Economia & Mercados
16/09/2020 16:34

Especial: BoJ deve manter política monetária, com expectativa de Suga não alterar "Abeconomics"


Por Matheus Andrade

São Paulo, 15/09/2020 - O Banco do Japão (BoJ) deve anunciar na madrugada de hoje para amanhã a manutenção de sua política monetária, com juros em -0,10% ao ano, segundo previsão da grande maioria dos analistas. A escolha de Yoshihide Suga para substituir Shinzo Abe como primeiro-ministro japonês não provocará mudança de rota econômica, dizem os economistas, que apostam na continuidade do "Abeconomics".

"Esperamos que o BoJ mantenha sua política de -0,10% na taxa de equilíbrio e a meta de rendimento de dez anos de perto de zero na reunião", já que "a recuperação continua longe de ser segura", afirma a Pantheon Macroeconomics. Com a retomada econômica mostrando sinais de "protelar", a consultoria afirma que não espera que haja mudanças significativas na política monetária antes de seis meses do novo comando. A avaliação é semelhante a do Danske Bank, que diz esperar a manutenção do atual relaxamento quantitativo (QE), com o controle da curva de juros sem mudanças.

Segundo a Capital Economics, "os políticos têm uma influência maior na política monetária no Japão do que em outras economias avançadas", no entanto, a consultoria também não prevê nenhuma "diferença imediata" para o BoJ. Para o BBH, "nenhuma mudança na política é esperada" na próxima reunião. Sobre os relatórios econômicos a serem apresentados, a instituição avalia que o BoJ pode atualizar sua avaliação econômica mensal, e "provavelmente sinalizar" que a economia não está mais na situação "extremamente severa" de julho, ao invés de sugerir "uma recuperação robusta".

"Dado que uma mudança no primeiro-ministro não abalou os mercados, é improvável que o iene tome muita liderança na reunião de política do BoJ desta semana", avalia o Rabobank. O banco não acredita na possibilidade de o BoJ seguir uma política como a do Federal Reserve (Fed), em anunciar que estaria preparado para permitir que a inflação ultrapasse a meta, e lembra que o banco central japonês "nunca atingiu sua meta de inflação e o aumento da folga da economia não ajudará nessa causa".

O JPMorgan indica que Suga manterá o relacionamento atual com o BoJ, e avalia que o banco não deve mudar sua "postura política durante o restante do mandato" do atual presidente, Haruhiko Kuroda, que vai até abril de 2023. "Na política fiscal, Suga parece favorecer os gastos para impulsionar o crescimento antes de se voltar para a consolidação fiscal, um princípio básico do Abeconomics", analisa o JPMorgan. O HFE converge na análise, e completa afirmando que abandonar as atuais políticas monetárias seria uma "derrota", e que Kuroda não "está pronto para se demitir".

O BoJ poderia seguir o Banco Central Europeu (BCE) na tentativa de enfraquecer sua moeda com comentários específicos, já que ficou sem espaço para aliviar a política monetária e aumentar a inflação, afirma o Commerzbank. A situação poderia ocorrer em caso de uma forte valorização no iene. Após o discurso de posse de Suga nesta quarta-feira, a moeda japonesa ganhou força, e atingiu seu maior valor frente ao dólar em dois meses.

No discurso, houve a esperada promessa de manutenção da política econômica de Abe, além de destaque para o emprego e a recuperação do impacto causado pela pandemia.

Em um panorama amplo, a Capital Economics avalia que há a possibilidade de Suga adotar uma política mais favorável a um aumento no salário mínimo e à imigração. A avaliação do Danske Bank também é a de uma política com "mais ênfase no desenvolvimento do mercado de trabalho". A longo prazo, a Capital Economics conclui que "as chances de um corte na taxa de juros do BoJ aumentaram ligeiramente agora que Suga está no comando".

Contato: matheusg.andrade@Estadão.com
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