Por Marcela Guimarães
São Paulo, 20/11/2020 - O trigo da Austrália pode alterar o quadro atual de exportações, com o país prestes a dobrar para cerca de 29 milhões de toneladas sua produção, afirma o banco alemão Commerzbank. Isso significaria potencial para também dobrar as exportações australianas do cereal, para 19 milhões de toneladas em 2020/21, como apontou o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
"Se o trigo australiano se tornar competitivo na Ásia no início de 2021, a demanda pelo cereal russo poderá diminuir. Isso torna menos provável a escassez na Rússia, ou a commodity russa pode ser canalizada para regiões geograficamente mais próximas da União Europeia (UE)", afirma a analista de commodities agrícolas do banco, Michaela Kühl, em comentário diário enviado a clientes.
"Isso pode ter um impacto direto sobre a UE, já que a China é um bom cliente - e ainda mais este ano", reforça a analista do banco alemão. Em uma base cumulativa, do início da safra em julho até meados de novembro, a China comprou 1,15 milhão de toneladas de trigo mole, representando 13,5% das exportações da UE, tornando-se o segundo comprador depois da Argélia, que comprou 1,66 milhão de toneladas.
No entanto, não está claro se a Austrália conseguirá ampliar o mercado. Por um lado, consumidores tradicionais, como a Indonésia, consolidaram suas relações comerciais na região do Mar Negro. Além disso, existem disputas políticas com a China, sobre questões como a origem da pandemia do novo coronavírus.
Há, ainda, acusações contra fornecedores australianos de cevada, que estariam praticando dumping, aponta Michaela Kühl. "A China já parou de importar vários produtos australianos e o trigo poderá ser o próximo em breve, de acordo com relatos da mídia local", completa.
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