Agronegócios
19/02/2021 09:15

Especial/Máquinas Agrícolas: Indústria vê 'avalanche de custos' e faz reajustes de mais de 20%


Por Clarice Couto

São Paulo, 19/02/2021 - A valorização do aço no mercado internacional, combinada com a firme apreciação do dólar em relação ao real, vem obrigando a indústria de máquinas agrícolas a fazer reajustes superiores a 20% nos preços finais, segundo executivos do setor. Novos aumentos não estão descartados na medida em que siderúrgicas nacionais seguem reportando altas nos valores cobrados de clientes pelo aço.

"Temos recebido sucessivas solicitações de reajuste. A indústria não tem outra alternativa a não ser repassar isso para seus preços", disse ao Broadcast Agro o presidente da AGCO América do Sul, Luis Felli. A AGCO é um dos três maiores grupos de maquinário agrícola presentes no Brasil. "Já fizemos reajustes de preços e estamos fazendo mais", informou o executivo.

Felli estima que o mercado de máquinas agrícolas em geral tenha elevado os valores de seus produtos em cerca de 20% desde meados do ano passado, de forma gradual. Nesta conta está a valorização cambial, já que o aço é cotado em dólar, mas as compras feitas de siderúrgicas nacionais são realizadas em real. Parte dos componentes das máquinas também é importado. De modo geral, ao menos metade dos peças são produzidas nacionalmente, para atender a exigências do BNDES para financiar as máquinas. Mas Felli explica que máquinas com componentes importados de alta tecnologia tendem a subir mais rápido do que as de menor tecnologia.

O presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq (CSMIA), Pedro Estevão Bastos de Oliveira, considera que o aumento dos preços de maquinário pode ter chegado a 40% em alguns casos e, ainda assim, não refletiu toda a alta de custos das empresas. Segundo Oliveira, desde o fim de 2019 o aço se valorizou em torno de 90% no mercado internacional, ao mesmo tempo em que o dólar também passou por forte valorização - 25%, aproximadamente, conforme dados do Broadcast.

"O repasse foi feito pela indústria a partir de julho e foi necessário porque é muito grande a diferença (de preços). Mas as empresas ainda não estão repassando tudo, muitas não fizeram isso, porque o mercado de máquinas agrícolas é muito competitivo e há uma disputa grande por share (participação)", afirma Oliveira. A Câmara reúne mais de 400 fabricantes de maquinário para preparo do solo, plantio, trato cultural, colheita e pós-colheita, criação de animais, tratores, estruturas para armazenagem de grãos, peças e componentes.

Na New Holland, marca de maquinário agrícola da CNH Industrial, concorrente da AGCO, poucos reajustes foram feitos até o momento, mas a companhia está finalizando um estudo para definir como e quando repassar os sucessivos aumentos do aço e do câmbio. "Estamos absorvendo esse custo maior, o que diminui a nossa rentabilidade. Tiveram alguns aumentos por causa do câmbio, mas nem perto da valorização total do dólar", disse o diretor de Marketing Comercial da New Holland Agriculture para a América do Sul, Gustavo Taniguchi.

Ele conta que a empresa fez os reajustes anuais de praxe na indústria, considerando inflação e custos de produção, em linha com os praticados em anos anteriores. "Quase todas as empresas fizeram aumentos no terceiro trimestre", disse. Novas altas nos valores cobrados pelo aço neste ano estão sendo considerados no estudo em curso na companhia.

Aço

Só em 2021, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) anunciou dois acréscimos, de 10% no início de janeiro e outro de 15%. Fontes do mercado informaram, além disso, que Usiminas e Gerdau seguem na mesma direção. As altas são sustentadas por uma série de fatores: valorização da commodity no mercado internacional, aquecimento do mercado brasileiro em construção civil, linha branca, veículos, implementos agrícolas e rodoviários e embalagens metálicas. Há também pressão pela alta dos custos das siderúrgicas, com avanços nos preços do minério de ferro, carvão e coque.

Felli, da AGCO, lembra que não foram só os custos com aço que subiram. A alta do petróleo no mercado internacional também afeta a indústria, já que os preços de outras matérias-primas usadas na produção de maquinário, como plástico e borracha dos pneus, são influenciados pelas cotações do combustível. "Viemos de uma avalanche de aumentos do custo. A demanda estava represada (por causa da pandemia de covid-19) e agora o mercado global está sendo retomado", argumentou o executivo.

Contato: clarice.couto@estadao.com
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