Por Julliana Martins
São Paulo, 26/07/2021 - Os altos custos de produção da carne plant-based são um desafio para a indústria de alimentos. O produto tem como base grãos e leguminosas, cujos preços dispararam nos últimos anos, com produção bem ajustada à demanda, e não devem ceder tão cedo. Cada empresa se movimenta de acordo com uma estratégia própria para mitigar os gastos e maximizar a rentabilidade.
A soja, presente em produtos da PlantPlus, BRF e JBS, é um dos produtos com preços firmes. A oleaginosa se valorizou quase 50% no último ano, com a saca de 60 quilos passando de R$ 116,56 em julho do ano passado para R$ 173,11 na mesma data deste ano - referência do Indicador Esalq/BM&FBovespa da soja, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) junto a cinco praças do Paraná. Somente neste mês, o indicador subiu 5,37%.
No caso da PlantPlus, uma parceria entre a Marfrig Global Foods e a Archer Daniels Midland (ADM) garante o fornecimento de toda a matéria-prima utilizada na produção, especialmente a soja. De acordo com o CEO da startup, John Pinto, "a ADM tem uma grande escala de produção, portanto, uma enorme capacidade de processamento de soja, o que garante um suprimento de insumos estável para a operação". Ele disse não se preocupar com a falta de insumos e que mesmo os ingredientes que são importados são fornecidos pela ADM.
A produção na fábrica da ADM em Mato Grosso do Sul também facilita, ao reduzir a exposição dos produtos à variação cambial. Além disso, o executivo afirma que, por meio de parcerias entre a Marfrig e a Embrapa, a PlantPlus consegue explorar tecnologias de ingredientes para melhorar o produto e também a competitividade.
A BRF também identificou a necessidade de nacionalizar a produção para conseguir preços mais competitivos de seus produtos. Segundo o diretor de Novos Negócios da BRF, Sérgio Pinto, a conjuntura não é favorável para os custos de produção e todas as empresas do mercado sentem o impacto. "É fundamental ter uma estrutura de custo melhor, precisamos proteger as margens e isso significa repasse aos preços finais, que estamos fazendo", afirma.
Os efeitos são em toda a cadeia, afirma o diretor executivo de alimentos preparados da Seara, João Campos. Ele diz que a JBS pretende "democratizar" o acesso da população aos produtos plant-based, "mesmo que isso traga desafios para a rentabilidade". De acordo com o executivo, a empresa segue em busca das melhores alternativas para os insumos, identificando as oportunidades locais e externas. Importações não estão descartadas. "A prioridade é atender o consumidor", enfatiza.
Em relação ao consumo, os três executivos concordam que, embora o mercado de carnes vegetais esteja crescendo no Brasil e no mundo, a proteína animal tem seu espaço. Eles veem não exatamente uma substituição de consumo, mas uma complementaridade das proteínas.
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