Agronegócios
24/02/2021 07:11

Soja/Agroconsult/Debastiani: atraso na colheita afeta calendário do milho e "testa" sistema de exportação


Por Leticia Pakulski

São Paulo, 24/02/2021 - Os atrasos na colheita da soja 2020/21 do Brasil podem afetar a qualidade dos grãos da oleaginosa e o calendário de plantio do milho safrinha, além de colocar à prova o sistema logístico brasileiro, avaliou o coordenador do Rally da Safra, André Debastiani, em entrevista ontem (23) ao Broadcast Agro. Em nota divulgada mais cedo, a consultoria havia chamado a atenção para o ritmo lento de colheita no Centro-Oeste, onde chove praticamente todos os dias desde o início do ano, em especial em Mato Grosso, e produtores colhem com grande dificuldade - na maioria das vezes, com mais umidade do que o ideal.

Mais do que representar risco de perda de produtividade no Centro-Oeste, as chuvas podem ocasionar perdas de qualidade em lavouras de soja que estão ficando prontas mas que não conseguem ser colhidas na velocidade adequada. "O prejuízo maior é em qualidade (de soja) e no plantio do milho, porque este, sim, acaba sendo bastante afetado", disse Debastiani. Segundo ele, problemas de qualidade podem gerar descontos ao produtor na hora de entregar a soja. O agricultor poderá ter de misturar soja prejudicada por excesso de umidade com grãos de maior qualidade, o que é permitido, para poder atender ao padrão de compra exigido.

Com relação ao milho, ainda que o atraso da colheita de soja protele ainda mais a janela de semeadura do cereal, produtores tendem a manter suas intenções de plantio. Segundo o coordenador do Rally da Safra, a perspectiva da Agroconsult de área plantada com milho safrinha se mantém em 14,3 milhões de hectares, ante 13,3 milhões de hectares no ciclo anterior. "A gente acredita que essa área de plantio vai acontecer mesmo que ocorra mais atrasada", disse. O cenário só não deve se confirmar em caso de chuvas muito acima do normal por períodos prolongados, o que não é a expectativa por ora. "Temos mantido o incremento em área (em relação a 2019/20)", disse Debastiani. "O que não revisamos ainda foi a produção. Justamente porque essas duas semanas agora são muito decisivas tanto para o plantio quanto para o potencial dessa safra."

Por enquanto, a expectativa não é de grande mudança no quadro climático no Centro-Oeste. "O cenário continua sendo o mesmo: começa o dia com um período bastante limpo, só que no fim da tarde chegam as pancadas de chuva. Então não é que produtor não esteja colhendo soja, ele colhe, sim, todo dia um pouco, mas não com a velocidade que queria." Contudo, assim como foi observado um ritmo de plantio de soja bastante acelerado nos períodos que o clima permitiu, Debastiani lembra que produtores têm capacidade operacional elevada para fazer o mesmo na colheita. "Mato Grosso, por exemplo, plantou 50% da área em 15 dias. É um ritmo gigantesco de plantio. Se você tem esse ritmo de plantio, pode ter um ritmo forte de colheita."

O atraso na colheita de soja também afeta a logística de movimentação da produção, não só nos portos como no interior do País. "Tem uma preocupação com a logística como um todo, seja a de colher e tirar essa soja de caminhão até o armazém, seja a do armazém de receber toda essa soja, um volume maior em menos tempo, e ainda uma soja mais úmida, que tem que passar por secador", disse. "E também é um desafio pensando no escoamento até os portos e exportação. Para o próprio mês de fevereiro, havia uma expectativa gigante em termos de volume de exportação e isso não ocorreu." Além do atraso na chegada dos grãos aos portos, a chuva afetou o próprio carregamento dos navios nos terminais, segundo Debastiani.

A consultoria não acredita, entretanto, em redução do volume exportado pelo Brasil em 2021 em virtude dos atrasos - ao contrário, passou a prever um volume maior de embarques do que os 83 milhões de toneladas projetados em janeiro. "Esse aumento de produção com o qual estamos trabalhando acaba refletindo tanto na exportação quanto no consumo interno, mas eu diria que a maior parte vai para exportação. Estamos trabalhando com um número muito próximo das 84 milhões de toneladas de exportação", disse Debastiani.

Para o coordenador do Rally da Safra, esse volume tende a ser escoado ao longo do ano, só que isso pode acontecer "de uma forma mais turbulenta". "Se em fevereiro era para exportarmos pelo menos 2 milhões de toneladas a mais do que exportamos agora e não conseguimos, isso joga (esses embarques) para março. E vai indo: o que tinha em março vai um pouquinho mais para frente também", disse. Segundo Debastiani, o volume a ser embarcado ao exterior não tende a mudar porque a demanda por soja segue "muito forte" no mercado internacional. "A gente vai colocar à prova nosso sistema de exportação."

Contato: leticia.pakulski@estadao.com
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