Nova York, 05/10/2021 - Os futuros de algodão negociados na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) estão sendo negociados em seu nível mais alto desde setembro de 2011. O movimento é impulsionado pela crescente demanda chinesa, que vem sendo atendida, em parte, pelo aumento das exportações dos Estados Unidos, após um acordo firmado entre os países.
Ontem, o vencimento dezembro da pluma subiu 40 pontos (0,38%), para 104,93 centavos de dólar por libra-peso. Nos últimos dez pregões os preços subiram 18% e essa alta pode se refletir também nos custos do setor de vestuário.
A pluma mostra os efeitos, muitas vezes inesperados, que a política comercial pode ter sobre os preços. Em 2020, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, baniu algodão e produtos de algodão do principal produtor chinês por alegações de trabalho forçado na região noroeste de Xinjiang, onde Pequim tem perseguido o povo uigur, em grande parte muçulmano, como parte da maior detenção em massa de um grupo minoritário desde a Segunda Guerra Mundial. Apesar disso, as empresas norte-americanas ainda podem importar produtos de algodão feitos na China desde que a pluma utilizada nas produções seja originária de outro lugar.
Desde então, o gigante asiático está importando algodão, em grande parte dos EUA, para fabricar produtos e despachá-los de volta para o país. O apetite do gigante asiático por importações de algodão está, em parte, sendo preenchido pelo algodão produzido nos EUA. De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês), o ritmo das vendas de exportação de algodão para o país, desde o início do novo ano de comercialização em 1º de agosto, é 83 % maior do que na temporada anterior. "Se não se pode usar a pluma produzida em Xinjiang, é preciso importar muito mais algodão e fios", disse o diretor de Gestão de Risco da Plexus Cotton, Peter Egli. Segundo o diretor, a China está suprindo suas necessidades da pluma também por outros países exportadores importantes, como a Índia.
Em um discurso ontem (4), a representante comercial dos EUA, Katherine Tai, disse que os EUA planejam iniciar uma nova rodada de negociações comerciais com a China, mantendo as tarifas sobre as importações chinesas.
De acordo com a previsão mais recente do USDA, o consumo de algodão no gigante asiático, no atual ano de comercialização, deve ser de 41 milhões de fardos, o equivalente a cerca de 8,9 milhões de toneladas. Isso representa um aumento de 24% em comparação com as duas últimas temporadas, impulsionado em parte por um aumento pós-pandêmico na demanda por bens de consumo de modo geral.
Fundos de investimento elevaram suas posições compradas, apostando na alta dos preços do algodão em Nova York, segundo a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), na última sexta-feira (1º). O otimismo acontece à medida que os fazendeiros dos EUA começam a colher suas safras. O USDA informou ontem que a safra de algodão em todo o país está 13% concluída e 62% dela está em boas ou excelentes condições, ante 40% registrado na temporada anterior. "As condições estão boas, então a colheita deve permanecer positiva", disse o analista do Price Futures Group, Jack Scoville. Além disso, a China se tornou mais atuante no mercado mundial, acrescentando que “os EUA podem oferecer o volume e a qualidade do algodão que a China deseja”.
Ainda assim, o apetite da China por pluma e outras culturas pode se esgotar. Os cortes de energia atingiram as províncias chinesas, com o governo, em alguns casos, forçando o fechamento de fábricas para economizar energia. O Escritório Nacional de Estatísticas de Pequim informou, na última quinta-feira, que a atividade manufatureira do país contraiu em setembro, encerrando uma sequência de expansão de 18 meses. "O racionamento de energia deve restringir a atividade industrial até que a demanda diminua o suficiente para trazer o mercado doméstico de eletricidade de volta ao equilíbrio", disse o economista sênior da Capital Economics para a China, Julian Evans-Pritchard, em uma nota na semana passada. Fonte: Dow Jones Newswires