Agronegócios
03/09/2021 14:48

Caminhoneiros: Associações de autônomos dizem que não vão aderir às manifestações pró-governo no dia 7


Por Isadora Duarte

São Paulo, 03/09/2021 - Entidades e associações que representam caminhoneiros autônomos dizem que não vão aderir às manifestações de 7 de setembro, organizadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Representantes da categoria, ouvidos pelo Broadcast Agro, avaliam que poderá haver presença pontual de transportadores nos movimentos, mas de forma isolada, sem organização associativa. A possível adesão dos caminhoneiros ao movimento é aventada desde que o cantor Sérgio Reis disse em vídeo que a categoria "iria parar o País" em atos pró-governo e contra o Supremo Tribunal Federal (STF).

A Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava) informou que não apoia os movimentos e que não vai orientar seus associados a participarem dos atos. "Caminhoneiros autônomos não estão levantando esse movimento. Sempre lutamos a favor da democracia e pela proteção dos direitos da categoria", disse o presidente da Abrava, Wallace Landim, conhecido como Chorão, ao Broadcast Agro.

Segundo Chorão, a Abrava não vai se envolver em atos políticos, independentemente da orientação partidária. "Não participamos dessas pautas políticas ou intervencionistas. Esse movimento não é nosso. Trata-se de um movimento de direita a favor do presidente", afirmou Chorão. De acordo com ele, desde a greve de 2018, há grupos que pedem a destituição de ministros do STF e buscam associar a categoria a este movimento. "Estamos observando algumas situações de motoristas celetistas, ou seja, contratados por empresas que foram chamados por empresários aos atos. Não há envolvimento dos autônomos", apontou. A Abrava deve divulgar ainda hoje uma nota reforçando o posicionamento contrário aos protestos.

O Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) também não apoiará os atos, informou o presidente do Conselho, Plínio Dias. "Isso é uma ação popular", disse. Na mesma linha, José Roberto Stringasci, representante da Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB), informou que a entidade não vai se envolver nos movimentos. "Alguns motoristas, como cidadãos brasileiros, participarão dos atos, mas não como caminhoneiros", disse.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), associada ao CNTRC, endossa a contrariedade ao movimento. O diretor da CNTTL, Carlos Alberto Litti Dahmer, enviou um ofício ao presidente do STF, ministro Luiz Fux, repudiando os atos "extremistas", as declarações do cantor Sérgio Reis e de "pseudolideranças" de caminhoneiros. "A CNTTL não compactua com nenhuma manifestação antidemocrática, que tente macular a democracia", diz Litti no documento, acrescentando que a entidade representa 800 mil transportadores autônomos e celetistas. "Para nós, qualquer manifestação que verse contra essas instituições (poderes Executivo, Legislativo e Judiciário) não terá o apoio da CNTTL e dos transportadores autônomos de cargas e celetistas", afirmou. O diretor também acrescentou que as demandas da categoria são a constitucionalidade do piso mínimo do frete rodoviário, a aposentadoria especial com 25 anos de trabalho e o voto em trânsito.

A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) prepara uma nota para ser divulgada ainda hoje com seu posicionamento oficial sobre as manifestações. Uma fonte com acesso à nota relatou que a entidade dirá que os atos não terão nenhuma reivindicação específica relacionada às atividades de caminhoneiros, tratando-se de um movimento da população em geral, organizado nas redes sociais. Entretanto, em um dos trechos, a confederação reconhece que o transportador autônomo, como cidadão, detém condição de participar "livremente na construção coletiva da sociedade". A CNTA congrega sete federações e 140 sindicatos distribuídos pelo País, representando 800 mil caminhoneiros autônomos, segundo dados da própria confederação.

Cautela estratégica - Há também uma tentativa de desvinculação de algumas entidades do governo Jair Bolsonaro em meio a cobranças pelo cumprimento de promessas feitas à categoria. "Como vamos apoiar um movimento em prol de um governo que está deixando aquele que trabalha e produz cada vez mais apertado? Estamos falando de gasolina quase a R$ 7,00, de diesel a R$ 4,70, de aumento na energia e no gás", comentou Chorão.

Uma possível reunião com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que estaria marcada para a próxima semana para discutir as demandas dos caminhoneiros, também teria desestimulado a participação das lideranças nos atos. Um interlocutor confirmou à reportagem que há o receio de que uma adesão aos atos possa inviabilizar a reunião. Contudo, as entidades procuradas pela reportagem dizem desconhecer a agenda desse encontro. "A reunião da qual temos conhecimento é a que faremos entre as entidades em 18 de setembro em Brasília, com lideranças nacionais para traçar uma pauta única dos autônomos", afirmou Chorão, citando a CNTTL entre as associações que estarão presentes na reunião organizada pela Abrava.

Fonte que acompanha o setor diz que a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal retomar, nas próximas semanas, o julgamento das ações que questionam a constitucionalidade do piso mínimo do frete rodoviário também deve inibir as manifestações da categoria. Segundo ele, a participação massiva em movimentos contrários ao STF poderia ser vista como uma estratégia equivocada, diante da expectativa de uma decisão final da Suprema Corte sobre o tabelamento do frete.

Contato: isadora.duarte@estadao.com
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