Economia & Mercados
25/02/2022 15:33

Especial: Petróleo e alumínio disparam com conflito na Ucrânia - e minério pode ser o próximo


Por Wagner Gomes

São Paulo, 24/02/2022 - Ainda não se sabe como vai se configurar a crise provocada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia. Mas apesar do tempo, sanções e, principalmente, o preço das commodities ainda serem causaram incertezas, petróleo e alumínio já atingiram as máximas após o início da ofensiva militar nesta quinta-feira. Para especialistas, ainda não há certeza se o minério será impactado.

"Vemos que o minério de ferro depende mais da China do que da região de conflito. Siderurgia está mais ligada ao mercado interno e exportações. Assim, essas duas commodities, podem não ser impactadas de imediato. O problema seria no caso da economia brasileira passar por uma recessão neste e no próximo ano", diz Pedro Galdi, analista da Mirae Asset.

O preço do petróleo ultrapassou hoje, na máxima, US$ 100 o barril com a perspectiva de guerra no Leste Europeu interromper o fornecimento global de petróleo. No caso do alumínio, a cotação atingiu nesta quinta-feira o valor máximo histórico, a US$ 3.382,50 por tonelada. O novo recorde, registrado logo pela manhã, supera a marca anterior de US$ 3.380,15 a tonelada estabelecida em 11 de julho de 2008.

Segundo o mercado, a perspectiva é de novas altas do alumínio à medida que a tensão entre os dois países aumente. Os preços do metal já estavam sendo negociados em níveis elevados com os problemas geopolíticos de Rússia e Ucrânia e também com o confinamento provocado pela Covid-19 de uma cidade produtora na China, o maior país produtor de alumínio. Baise, a 100 km da fronteira com o Vietnã, é chamada de capital do alumínio no sul da China.

Petróleo

O presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Eberaldo Almeida, diz que o momento é de cautela, já que a volatilidade no preço do petróleo no pós pandemia pode piorar agora com a tensão geopolítica. Ele explica que a demanda por petróleo caiu bastante com a Covid-19, que afetou a mobilidade, e depois voltou com tudo sem ser acompanhada pela oferta, o que afetou os preços.

"Os investimentos em petróleo e gás vem caindo há algum tempo por conta das pressões com a transição energética. Quando o investimento cai a produção também declina. A oferta e a demanda estão descasadas desde meados de 2020. Às vezes a oferta toca na demanda, mas logo abre um gap. Isso sinaliza para quem está no mercado que existe demanda maior do que a oferta, o que faz os preços subirem. A situação pode piorar com mais esse fator geopolítico", explica.

A Rússia sempre está entre os três maiores produtores do mundo e assim como a Arábia Saudita é exportador de petróleo, jogando a oferta para o mercado e influenciando os preços. Os Estados Unidos são os maiores produtores mundiais, mas para atender a demanda interna acabam importando também - eles produzem 12 milhões de barris de petróleo e consomem 18 milhões de barris de petróleo.

Rodrigo Leão, coordenado do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), diz que é difícil prever o que irá acontecer no longo prazo, mas o cenário, com certeza, é de instabilidade com o conflito.

"A tendência é de alta. Grandes produtores não estão retaliando os russos, pelo menos por enquanto. E para esses países o aumento de preço é algo interessante", afirma.

Minério

Austrália, Brasil e China são os maiores produtores mundiais de minério de ferro. Assim, tudo o que acontece nessas regiões acabam influenciando os preços. Segundo analistas, a questão agora é se os preços também serão influenciados pela guerra, já que Rússia e Ucrânia também são produtores. Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, diz que o setor tem gargalos que podem piorar agora com o conflito no Leste Europeu. Ele lembra que BHP e Vale já tinham baixado o guidance para 2022, fazendo com que a oferta fosse menor do que a projetada para este ano.

"Existem gargalos. A situação ficou mais complicada logo no começo do ano quando os preços subiram com as chuvas que afetaram a produção no Brasil. Teve ainda a questão logística trazida pela covid, com os portos chineses trabalhando em circuito fechado e aumentando o prazo para os produtos chegarem. Rússia e Ucrânia também são produtoras de minério. Então a situação pode piorar", diz Arbetman.

O preço do minério de ferro negociado em Qingdao, na China, fechou praticamente estável, em leve alta de 0,14% nesta quinta-feira, 24, cotado a US$ 137,22 a tonelada. A commodity segue se acomodando em meio ao ambiente regulatório da China e a expectativas de aumento na demanda pelo material siderúrgico no país asiático no curto prazo. Segundo analistas do mercado, essa perspectiva pode dar suporte aos preços.

Contato: wagner.gomes@estadao.com
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