Agronegócios
06/01/2022 15:08

Especial/Fertilizantes: no Brasil, preços dos adubos tendem a continuar elevados com dólar apreciado


Por Isadora Duarte

São Paulo, 06/01/2022 - Os preços pagos pelos fertilizantes no Brasil tendem a continuar elevados em 2022, segundo analistas de mercado ouvidos pelo Broadcast Agro. Uma eventual queda nas cotações internacionais, prevista para o segundo semestre do ano, poderá ser anulada pela valorização do dólar ante o real, o que encarece os insumos majoritariamente importados. "No Brasil, os preços devem continuar elevados por conta do dólar. O cenário para este ano, com eleições, traz bastante incerteza cambial e as projeções apontam que o dólar não deve ceder da casa dos R$ 5,60, o que traz impacto às cotações locais", disse o analista de Insumos do Rabobank, Bruno Fonseca.

Para Fonseca, uma retração dos preços interno do insumo importado não pode ser descartada, a depender dos fundamentos de mercado ao longo deste primeiro semestre. Contudo, se ocorrer, será menor do que a baixa prevista para as cotações internacionais. A mesma leitura é feita pelo gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti. "Saímos de 2021 com real desvalorizado e será um ano de muita volatilidade cambial. Caso o período de aquisição de insumos coincida com dólar mais forte ante o real, esse movimento pode amortecer uma possível queda dos preços lá fora", disse Bellotti.

Ele pondera, entretanto, que a alta das cotações encontra um teto na demanda, que não absorve integralmente o aumento contínuo dos preços. "As relações de troca, quantidade de determinado grão necessária para compra de uma tonelada de adubo, estão nos piores patamares dos últimos anos, o que limita a alta", avaliou Bellotti.

Em 2021, os principais nutrientes importados registraram alta expressiva nos valores indicados nos portos brasileiros. Dados do Rabobank apontam que o valor de importação da ureia - referência para preço de nitrogenados - colocada em porto brasileiro aumentou mais de 195% no ano (janeiro a dezembro), encerrando o ano em aproximadamente US$ 820 por tonelada. O fosfato monoamônico (MAP) avançou cerca de 109% no acumulado do ano, para US$ 860 por tonelada. O cloreto de potássio (KCl) subiu 22% na mesma base comparativa, alcançando US$ 790 por tonelada em dezembro.

Diretor executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), entidade que representa a indústria brasileira de fertilizantes, Ricardo Tortorella avalia que os preços elevados são uma consequência do crescimento global da demanda, que não foi acompanhado pela elevação da oferta na mesma proporção. Mas ele destaca que o dólar estará favorável às exportações das commodities agrícolas, mantendo a rentabilidade dos agricultores. "Sabemos que o câmbio deve ficar instável até a eleição, o que influencia tanto no nosso negócio quanto nos preços mais rentáveis na venda dos grãos para o agricultor. O produtor vai fazer as contas para importar adubo e vender commodity em dólar. Para exportação, câmbio forte é bom sinal de rentabilidade, mas traz entendimento ao mercado de que preços dos adubos devam permanecer altos por mais um período", comentou.

O Brasil importa cerca de 85% do volume de adubos consumido anualmente nas plantações - cerca de 40 milhões de toneladas - e, por isso, as cotações locais estão sujeitas às oscilações internacionais e ao câmbio. A avaliação dos analistas é de que o consumo global de adubos deva se desacelerar. Já a conjuntura apertada de oferta permanece no radar do mercado internacional. Os principais drivers de oferta no primeiro semestre deste ano, segundo os analistas, serão a implantação da cota russa para exportação de nitrogenados, a permanência das restrições chinesas nas vendas externas de adubos, as sanções norte-americanas e europeias à Belarus.

No mercado internacional , a perspectiva é de manutenção das cotações elevadas no primeiro trimestre deste ano, com acomodação dos preços no segundo trimestre e tendência de arrefecimento nos preços do complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio - principais macronutrientes) a partir do segundo semestre. "Esse primeiro período do ano, até a metade do primeiro semestre, será um período de maior restrição na oferta e maior demanda com compras dos produtores do Hemisfério Norte. Na segunda metade do ano, prevemos alívio nos fatores de abastecimento que limitam a retração, o que forneceria condição para a queda dos preços", afirmou Fonseca.

Entre os fatores que podem melhorar a partir do segundo semestre e contribuir para aumento da oferta, ele citou o fim da cota russa para exportações de nitrogenados e um retorno da produção industrial da China após a crise energética. "A oferta não retomará ainda ao patamar pré-covid, mas indica um cenário de maior alívio ainda dependendo destes fatores que irão se desenrolar", comentou.

Fonseca acrescenta que os fortes preços internacionais esperados para o primeiro semestre deste ano devem ser sentidos primeiro pelos produtores norte-americanos, que plantam a safra de grãos 22/23 à frente dos brasileiros e estão na janela de compra de adubos. Dessa forma, os Estados Unidos devem ser afetados em maior grau pela manutenção de preços na primeira metade do ano. "Uma eventual diminuição na compra norte-americana provavelmente poderia ser mais um fator de pressão no mercado, mas os principais fatores que direcionarão os preços para as aquisições brasileiras no segundo semestre são os relacionados à produção", avaliou.

Bellotti, do BBA, observa que o espaço para a queda dos preços internacionais é "pequeno". "Esperamos que a oferta fique menos pressionada com a normalização do uso de energia para produção dos adubos e uma alta não tão considerável da demanda. Devemos ter um balanço entre oferta e demanda um pouco mais equilibrado a partir de fevereiro, mas o custo de produção dos fertilizantes ainda estará muito elevado, o que contribui para manter os preços", justificou. Outro ponto que pode frear essa baixa das cotações é o fato de após o fim da janela de compras do Hemisfério Norte ser prosseguido pelo período de aquisição da América do Sul, sustentando a demanda.

"A tendência é de termos uma redução na preocupação com disponibilidade, mas não significa queda tão grande de preços", reiterou, ponderando que o recrudescimento da pandemia de covid-19, embora possa não afetar novamente a oferta de adubos, traz um alerta a possíveis atrasos globais na logística de entrega dos insumos.

Já na avaliação do diretor de Fertilizantes da consultoria StoneX, Marcelo Mello, a perspectiva é de acomodação e arrefecimento nos preços dos nitrogenados e fosfatados, contudo, para os potássicos, o cenário ainda é de manutenção dos preços elevados após o endurecimento das sanções norte-americanas e europeias a fornecedores de KCl belarussos. "Acreditamos que, em meados de abril e maio deste ano, possamos ter recuos importantes nos preços de nitrogênio e fósforo. Para o potássio, a projeção era de queda mais branda, mas, com os embargos mais recentes, não há chance de queda desde que as sanções americanas realmente interrompam o fluxo significativo de exportações belarussas", apontou Mello, mencionando que Belarus responde por 20% do mercado global do macronutriente.

No início de dezembro, algumas sanções entraram em vigor, incluindo a proibição de negócios entre empresas dos Estados Unidos e a estatal belarussa Belaruskali, produtora de potássio. Outras, contudo, passam a ser válidas a partir de 1º de abril, incluindo embargos à estatal Belarusian Potash Company (BPC), comercializadora do insumo e responsável pela maior parte das exportações de Kcl do país. "É uma situação séria. Há risco concreto de desabastecimento, se a sanção realmente interromper o fluxo belarrusso de exportação, porque o volume é muito grande", comentou Mello.

Contato: isadora.duarte@estadao.com
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