Agronegócios
12/08/2021 08:29

JBS/Gilberto Tomazoni: diversificação reduz custos e exposição à volatilidade


Por Julliana Martins

São Paulo, 12/08/2021 - A JBS aposta na diversificação geográfica e produtiva para reduzir a exposição da companhia à volatilidade do mercado e amenizar os efeitos dos custos de produção de proteína animal, disse o presidente da companhia, Gilberto Tomazoni. "A nossa plataforma diversificada nos dá uma importante capacidade de reagir a condições de mercado favoráveis muito rapidamente, principalmente com as exportações. Estamos em vários países e também em vários mercados", acrescentou, ao citar a operação em diferentes países, dentre eles o Brasil, Estados Unidos, Canadá, México, Reino Unido, França e Austrália.

O destaque dessa estratégia, segundo o executivo, é a possibilidade de aproveitar as oportunidades de cada um dos mercados e compensar as adversidades. Exemplo disso foi o desempenho positivo da operação de carne bovina da JBS nos Estados Unidos, por meio da JBS USA Beef, que compensou as retrações vistas na Austrália e na Nova Zelândia e o aperto nas margens da Seara no Brasil, em razão do encarecimento dos grãos, que são utilizados para ração animal. No segundo trimestre do ano, conforme balanço divulgado há pouco, a JBS reportou lucro líquido, Ebitda e receita líquida recordes.

Outro ponto que chama atenção e consolida a atuação da empresa é a ampliação da área de atuação, com o recente acordo para aquisição da australiana Huon, líder no mercado de salmão no país, além da compra da europeia Vivera, de produtos à base de plantas. "Esses são os nossos dois focos daqui pra frente e vamos investir fortemente nos segmentos de aquicultura e plant-based", disse Tomazoni. Ele lembrou que a Seara chegou a entrar no segmento de frutos do mar no início do ano, mas com uma estratégia diferente, de fornecedores terceiros. Na Austrália, com a Huon, a ideia é entrar "de cabeça" no mercado, apostando no potencial de crescimento nos próximos anos.

No Brasil, a operação no segundo trimestre do ano foi desafiadora, de acordo com Tomazoni, que ressalta, porém, a ampliação nas vendas de produtos preparados, com maior valor agregado. Na Friboi, da JBS Brasil, por exemplo, além do mix de produtos, ele destaca os serviços, com o funcionamento de mais de 1.500 lojas do programa Açougue Nota 10, de gerenciamento de negócios. Já na Seara, embora a participação da marca no mercado tenha crescido, houve queda de margem, em razão da alta nas rações e também no preço do óleo. Além disso, o repasse de custos aos preços finais dos produtos foi inevitável.

Um movimento que tem sido realizado para garantir a competitividade da empresa nesse cenário é a importação de milho de países vizinhos, com cerca de 30 navios já negociados para trazer o cereal da Argentina. "Estamos procurando por preços competitivos o tempo todo. Da Argentina vamos continuar trazendo com certeza, mas dos Estados Unidos ainda seguimos avaliando porque envolve outras questões, e não apenas os custos", disse o presidente da JBS. E acrescentou: "Acredito que os preços de grãos não devem variar tanto mais. Temos a quebra de safra no Brasil, a competição com o biocombustível e estoques de passagem baixos aqui e no resto do mundo". Segundo o executivo, além de importar, a empresa avalia produtos alternativos para fábricas que consigam utilizar essas opções de maneira competitiva.

Na operação de carne bovina, a expansão das exportações, que responderam por 56% do volume comercializado pela JBS Brasil no segundo trimestre, levou a um aumento de 17% no processamento de bois no período. A ampliação dos abates ocorre em meio a um cenário de baixa oferta de gado terminado no País, mas foi possibilitado por uma atividade sem interrupções nas fábricas, disse o executivo. "Foi uma decisão da empresa de não dar férias coletivas e conseguimos aumentar as margens com a estratégia de trabalhar a carne com marcas e o food service."

A expectativa para o mercado doméstico é de que a retomada econômica com o avanço da vacinação contra a covid-19 possibilite uma reação do consumo. O maior ponto de atenção é o canal de food service, que representa uma parcela importante das vendas de carne bovina, afirma ele.

Em relação às exportações, Tomazoni estima que os resultados teriam sido ainda melhores se não fossem os problemas logísticos com a escassez de contêineres, que atrasaram os embarques e ampliaram os estoques de produtos. Além disso, a suspensão das compras de sete plantas brasileiras pela Arábia Saudita pesou, embora com um efeito menor. A JBS conseguiu realocar as vendas dos produtos para outros destinos e remanejar o mix produtivo das fábricas que operavam para o país.

A China continua com um papel importante nas vendas externas da JBS e a perspectiva para a demanda segue positiva, conforme o presidente. "Vemos sinais de recuperação do rebanho de suínos, mas também há uma reincidência de focos de peste suína africana. Por enquanto, não há muita clareza do que vai acontecer", afirmou. Na visão dele, o aumento populacional vai garantir o consumo aquecido, mas a diversificação de mercados protege a empresa de variações expressivas no mercado asiático.

Contato: julliana.martins@estadao.com
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