Por Juliana Garçon
Rio, 10/10/2022 - A exemplo do banco Inter, que migrou da B3 para a Nasdaq, outras companhias consideram a hipótese de transferência do local de listagem, como projeto de longo prazo. “Estamos estudando os casos de três companhias, que são dos setores financeiro, de tecnologia e do agronegócio, que é uma exportadora global”, diz Thiago Giantomassi, sócio de M&A e mercado de capitais do Demarest, escritório que assessorou o Inter.
De acordo com o advogado, uma empresa procurou o escritório no fim de 2021, quando a operação do Inter enfrentou entraves regulatórios. “Estamos conversando de lá para cá”, afirma Giantomassi. Para ele, a solução proporcionada ao Inter - com reorganização societária e diferentes opções para os acionistas minoritários - pode ser interessante para outras companhias.
“Outra empresa manifestou publicamente interesse em fazer a migração e tivemos uma atitude proativa para buscá-la", diz. "Uma terceira empresa é cliente de um banco de investimento que vem monitorando o potencial dessas operações de IPO no exterior e fez a aproximação.”
No escritório Pinheiro Neto também surgiram sondagens, feitas por companhias do setor de tecnologia negócios globais, para as quais a mudança de sede para um mercado mais central pode fazer sentido, de acordo com Henrique Lang, sócio da área de mercado de capitais. “Tivemos sondagens no escritório e ainda estamos para ver o que as conversas renderão”, afirmou, para ponderar. “Mas não esperamos ver uma avalanche de empresas migrando. O mais importante é observar se é a melhor solução para a companhia.”
Para ele, o voo do Inter, que contou ainda com dispensas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) relacionadas ao programa de BDRs, é um bom precedente. “O colegiado atual mostrou que é sensível a demandas de mercado e acredito que vai olhar para futuros projetos com uma visão de mais abertura”, avalia.
“A operação do Inter abriu precedente pois foi a primeira e até agora ninguém sabia ao certo como fazer essa migração, que não é simples”, avalia Carlos Lobo, sócio do escritório americano Hughes Hubbard & Reed LLP.
Mas a interpretação não é unânime. Ana Paula Reis, sócia do BMA Advogados, não acredita que a transferência do Inter vá gerar precedentes. “É caso a caso. Empresas listadas aqui podem captar lá fora com ADRs. O mercado ainda vai amadurecer e entender para quem isso faz sentido.”
Fabio Coelho, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), reforça o olhar conservador. “Pode fazer sentido para um grupo restrito de empresas”, diz, lembrando que o apetite por grandes emissões já esteve maior. “Falou-se muito em transferências num momento da pandemia em que as empresas estavam fazendo abertura de capital e eventualmente poderiam obter um valuation melhor, com mais investidores ligados ao setor. Hoje, neste pós-pandemia, não há grande apetite por emissões e novas listagens”, conclui.
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