Economia & Mercados
08/09/2021 09:16

Especial: Em busca de segurança, 1.600 empresas produzem a própria energia no País


Por Wagner Gomes

São Paulo, 03/09/2021 - Com a possibilidade de agravamento da crise hídrica, a autogeração de energia é uma medida de segurança e de garantia de preços menores. Quem não produz energia própria compra o insumo no mercado livre, que nem sempre tem preços atraentes. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), cerca de 1.600 empresas no País produzem a sua própria energia. No caso dos consumidores livres, aqueles que têm uma demanda mínima de 1,5 MW e podem contratar tanto energia convencional (hidrelétricas e termelétricas) quanto energia incentivada (fontes renováveis de energia como eólica, solar, biomassa e PCH), o número chega a 8.600.

A autogeração e a diversificação da matriz energética têm sido, desde a crise de 2001, uma maneira da indústria se precaver. No caso da indústria de alumínio, as empresas participaram de leilões de concessões de energia elétrica nas regiões Norte, Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que resultaram no aumento da participação de geração própria. Segundo a Associação Brasileira de Alumínio (Abal) esses investimentos foram importantes para o abastecimento do setor e o incremento da oferta de energia no País.

A indústria de alumínio também avançou em novas fontes renováveis, como eólica, fotovoltaica e de biomassa. Exemplos recentes são os investimentos anunciados em parques eólicos em Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

O setor aumentou também a utilização de metal reciclado. Hoje, do total de alumínio consumido no País, 56% vêm de reciclagem, que consome 5% da energia necessária à produção do alumínio primário. "Energia é um insumo vital para a indústria do alumínio. Na parte da operação, interrupções de energia por mais de três horas podem comprometer o funcionamento de um forno, por exemplo, ocasionando manutenção e, consequentemente, a paralisação da produção", diz a Abal.

Em um desligamento planejado, pode-se levar até uma semana para ajustes e resfriamento de um forno. No caminho inverso, a operação de religada pode consumir um mês, ou mais. O custo da operação pode inviabilizar o negócio. O preço médio da energia elétrica para a indústria do alumínio no País subiu 220%, entre 2001 e 2019, em dólar por MWh. Segundo a Abal, o Brasil tem a energia elétrica para fins industriais mais cara entre todos os grandes produtores de alumínio no mundo, o que vem paulatinamente comprometendo a competitividade do setor.

Preocupação no aço

Dentre as empresas de materiais básicos, as que terão mais impacto em uma possível escassez de energia estão as produtoras de aço. Segundo analistas do Credit Suisse, isso acontece porque as receitas derivam, principalmente, das vendas internas e os clientes industriais tendem a ter necessidades de eletricidade relativamente altas. De acordo com o analista Caio Ribeiro, ainda que haja maneiras de as siderúrgicas compensarem os cortes de produção, a demanda por aço seria mais negativamente impactada, em uma base relativa, do que a demanda por celulose, papel ou minério de ferro.

Em um encontro com analistas ontem, o vice-presidente da Gerdau, Marcos Eduardo Faraco Wahrhaftig, disse que a crise hídrica no Brasil é uma preocupação e a companhia está monitorando de perto a situação em todo o País desde o fim do terceiro trimestre de 2020. A siderúrgica está formando estoques para um cenário de maior estresse que venha ocorrer no fim deste ano e início do ano que vem.

"A crise hídrica é mais severa no Sudeste e menos severa no Nordeste e no Sul. Isso é importante porque temos instalações de produção em diversas partes do País e nos dá a possibilidade de deslocar a produção para onde for necessário, como já fizemos 6 ou 7 anos atrás", disse.

"Em nossos resultados no fim do segundo trimestre, nossos estoques estão subindo", afirmou. "É uma preparação para um cenário talvez pior do que o atual."

Geração própria maior em papel e celulose

Segundo a Associação Brasileira de Árvores (Ibá), o setor é responsável pela produção de 69% da energia que consome. Cerca de 90% vêm de fontes renováveis, como licor negro e biomassa florestal.

Os porcentuais de geração própria de energia eram bem menores 20 anos atrás. Na Klabin, a participação em 2001 era de 50%. Hoje, o destaque na produção de energia é a Unidade Puma, que usa biomassa.

Contato: wagner.gomes@estadao.com
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