Economia & Mercados
12/05/2022 11:33

Especial: União entre Gol e Avianca reforça tendência de consolidação e pressiona a Latam


Por Juliana Estigarríbia

São Paulo, 11/05/2022 - O anúncio da criação de uma holding que irá controlar a Gol e a Avianca foi recebido pelo mercado de forma positiva, pelas sinergias que pode proporcionar e o potencial de expansão das rotas. O movimento reforça a tendência de consolidação do setor aéreo na América Latina e coloca pressão sobre a Latam, líder na região, que tenta sair do processo de Chapter 11 nos Estados Unidos (equivalente à recuperação judicial do Brasil) e vem recusando veementemente as ofensivas da Azul para uma fusão.

Avianca e Gol anunciaram nesta quarta-feira um acordo para a criação do grupo Abra, holding que irá controlar as duas empresas, que seguem com operações independentes. Segundo comunicado, alguns investidores financeiros da Gol se comprometeram a investir até US$ 350 milhões em ações da Abra após a conclusão do negócio, “fortalecendo ainda mais o balanço patrimonial e a posição de liquidez do grupo”. O fechamento da transação é esperado para ocorrer no segundo semestre de 2022, sujeito a condições e aprovações regulatórias.

A holding também deterá uma participação não controladora de 100% dos interesses econômicos nas operações da Viva na Colômbia e no Peru e um investimento em dívida conversível representando uma participação minoritária na Sky Airline (Chile). O novo grupo será co-controlado pelos irmãos Constantino, fundadores da Gol, e terá Constantino de Oliveira Junior como CEO.

Os analistas Stephen Trent e Filipe Nielsen, do Citi, escreveram em relatório que embora não haja mais detalhes neste momento, a proposta de fusão da Gol com a Avianca lança alguma luz sobre os possíveis próximos passos de tendências de fusões e aquisições de companhias aéreas sul-americanas. “A combinação proposta implica em ganhos substanciais para o setor, em termos de poder de precificação potencial, capilaridade de tráfego e atratividade de possíveis estabelecimentos de acordos comerciais conjuntos entre Estados Unidos e América do Sul.”

Em relatório do Bradesco BBI, os analistas Victor Mizusaki, André Ferreira e Pedro Fontana apontaram ainda que uma discussão importante será se esse acordo pode ou não levar a uma mudança na frota de aeronaves, já que a Gol opera com modelos Boeing e, as demais, Airbus.

Consolidação

Para além da operação em si, a proposta de fusão entre a Latam e a Azul deve voltar à mesa, uma vez que o grupo chileno é, hoje, líder na América Latina.

“O setor deve registrar novos movimentos de fusões e aquisições. O tema Azul e Latam tende a entrar no radar, até pelo fato de que Gol e Avianca irão criar grandes sinergias em países da América Latina, devendo ficar mais competitivas na região”, afirma o analista da Mirae Asset, Pedro Galdi.

Os analistas do BBI avaliam que a operação deve pressionar a Latam a responder ao acordo. “Isso significa que a fusão com a Azul pode vir à mesa”, disseram em relatório.

Para a Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata, na sigla em inglês), o horizonte pós-pandemia revela diferentes possibilidades para o mercado. “Enquanto nos recuperamos da crise da covid-19 e o mundo ganha novamente confiança para voar, podemos considerar diferentes cenários possíveis para o setor da aviação. Novas formas de cooperação ainda podem surgir, impulsionadas pela diminuição da cobertura pelas companhias aéreas, o que pode levar a parcerias que antes não seriam consideradas”, disse a entidade em nota.

O Citi lembrou no relatório que o acordo de compartilhamento de voos da United Airlines com a Azul termina em 26 de junho. “Com a Gol tendo recebido um investimento da American Airlines, por meio do prêmio pago por sua participação de 5% na brasileira, cresce a urgência de a United chegar a um acordo semelhante com a Azul”, disseram os analistas. Atualmente, a United detém 8% da Azul.

Chapter 11

Nesta quarta-feira, a Latam informou em comunicado ter obtido o apoio de “praticamente todos os credores para o seu plano de reorganização” após um acordo com os detentores de títulos emitidos no Chile, o Comitê Oficial de Credores (UCC), o grupo Ad Hoc de Credores (liderado por Sixth Street, Strategic Value Partners e Sculptor Capital) e os principais acionistas do grupo. A audiência de confirmação do plano está prevista para os dias 17 e 18 de maio, com meta de concluir o processo e sair do Chapter 11 no segundo semestre de 2022.

“O acordo beneficia todas as partes, atrai apoio da grande maioria dos credores ao plano e permitirá à Latam cumprir o seu objetivo de emergir do Chapter 11 dentro dos prazos estabelecidos e com uma posição mais competitiva do que no início da pandemia”, afirmou em nota o CEO Roberto Alvo.

Os discursos de Latam e Azul vêm se mantendo antagônicos desde o início das investidas da brasileira. De um lado, o grupo chileno defende que sairá mais forte do processo de Chapter 11. Já a Azul mantém a aposta de que a consolidação do mercado é uma tendência “saudável”. Procuradas, Latam e Azul disseram que não vão comentar o assunto.

Contato: juliana.estigarribia@estadao.com
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