos sustentáveis, e o setor de grãos vem se aproximando desse mercado, destaca Moacir Ferreira Teixeira, sócio e fundador da securitizadora Ecoagro. Médias e grandes empresas, com melhor gestão, são as com maior facilidade para acessar investidores, pondera. "Surpreendido" pela demanda de investidores por esses ativos, ele espera fechar 2021 com R$ 1 bilhão em cerca de dez operações - até agora, foram quatro CRAs, que somam em torno de R$ 350 milhões.

Para frente. Se o Brasil quiser solidificar a sua posição como exportador de alimentos sustentáveis, em especial soja, deverá recorrer cada vez mais à agricultura de baixo carbono, diz Paulo Sousa, presidente da Cargill no País. "É positivo perceber que há uma elite de produtores que começa a enxergar a redução de emissões de carbono com outros olhos", afirma. A multinacional busca um movimento similar também no transporte de produtos agrícolas. "Temos compromisso de redução das emissões das nossas cadeias."

Consolida. A Syngenta concluiu sua primeira exportação direta de soja brasileira para o mercado chinês. O navio, com 70 mil toneladas do grão, deve chegar ao porto chinês de Xinsha no dia 11 de maio (terça-feira), a partir do Porto de Santos. Como a coluna antecipou em janeiro, a empresa embarcou apenas produto recebido dos agricultores brasileiros via barter, mecanismo pelo qual a comercialização dos insumos é feita em troca de grãos na colheita.

Socorro. Coordenadores de cerca de 120 projetos da Embrapa financiados com recursos administrados pela Fundação Eliseu Alves (FEA) estão apreensivos com o futuro das iniciativas. Segundo uma fonte ligada à estatal, a Fundação, com dívidas próximas a R$ 3 milhões, demitiu há 20 dias seus funcionários (pouco mais de 20), que ingressaram com ações na Justiça do Trabalho para garantir o pagamento devido, o que levou à determinação de arresto dos bens da FEA.

Para onde? A execução da maioria dos projetos, que têm financiamento de aproximadamente R$ 200 milhões de parceiros como Bayer, Shell, BNDES, Eletrobras e outros, já foi interrompida, diz a fonte. O interlocutor teme não apenas pelo destino das iniciativas como pela reação dos apoiadores. "Eles podem solicitar o dinheiro de volta", alerta.

De fibra. A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) vai organizar no mês que vem uma série de webinars com empresários, traders e industriais dos principais importadores para promover o algodão brasileiro. Bangladesh, Vietnã e Índia já têm datas confirmadas e a associação negocia agendas para Coreia do Sul, Indonésia, Turquia e Paquistão. "O objetivo é informar ao nosso mercado na Ásia como está a situação da safra brasileira de algodão 2020/21", conta Júlio Cézar Busato, presidente da Abrapa.

Contatos: clarice.couto@estadao.com e leticia.pakulski@estadao.om
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