Agronegócios
17/11/2021 09:52

Exclusiva/Fertilizante/Itaú BBA/Bellotti: cultura perene deve ser afetada por alto preço de nitrogenados


Por Isadora Duarte

São Paulo, 17/11/2021 - As culturas perenes tendem a ser as mais afetadas pelos preços elevados dos nitrogenados e eventual novo aumento das cotações após restrições russas nas exportações. A avaliação é do gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti. "O maior impacto deve ser para as lavouras de café, cana-de-açúcar, café e laranja (citrus), que fazem adubação principalmente no início do ano e tem maior janela de manejo nutricional, além das aplicações de manejo. Estas culturas devem sentir aumentos de custo de aquisição dos adubos", disse Bellotti, em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro.

No médio prazo, preços firmes devem ser vistos também para os insumos para a safra de grãos 2022/23, plantada a partir de setembro do ano que vem. Para Bellotti, a safra de grãos 2021/22 tende a não sofrer os impactos de uma nova sustentação dos preços desses macronutrientes. Isso porque o maior volume adquirido para a safra de verão já foi entregue aos agricultores, enquanto para a safrinha de milho a maior parte do volume a ser aplicado nas lavouras já foi comprado. "Obviamente quem deixou para comprar adubo de última hora para safrinha também vai enfrentar preços mais altos, o que se refletirá no custo de produção", apontou.

O governo russo limitou as vendas externas de fertilizantes nitrogenados e formulações complexas com nitrogenados (que seriam os ativos fosfatados) em volumes estabelecidos por cotas por seis meses, a fim de evitar escassez no mercado interno. Para os nitrogenados, os embarques ficarão restritos a 5,9 milhões de toneladas e para adubos complexos contendo nitrogênio a 5,35 milhões de toneladas por seis meses. A medida é válida a partir de 1º de dezembro. A Rússia é o segundo maior exportador mundial de nitrogenados e terceiro maior exportador global de fosfatados e potássicos, contribuindo com 16% dos adubos exportados no mundo. É também o maior fornecedor de nitrogenados para o Brasil, contribuindo com 21% do volume importado pelo País.

Na avaliação de Bellotti, as restrições russas, anunciadas na semana passada, tendem a fornecer um suporte para os preços já elevados dos adubos nitrogenados e fosfatados no mercado internacional. "É um novo fator para a sustentação da alta destes ativos. Se as cotações não subirem pelas restrições, pelo menos ficarão sustentadas nos patamares atuais, já que subiram de maneira significativa desde o final do ano passado", analisou. Para Bellotti, uma nova alta tende a ser limitada pela corrosão do poder de compra dos agricultores. "Há um teto para que aumentos muito adicionais ocorram. Estão limitados pela relação de troca entre adubo e commodity, que piorou muito neste ano", pontuou.

Dados do Itaú BBA apontam que o valor de importação da ureia - referência para preço de nitrogenados - colocada em porto brasileiro aumentou 200% no ano (janeiro a novembro), atingindo US$ 870 por tonelada em 5 de novembro. O fosfato monoamônico (MAP) avançou 100% no acumulado do ano, para US$ 830 por tonelada. O potássio subiu 225,5% na mesma base comparativa, alcançando US$ 830 por tonelada na sexta-feira passada.

Bellotti observa que, mesmo o volume afetado pelas cotas não sendo expressivo, a medida agrava a oferta apertada de insumos. "Quando comparamos com o que foi exportado nos primeiros seis meses do ano, vemos que não há restrição expressiva. Contudo, em cenário no qual a China também está restringido as exportações, a possibilidade de o mundo aumentar a originação de outros players para suprir a oferta da Rússia não vai ocorrer", disse Bellotti.

Para o Brasil, o ponto mais crítico das restrições russas é o nitrato de amônio (NAM), segundo o gerente Agro do Itaú BBA. Aproximadamente 98% do volume adquirido pelo Brasil do ativo advém da Rússia, de 1 milhão a 1,5 milhão de toneladas importadas anualmente. Há outras alternativas de abastecimento, que também tendem a ficar mais caras em virtude das restrições, avalia a instituição financeira. A expectativa é que o volume comprado pelo País, por não ser significativo, seja suprido pela cota. "As cotas tendem a abranger o volume atual de compras do Brasil. Um eventual aumento de aquisições, por maior aplicação ou expansão de área, não estaria incluso", observou Bellotti.

Ele descarta, contudo, a hipótese de desabastecimento destes macronutrientes. "A preocupação maior é com os custos de produção do que com a disponibilidade dos produtos. Acreditamos que teremos preços mais elevados, o que em algum momento pode abrir espaço para que produtores reduzam adubação", comentou. As culturas que utilizam nitrogenados, contudo, são mais sensíveis a uma possível menor aplicação dos insumos. "Eles não se fixam muito no solo, o que pode resultar, com redução, em pequeno recuo no potencial produtivo", explicou Bellotti. Em fosfatados e potássicos, contudo, a medida pode ser adotada com maior facilidade sem prejuízos à produtividade já que estes nutrientes têm maior absorção no solo.

De acordo com ele, as incertezas passam também pela precificação dos insumos, com misturadoras e indústrias tendo dificuldade de estabelecer o preço e fixar o valor das compras futuras dos agricultores. "Há muitas incertezas sobre quanto será o preço do macronutriente no próximo ano. Com isso, o mercado deve rodar um pouco mais tarde para a próxima safra. A tendência é se aproximar da próxima safra com mais incertezas em relação à aquisição de adubos", afirmou.

Contato: isadora.duarte@estadao.com
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