Agronegócios
07/01/2022 14:56

Especial/Trigo: alta do custo de produção pode frear investimentos no plantio 2022


Por Isadora Duarte

São Paulo, 07/01/2022 - O aumento do custo de produção, dados os elevados preços dos insumos, será um fator decisivo para a safra de trigo deste ano, segundo fontes ouvidas pelo Broadcast Agro. Os preços do cereal, que subiram quase 30% no ano passado, tendem a continuar atrativos, mas o alto investimento na cultura, de risco elevado, pesa sobre a rentabilidade do grão. "A área a ser cultivada vai depender diretamente do custo dos insumos até meados de março. Será uma safra mais cara, mas os preços tendem a continuar interessantes com dólar forte ante o real", aponta o gerente sênior de Risco de Grãos e Algodão da consultoria Hedge Point, Roberto Sandoli. Neste momento em que produtores estão focados no desenvolvimento da safra de verão, a perspectiva é de manutenção da área plantada. Contudo, o desempenho das lavouras de soja e milho verão, que registram perdas pelo tempo quente e seco, também vai se refletir na capitalização dos agricultores e no potencial de investimento para a cultura de inverno.

Trigo: preço deve continuar atrativo em 2022, mas safra será mais cara

Foto: Divulgação/Biotrop

O Paraná, que tem no milho safrinha alternativa de plantio no inverno no norte e oeste do Estado, pode destinar ao cereal algumas áreas que seriam cobertas com trigo. Já Rio Grande do Sul, sem a mesma alternativa, deve manter o tamanho da lavoura após anos de aumento de área, segundo análise das fontes. No País, a semeadura começa no início de março, por São Paulo, e segue depois com o Paraná e o Rio Grande do Sul, onde os trabalhos encerram em julho. Na safra 2020/21, foram semeados 2,715 milhões de hectares com trigo no País e colhidos 7,689 milhões de toneladas, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

No Paraná, a quebra de 20% na safra 2020/21, decorrente do clima desfavorável que levou o Estado a perder o posto de maior produtor nacional para o Rio Grande do Sul, também desestimula o plantio, conforme as fontes. Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Paraná, a colheita no Estado em 2021 foi de 3,22 milhões de toneladas de trigo em uma área de 1,224 milhão de hectares. O analista de trigo do Deral, Hugo Godinho, diz que a competitividade do cereal nacional parecia ser um fator que o produtor levaria em consideração no planejamento do ciclo deste ano, mas a frustração da safra e a alta dos insumos, especialmente de adubos, "apertam as margens de rentabilidade e inviabilizam o aumento de área", acredita. " A retração das margens dificulta o aumento de área", observa. Segundo ele, hoje, mesmo com as cotações sustentadas, o produtor teria prejuízo na compra de pacote tecnológico para as lavouras.

O Deral estima que o custo variável de cultivar trigo no Paraná em 2022 deve ultrapassar, pela primeira vez, os R$ 4 mil por hectare. Assim, milho de segunda safra, que tem menor custo e maior produtividade, se torna mais vantajoso em algumas regiões, podendo ocupar áreas que tradicionalmente seriam destinadas ao trigo. "Para que o plantio de trigo seja vantajoso financeiramente, este precisaria ter preço de mercado pelo menos 70% superior ao do milho. O teto de rendimento do trigo é de 5 toneladas por hectare, enquanto o milho pode chegar a 13 toneladas por hectare", menciona Godinho. Hoje, o trigo é cotado no Paraná por R$ 89,15 por saca de 60 kg, enquanto o milho é negociado a R$ 87,94 por saca, segundo dados diários do Deral.

O técnico acrescenta que se a colheita da soja 2021/22 ocorrer dentro do período ideal, garantindo janela adequada de semeadura do milho safrinha, também influenciará na decisão de plantio dos triticultores paranaenses, com conversão de área para o milho. "Hoje, a tendência é de estabilidade a leve redução na área plantada", diz Godinho.

Em contrapartida, o Rio Grande do Sul tende a manter a área plantada. O Estado, que pelas características climáticas não tem como substituir o trigo no inverno, ainda comemora os bons resultados com a safra passada, de 3,406 milhões de toneladas em 1,777 milhão de hectares, segundo dados da Emater/RS-Ascar. Entretanto, os custos elevados de produção também são um impasse para o investimento no cultivo do cereal, alerta o vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Guterres Jardim. "Os preços (do cereal) estão cerca de 30% acima da safra passada com tendência de alta, o que seria atrativo, mas o produtor vai encarar um aumento violento no custo dos insumos. A grande preocupação é como ele vai administrar esses custos elevados para semear a próxima safra" aponta Jardim.

O dirigente destaca que a expectativa de dólar forte ante o real, que encarece os insumos importados, agrava a conjuntura, podendo travar o investimento. Até o momento, a Farsul projeta pelo menos estabilidade na área plantada. A manutenção deve-se também, segundo Hamilton, à necessidade de rotação de culturas dentro do sistema de plantio direto e da relevância do cultivo do cereal para a saúde do solo.

A maior incógnita, segundo Jardim, é qual será a margem de rentabilidade do cultivo. "A lucratividade vinha aumentando há vários anos, com preços quase estáveis de insumos e aumento no valor recebido pelo grão. Agora, produtor está vendo que a margem vai diminuir", afirma Jardim. As perdas com soja e milho, que estão no campo, também preocupam. "O alto investimento na safra passada foi possibilitado pela capitalização do produtor com grãos de verão 20/21, que o levou a apostar na cultura de inverno que tem risco elevado. Nesta safra, se ele tiver lucro menor com a safra de verão, somado ao custo maior das lavouras de inverno, ficará desestimulado a ampliar o cultivo de inverno", explica Jardim, que também preside a Câmara Setorial das Culturas de Inverno do Ministério da Agricultura.

O mesmo cenário é observado pela cooperativa Capal, que atua no Paraná e em São Paulo. A Capal prevê a mesma área plantada com trigo em 2022 ou um leve crescimento. Ainda assim, o presidente executivo da cooperativa, Adilson Fuga, enfatiza: "Mesmo com os preços atrativos na lavoura passada, os insumos subiram muito." Segundo ele, na safra 2020/21, a cooperativa recebeu 155 mil toneladas de trigo de seus produtores cooperados - mesmo volume do ciclo 2019/20. "Havia expectativa de quebra de 30% (devido ao clima adverso) que não se concretizou. Tivemos apenas alguns problemas de qualidade", conta. "Recebemos volumes bem expressivos e a comercialização da commodity tem sido bem interessante, com preço entre R$ 1.600 e R$ 1.700 por tonelada", informa Fuga.

Contato: isadora.duarte@estadao.com
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