Agronegócios
18/02/2019 10:54

Perspectiva: mercado aguarda previsões para safra de grãos 2019/20 dos EUA


São Paulo, 18/02/2019 - O mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) continua atento à evolução das discussões comerciais entre Estados Unidos e China. Após concluírem uma rodada de negociações em Pequim, nesta semana ocorrerão novas conversas em Washington. Traders também aguardam as perspectivas para a safra dos EUA em 2019/20 que o Departamento de Agricultura do país (USDA) divulgará a partir de quinta-feira. Nesta segunda-feira, as bolsas norte-americanas permanecem fechadas por causa do feriado do Dia do Presidente nos EUA.

Os futuros de soja fecharam em alta na sexta-feira, após declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre as negociações comerciais com a China. O vencimento maio da oleaginosa subiu 3,75 (0,41%), para US$ 9,2150 por bushel. Na semana, o contrato acumulou alta de 0,77%. Na sexta-feira, Trump disse que, caso o diálogo entre norte-americanos e chineses esteja avançando de modo positivo, ele pode decidir não elevar tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos do país asiático e que as duas partes estão "muito próximas" de um "acordo muito bom". Negociadores dos dois lados concluíram na sexta-feira uma semana de discussões em Pequim. Embora ainda haja fortes divergências em importantes questões, EUA e China concordaram em dar prosseguimento às negociações nesta semana em Washington, o que foi visto como um sinal de boa vontade de ambas as partes. De acordo com fontes, um possível acordo teria a forma de memorando de entendimento, que poderia ser a estrutura para um acordo a ser finalizado mais tarde pelos presidentes Donald Trump e Xi Jinping.

A analista Andrea Cordeiro, da Labhoro, ressaltou que o mercado testou na semana passada mínimas de US$ 9,01 e US$ 9,03 por bushel em meio a um cancelamento volumoso da China nos EUA reportado pelo USDA, ainda que referente ao começo de janeiro, à maior pressão da safra brasileira e às notícias de pouco avanço nas conversas entre EUA e China. "Hoje (sexta-feira) comentários de que uma nova rodada de negociação deve ocorrer em março na Flórida, possivelmente entre os dois presidentes, deram um pouco de alento ao mercado", afirmou. A analista ponderou, contudo, que investidores não quiseram assumir grandes posições antes do fim de semana prolongado nos EUA sem nada de concreto sobre a chance de um acordo. "O que se tem no curto prazo é uma grande interrogação sobre as tratativas entre os dois governos", disse. "O mercado está carente de informações e carrega uma dúvida muito grande."

Em meio às incertezas sobre a guerra comercial, a safra brasileira "se materializa de fato". "Produtores estão em campo colhendo, o fluxo de estoque no Brasil aumenta. Paralelamente a isso, há o encurtamento da janela para os embarques norte-americanos", disse Andrea. A analista salientou ainda que as demais safras sul-americanas vão chegar ao mercado progressivamente. "É provável que o USDA tenha que revisar para baixo a projeção de exportação dos EUA, incorporando o excedente de oferta no quadro de estoques", disse.

No domingo, em publicação feita em sua conta oficial no Twitter, Trump afirmou que faria "reuniões e ligações importantes" sobre o acordo comercial com a China. "Grande progresso está sendo feito em várias frentes diferentes!", escreveu o mandatário norte-americano. No sábado, o presidente da China afirmou que "importante progresso foi feito para o atual estágio" das negociações comerciais com os Estados Unidos, segundo o jornal oficial chinês The People's Daily.

Enquanto isso, persiste a incerteza sobre como ficarão as compras da China nos EUA de agora em diante. "Enquanto Trump fala que aceitaria postergar o início das tarifas se tiver a percepção de que a negociação evolui, a China tem a arma da demanda", disse Andrea. "Começaram a circular informações de que a China poderia fazer um anúncio de um volume grande de soja numa tentativa de mostrar que está pronta para uma próxima rodada, que tem intenção de chegar a um entendimento em breve." Ela ponderou, contudo, que por enquanto são apenas rumores. "O mercado está esgotado de escutar mais do mesmo."

Nesta semana, traders avaliam ainda as perspectivas para a safra 2019/20 dos Estados Unidos. Na quinta e sexta-feira, o USDA apresenta no Fórum de Perspectivas Agrícolas as projeções de área e produção nos EUA. Andrea lembrou que a previsão até o momento é de El Niño, que pode ser favorável às lavouras norte-americanas. Segundo a analista, o tamanho da área destinada à soja deve ter grande influência sobre os preços em Chicago. "Os estoques já são altos. Se produtor norte-americano apostar que os EUA vão firmar acordo com a China e plantar uma grande área com tecnologia alta temos um cenário de uma possível grande safra."

O milho terminou quase estável na sexta-feira na CBOT, em sessão marcada pela baixa volatilidade. Os contratos foram influenciados pela queda do trigo, que é substituto direto do milho em ração animal. Esse fator, porém, foi contrabalançado por sinais de demanda pelo grão produzido nos EUA. O vencimento maio do milho cedeu 0,25 cent (0,07%) e terminou em US$ 3,8275 por bushel. Na semana, acumulou alta de 2,27%. De acordo com o USDA, exportadores relataram vendas de 205.744 toneladas do grão para destinos não revelados, com entrega prevista para o ano comercial 2018/19. O avanço do petróleo, que melhora a competitividade relativa do etanol, também impediu uma queda mais acentuada das cotações. Nos EUA, o milho é a principal matéria-prima usada na fabricação do biocombustível, e o setor consome cerca de um terço da safra doméstica do cereal.

O mercado também está à espera das projeções do Fórum de Perspectivas Agrícolas do USDA. "Vamos ver as estimativas de rendimento com base em linha de tendência do USDA para milho e soja, bem como suas previsões de área", disse Craig Turner, da Daniels Trading. "Vai ser muito interessante ver o que eles dizem sobre área. Há muitas opiniões diferentes sobre como ficará o plantio de milho e soja em 2019."

Os futuros de trigo negociados em Chicago fecharam em baixa na sexta-feira, ampliando as perdas de quase 3% registradas na sessão anterior. Segundo participantes, as altas recentes estavam tornando o trigo norte-americano menos competitivo em relação ao produto da França e da Rússia, e o mercado está agora passando por ajustes. Na quinta-feira, o USDA disse que exportadores norte-americanos venderam 131,2 mil toneladas de trigo da safra 2018/19 na semana encerrada em 3 de janeiro. O resultado foi o menor do ano comercial e ficou abaixo do piso das estimativas de analistas, de 200 mil toneladas. "Tivermos um conjunto de números fracos de exportação, não estamos vendendo muito trigo", disse na quinta-feira Joel Karlin, da Western Milling. Na CBOT, o vencimento maio do trigo caiu 3,50 cents (0,69%) e fechou em US$ 5,07 por bushel. Na semana, o recuo foi de 1,98%.

Café: contratos caem 3,7% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de cerca de 3,5% (395 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base vencimento maio de 2019. As cotações encerraram na sexta-feira (15), a 101,65 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 107,70 cents (sexta, dia 8) e mínima de 100,60 cents (quinta, dia 14).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que a divulgação das exportações recordes brasileiras de café em janeiro (3,3 milhões de sacas de 60 kg), a previsão de chuvas mais amplas sobre os cafezais do Sudeste do Brasil e a intensificação da rolagem de posição para maio dos contratos de café com vencimento em março próximo na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) derrubaram com força as cotações da commodity.

Conforme Carvalhaes, o recuo do dólar em relação ao real em mais de 1% na semana (em meio a muitas oscilações) completou o quadro negativo para o mercado físico brasileiro. "Os compradores diminuíram o valor de suas ofertas levando os cafeicultores a se retraírem para aguardar melhores preços. O volume de negócios fechados foi pequeno frente às necessidades mensais de consumo interno e exportação do País", comenta Carvalhaes.

Açúcar: mercado deve tentar se sustentar acima de 13 cents
Sem negócios nesta segunda-feira por causa de feriado nos Estados Unidos, o mercado futuro do açúcar demerara tenta permanecer acima dos 13 cents por libra-peso nos contratos mais líquidos durante a semana. Essa resistência foi rompida na sexta-feira nos vencimentos março e maio. Puxaram os papéis o cenário positivo causado pela possível restrição de oferta da Índia, após a alta nos preços mínimos internos e a melhora na perspectiva macroeconômica global, com o avanço das conversas entre Estados Unidos e China.

O contrato maio avançou 4,67%, ou 58 pontos, para 13 cents no fechamento e o março ganhou 4,2%, ou 53 pontos, em 13,14 cents. "Os contratos foram negociados entre 12,50 cents e 13 cents desde novembro. Então, romper esse patamar foi muito importante para os futuros saírem do movimento indefinido e estagnado. O mercado de açúcar precisava desse impulso", observou o analista da INTL FCStone, Bruno Lima.

Lima destaca a falta de subsídios que poderiam vir do posicionamento de fundos de investimento e especuladores. O levantamento semanal da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) permanece defasado. "Neste momento, a CFTC tem efeito limitado e quase nulo no mercado. Somente em março, quando estiver mais próximo do momento atual, o relatório voltará a gerar precificação", disse, se referindo à paralisação do governo norte-americano em janeiro.

(Leticia Pakulski e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
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