Agronegócios
25/06/2018 10:26

Perspectiva: mercado de grãos acompanha clima nos Estados Unidos


São Paulo, 25/06/2018 - Investidores dos mercados futuros de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) começam a semana com foco na tensão entre os Estados Unidos e seus parceiros comerciais e nas condições climáticas em áreas produtoras norte-americanas. Traders ajustam posições ainda para os relatórios de área plantada e estoques trimestrais que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgará no fim desta semana.

Na sexta-feira, os futuros de soja fecharam em alta na CBOT, se recuperando das perdas recentes. O vencimento julho subiu 14 cents (1,59%) e terminou a US$ 8,9450/bushel. Na semana, contudo, o contrato acumulou queda de 1,21%. Segundo a analista Ana Luiza Lodi, da INTL FCStone, a falta de novidades sobre a guerra comercial contribuiu para a reação das cotações no fim da semana passada. "Como a soja caiu bastante na semana, abriu espaço para alguma recuperação", afirmou. A oleaginosa vinha sendo pressionada pela escalada na disputa entre Estados Unidos e China. Mas alguns analistas disseram que as tarifas ameaçadas pela China sobre a oleaginosa norte-americana já podem estar embutidas nos preços, criando espaço para uma recuperação. Para esta semana, o mercado aguarda novidades se as sucessivas ameaças de taxas vão ou não ser colocadas em prática. "Não tivemos mais comentários de fontes oficiais nem no sentido de confirmar um maior número de produtos taxados nem no sentido de afirmar se há negociação para um acordo que evite as tarifas", apontou Ana Luiza. "Como o dia 6 de julho, quando as tarifas estão previstas para entrar em vigor, está chegando, investidores estão de olho em algum novo ponto dessa guerra comercial."

O mercado também foi sustentado pela expectativa de condições climáticas desfavoráveis às lavouras nos EUA. Segundo o serviço meteorológico DTN, a previsão era de clima mais seco e quente no Meio-Oeste entre o fim de junho e o começo de julho. Essa projeção despertou temores porque no início do mês que vem a soja entra em fase de floração. Conforme Ana Luiza, temperaturas mais altas no cinturão produtor poderiam gerar estresse para as lavouras, mas por enquanto não se trata de uma ameaça grave. A analista ressaltou que o estágio de enchimento de grãos, quando a soja mais necessita de condições ideais, deve ocorrer no fim de julho e começo de agosto.

Na próxima sexta-feira, o USDA divulga os relatórios de área plantada e estoques trimestrais. Existe uma expectativa de que o plantio de soja nos EUA seja maior do que o estimado pelo governo norte-americano no relatório de intenções de plantio de março, de 89,0 milhões de acres (36,02 milhões de hectares). "No geral, o mercado ainda aposta que a soja possa ter ganhado um pouco de área", disse a analista, citando os atrasos na semeadura do trigo de primavera que teriam provocado migração para soja e milho.

O milho terminou em alta na CBOT na sexta-feira, sustentado por anúncios de vendas dos EUA e pela perspectiva de clima mais seco e quente em regiões produtoras do país. O vencimento julho subiu 0,25 cents (0,07%) e terminou a US$ 3,57/bushel. Na semana, o contrato recuou 1,18%. O USDA informou na sexta-feira que exportadores norte-americanos venderam 131,3 mil toneladas de milho para o México. Do total, 30 mil toneladas têm entrega prevista para 2017/18 e outros 101,3 mil toneladas durante o ano comercial de 2018/19. Também foram reportadas vendas de 177 mil toneladas de milho para o Panamá em 2018/19. Contudo, há preocupações com o ritmo mais lento das vendas norte-americanas em junho mesmo após a queda das cotações do cereal na CBOT. Participantes temem que a tensão entre o governo dos EUA e parceiros comerciais esteja limitando a demanda por produto do país e que mais tarifas sejam impostas sobre os produtos agrícolas norte-americanos.

Os futuros também foram sustentados pela previsão de clima mais quente e seco no Meio-Oeste dos EUA, condições desfavoráveis ao desenvolvimento das lavouras. No início de julho, o milho entra em polinização. Os ganhos foram limitados pelas perdas do trigo. Os dois cereais são substitutos em ração animal e costumam se movimentar na mesma direção.

Os futuros de trigo fecharam em queda na sexta-feira em Chicago, com um movimento de embolso de lucros após as altas na sessão anterior. O mercado havia sido sustentado na quinta-feira pelo clima quente e seco em partes da Ucrânia e da Rússia, que pode comprometer a produtividade do trigo. Dois terços da região sul da Rússia estavam recebendo chuvas esparsas e com altas temperaturas, o que mantém o estresse das lavouras. Nos EUA, conforme o serviço meteorológico DTN, as condições no norte das Grandes Planícies são favoráveis para o desenvolvimento do trigo de primavera. No sul da mesma região, algumas áreas devem ter chuvas, o que atrapalha a colheita do trigo de inverno. Na CBOT, o trigo para julho caiu 4 cents (0,81%) e fechou em US$ 4,9125 por bushel. Na semana, a queda foi de 1,65%.

Café: contratos caem 0,5% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de cerca de 0,5% (60 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base julho de 2018. As cotações encerraram na sexta-feira (22), a 116,95 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 118,10 cents (segunda, dia 18) e mínima de 114,95 cents (terça, dia 19).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que o mercado físico brasileiro apresentou mais uma semana calma, com volume baixo de negócios fechados. Foram principalmente lotes da nova safra, de qualidade mediana, com quebra no preparo entre 30 e 40%, vendidos por produtores que precisaram de caixa para fazer frente às despesas de colheita. Conforme Carvalhaes, o real se desvalorizou frente ao dólar na semana passada e as cotações do café oscilaram entre pequenas baixas e altas.

A longa greve dos caminhoneiros, apesar de terminada, continua dificultando os negócios. "Os fretes subiram e preocupam um setor que já teve seus custos bastante afetados pela alta do dólar que influencia os preços dos insumos e dos combustíveis", diz Carvalhaes.

O inverno brasileiro começou na quinta-feira passada (21) trazendo a tradicional preocupação com as ondas de frio sobre os cafezais do sudeste brasileiro. Além disso, "a confusa situação política e econômica brasileira às vésperas das eleições deste ano e as tensões na economia mundial, com a guerra comercial deflagrada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que já afeta o crescimento da economia dos países desenvolvidos, levam os cafeicultores brasileiros a venderem com muita moderação e apenas o necessário para fazer frente às despesas mais próximas", conclui Carvalhaes.

Açúcar: mercado deve tentar avançar acima de 12,50 cents
O mercado do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) tenta romper a primeira resistência dos 12,50 cents por libra-peso no contrato outubro, com o cenário favorável do petróleo e a série de revisões para baixo na perspectiva de oferta do Centro-Sul do Brasil em 2018/2019. Na sexta-feira, após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e grandes produtores anunciarem aumento menor do que o previsto na oferta, o óleo disparou e puxou o açúcar. O outubro fechou em alta de 20 pontos, ou 1,64%, a 12,41 cents.

Além dos 12,50 cents, máxima de sexta-feira, o outubro tem resistência em 12,78 cents, pico de 14 de junho. Os suportes estão em 12,21 cents, 12,10 cents e 11,97 cents. Além da recuperação do petróleo, que favorece maior demanda por etanol e menor pelo açúcar, no físico o Brasil atua como limitador para novas baixas nos futuros do adoçante, com os impactos da estiagem e a prioridade máxima pelo biocombustível na safra 2018/2019.

Em evento para fornecedores em Ribeirão Preto (SP), Dorothea Soule, diretora comercial e de originação da Biosev, estimou um mix de destino da cana para o açúcar no Centro-Sul na safra 2018/2019 em apenas 37,3%, ante 46% em 2017/2018. Com isso, a oferta de açúcar na atual safra na região será de 28,1 milhões de toneladas, ante 36,06 milhões de toneladas em 2017/2018.

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
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