Agronegócios
28/04/2022 15:00

Crédito rural/BB/Naegele: vamos ofertar no mínimo 20% mais recursos na safra 2022/23


Por Clarice Couto

São Paulo, 27/04/2022 - Com uma oferta de R$ 142,5 bilhões em crédito rural na safra 2021/22, que termina no fim de junho, o vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, Renato Naegele, pretende conceder na próxima safra ao menos 20% mais, o que representaria cerca de R$ 171 bilhões. De Ribeirão Preto (SP), onde está nesta semana acompanhando a Agrishow, o executivo disse em entrevista ao Broadcast Agro esperar que o montante adicional venha de um maior volume de recursos do Plano Safra 2022/23 com taxas equalizadas pelo Tesouro, além de linhas com taxas controladas, parcerias com outros bancos e papéis do mercado de capitais, como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Cédulas de Produto Rural (CPR) e Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), mais usados por cooperativas.

"Do crédito rural que fizemos até agora, 38% foi equalizado (com taxas de juros equalizadas pelo Tesouro), mas se consideramos os títulos do agro os recursos com equalização corresponderam a 29% do montante aplicado até a última sexta-feira, então há uma baixa dependência do Banco do Brasil desses recursos. Porém, o banco não atua só dentro da porteira (com produtores rurais), tem toda uma dinâmica que é muito maior fora da porteira do que dentro da porteira", disse Naegele. Da carteira de crédito do BB ao fim de 2021, de R$ 248 bilhões, 36,2% correspondiam a crédito com taxas de mercado, 38,4% com taxas equalizadas e 25,4% com taxas controladas sem subsídio.

Na segunda-feira (25), o BB informou que desembolsou R$ 119 bilhões no acumulado da safra 2021/22, crescimento de 46% ante igual período da temporada anterior. Segundo Naegele, na última sexta-feira (22) o montante concedido já chegava a R$ 120,5 bilhões. O executivo espera fechar a temporada atual com empréstimos acima dos R$ 142,5 bilhões anunciados em 2021 - R$ 135 bilhões em julho e R$ 7,5 bilhões em agosto. "Estou imaginando que ficará entre R$ 145 bilhões e R$ 150 bilhões. No mínimo, R$ 145 bilhões", disse. Se confirmado o valor, serão 27,2% a mais do que no ciclo 2020/21. Com R$ 150 bilhões, a alta seria de 31,6%.

Ainda que representem cerca de um terço do dinheiro concedido pelo BB na safra, recursos com taxas equalizadas pelo Tesouro, bem mais baixas que as do mercado, são de grande relevância para o banco porque atendem aos agricultores familiares, por meio do Pronaf. Pouco mais de 70% das 355 mil operações fechadas pelo banco na safra atual envolveram a agricultura familiar, segundo o executivo. Mas o plano, enfatiza ele, é expandir cada vez mais o leque de opções de recursos vindos do mercado.

Como exemplos, Naegele mencionou a estruturação pela área de Agronegócios de mais um Fiagro junto com a BB DTVM (distribuidora de valores); o lançamento recente da CPR Preservação, que permite fornecer recursos a produtores rurais atrelados a Reserva Legal e Área de Proteção Permanente (APP); uma linha de investimento de longo prazo, em parceria com o New Development Bank (NDB), banco de desenvolvimento dos BRICs, anunciada no ano passado com previsão de se tornar operacional até o meio do ano, com cerca de US$ 200 milhões - ao redor de R$ 1 bilhão - destinados ao financiamento de silos, armazéns, irrigação e energia renovável. Na safra atual, o BB já concedeu R$ 25 bilhões em crédito por meio de CRAs, CDCAS e CPRs e há intenção de ampliar a oferta por essas vias.

"Estamos negociando também uma linha com o Banco Mundial, de longo prazo, destinada a investimentos no agro, que não sairá de imediato mas imagino que para a próxima safra já teremos. É nesse contexto que dizemos que o Banco do Brasil faz muito mais além (de distribuir recursos) do Plano Safra", afirmou. "Não temos restrições ou limitações orçamentárias para continuar colocando mais recursos para CPRs, hoje há 70 produtos (agrícolas) elegíveis (para acessar recursos por meio do papel), continuou.

Demanda aquecida em 2022/23 Apesar da alta dos custos de produção, estimada em 28% a 35% dependendo da cultura, bem como a escalada da Selic, hoje em 11,75% ao ano, que eleva os juros de mercado cobrados por instituições financeiras, Naegele continua vendo uma demanda "muito forte" dos produtores rurais por crédito rural, que deve se estender ao longo da próxima safra. Na Agrishow, o BB tem expectativa de receber propostas de negócios que somem cerca de R$ 2 bilhões, dos quais no mínimo R$ 500 milhões devem ser concretizados.

Naegele argumenta que o setor vem de cerca de quatro safras com margens de lucro muito positivas. Na atual, a 2021/22, apesar de os custos terem subido, a invasão da Ucrânia pela Rússia combinada com estoques mundiais baixos de grãos elevou os preços das commodities, mantendo as margens positivas para os produtores. "Temos preços das commodities em elevação, o que historicamente estimula os produtores a aumentarem a produção. Devemos ver aumento da área plantada de soja, milho e trigo, a perspectiva é muito positiva", disse.

Concorrência e Caixa Com 54% do crédito rural concedido no Brasil, o BB tem visto a concorrência crescer há pelo menos cinco anos. O mais recente concorrente, a Caixa Econômica Federal, vem adotando discurso ambicioso - na segunda-feira, na Agrishow, o presidente do banco, Pedro Guimarães, disse que a instituição será líder do setor no agronegócio até dezembro de 2024.

Sobre o avanço do banco e demais instituições financeiras no setor, Naegele disse que o olhar do BB "não está preocupado com o segundo ou terceiro colocado", mas em como ampliar o atendimento a produtores e cadeia do agronegócio. "Temos uma estratégia para 18 meses, com cinco eixos, 35 ações. Nosso olhar é para atender bem o produtor, a cadeia antes e depois da porteira, ser vanguarda com a plataforma digital Broto, que já fez mais de R$ 1,5 bilhão em negócios, em oferecer conteúdo de gestão técnica e empresarial", disse.

"Gosto de ver os bancos pares do Banco do Brasil, e eventualmente a Caixa Econômica, querendo fazer mais no agronegócio; tem R$ 2 trilhões de PIB do agronegócio, há espaço para todo mundo. Mas é muito diferente fazer crédito rural e urbano: agro é segunda a segunda, não tem feriado, não tem sábado, não tem domingo", comentou. "Teve geada em Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul ano passado, pegou café em Minas Gerais e São Paulo, e honramos R$ 450 milhões em indenização de seguro por meio da nossa seguradora. Estou vendo instituições que não têm seguradora e que, com as intempéries do ano passado e deste ano, estão tirando o pé, não querendo fazer seguro. Pergunta para a Brasilseg se existe a possibilidade de não aumentar a participação no seguro agrícola na próxima safra? Não existe", enfatizou.

Contato: clarice.couto@estadao.com
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