Economia & Mercados
28/01/2022 18:22

Especial: procura recorde por vaga na Petrobras reflete desemprego e retomada dos investimentos


Por Fernanda Nunes

Rio, 28/01/2022 - Nunca antes a Petrobras atraiu o interesse de tantos profissionais em um concurso de contratação como neste ano. Um total de 212 mil pessoas vão competir por uma das 757 vagas abertas pela companhia. Tamanha procura reflete a dificuldade, atual, de se conseguir um emprego com carteira assinada e benefícios. É fruto também da retomada dos investimentos da empresa e da percepção de ingressantes no mercado de que trabalhar na estatal é uma oportunidade, passados anos de crise de imagem, decorrente da Operação Lava Jato.

Desde 2018, a Petrobras não realizava um processo seletivo. Do total de vagas oferecidas agora, 70% são para a área de engenharia. Quem entrar tem grande chance de trabalhar em projetos do pré-sal, que é, hoje, o carro-chefe da petrolífera. O concurso é para profissional júnior, já que a única exigência para participar é a graduação nas áreas de engenharia, geofísica, geologia, ciências de dados, análises de sistema, análise de comércio e suprimentos, análise de transporte marítimo, economia e administração.

“É claro que a disputa vai ser acirrada em qualquer concurso aberto hoje. Ainda mais para uma empresa sólida e com bom plano de carreira como a Petrobras”, afirma Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista especializado em mercado de trabalho e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Ele salienta que, desde 2015, a geração de emprego é puxada, principalmente, pelo esforço pessoal de manutenção da renda, num ambiente de escassez de vagas, e também pela abertura de postos em empresas sem o direito a carteira assinada. São os conhecidos trabalhadores por conta própria e sem carteira. De 2015 a 2021, 6,5 milhões pessoas ingressaram no mercado de trabalho dessa forma. Eles fazem parte da gama de profissionais que buscam se manter financeiramente num cenário de desemprego, como motoristas de aplicativos de viagem e eletricistas. No mesmo período, 3,9 milhões de vagas formais foram fechadas. Os números foram compilados por Barbosa Filho, a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na área de engenharia de petróleo e gás, o número de vagas formais caiu de 13,3 mil para 12,1 mil, de 2015 a 2020, última estatística anual do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho. Os homens ocupam 89% desses postos e ganham 20% a mais que as mulheres. Enquanto a média salarial de um engenheiro de petróleo e gás no Brasil é de R$ 25.238, a de uma engenheira é de R$ 20.997 (dados de 2020), de acordo com as estatísticas levantadas pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo e Gás Natural (Ineep), a pedido do Broadcast.

O salário pago ao profissional júnior que passar no concurso da Petrobras será de R$ 11,7 mil, o equivalente ao oferecido no concurso anterior da empresa, de 2018, após correção monetária.

“Com a reestruturação financeira da companhia, surge a pauta de oxigenação de pessoal, de contratação. São 757 vagas, frente a um efetivo de 38 mil empregados. São pouco menos de 2%. Então, não é uma recomposição do quadro de pessoal. É uma medida que, dada a saúde financeira que a Petrobras agora atingiu, possibilita fazer o que toda empresa faz”, afirma Juliano Loureiro, gerente executivo de Recursos Humanos da Petrobras.

Segundo ele, para oxigenar a companhia é preciso atrair pessoas com novos conhecimentos. Sua percepção é de que os jovens vão prevalecer entre os contratados, por conta do requisito exclusivo de graduação. “Vamos trazer, possivelmente, pessoas que são nativos digitais. A tecnologia já é presente nessa geração desde a infância”, diz Loureiro.

Para Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que ingressou na Petrobras no concurso de 2006 como técnico de segurança do trabalho, o concurso público é uma forma de universalizar o acesso aos quadros da Petrobras. Ele defende que a empresa abra vagas também na área técnica. “Muitos profissionais de nível técnico trabalham hoje, literalmente, no limite entre a vida e a morte devido ao baixo efetivo nas unidades operacionais”, avalia.

Contato: fernanda.nunes@estadao.com
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