Economia & Mercados
16/10/2020 15:40

Especial: bancos digitais e fintechs se preparam para ganhar dinheiro com Pix de olho em PJ


Por André Ítalo Rocha

São Paulo, 16/10/2020 - A um mês do início da operação do Pix, novo sistema de pagamentos que permitirá transações em menos de 10 segundos em qualquer dia da semana ou horário, os bancos digitais e as fintechs têm se preparado para ganhar dinheiro com produtos específicos para empresas, uma vez que não poderá ser cobrado nenhum tipo de tarifa para pessoas físicas ou microempreendedores individuais, de acordo com decisão do Banco Central (BC).

A principal fonte de receita tende a ser a terceirização do Pix. Um banco, por exemplo, que está habilitado pelo BC a trabalhar com o novo meio de pagamento, pode vender a tecnologia a uma empresa do varejo que quer oferecer a seus clientes a possibilidade de ter uma conta digital que faça transferências e pagamentos com o Pix. É o que se chama de "banking as a service". Nesse exemplo, o banco é classificado como participante direto do sistema e a varejista é uma participante indireta.

De olho nesse mercado, o Banco Original espera que o Pix impulsione o banking as a service e multiplique por 10 a relevância desse produto no negócio da instituição. Hoje, esse tipo de serviço representa 3% da receita e a expectativa é que em três anos salte para 30%. É uma estimativa, contudo, que vai depender da precificação, que por sua vez vai variar de acordo com as movimentações das principais instituições e do nível de competição.

"Olhando o mercado, são poucos os bancos que conseguem fazer isso e nós já fazemos a partir do conceito de open banking. Já nascemos prontos para isso e é nisso que estamos nos posicionando, enquanto outros precisarão fazer toda uma jornada de transformação digital", afirma Raul Moreira, diretor executivo de TI, Produtos, Open Banking e Operações do Original.

Entre os clientes desse tipo de serviço não estarão apenas as companhias de fora do setor financeiro. Pequenas fintechs, ainda não habilitadas para operar como participantes diretos do sistema, também poderão ser exploradas. "Abriremos plataformas para outras instituições e ganharemos escala com isso", diz Moreira, que afirma que o Original já tem relacionamento com 56 fintechs.

Não é, contudo, um mercado que todos os principais participantes diretos devem explorar inicialmente. O Nubank, por exemplo, que lidera o registro de chaves de segurança para o Pix, ainda não pretende entrar nesse segmento. "Por enquanto, estamos focados em atender os clientes. Poderemos prestar serviço de plataforma, mas não é nosso foco. Isso demanda recurso, tempo, dinheiro. Teríamos de deixar de fazer outras coisas que para nosso cliente importam mais", afirma Cristina Junqueira, cofundadora da instituição.

Além do banking as a service, o Pix também poderá criar oportunidades a partir do relacionamento que se cria com as empresas. O Tribanco trabalha para oferecer soluções de crédito atreladas ao novo meio de pagamento, por meio de recebíveis dos clientes. É uma forma de se diferenciar do mercado, considerando que o Pix, em si, será uma commodity. "Vai depender do valor que você vai agregar ao cliente, em especial na experiência. Ninguém vai querer um serviço de pagamento e recebimento sem que seja uma experiência legal", afirma.

O PicPay, fintech do Original que atua como uma carteira digital, também quer ganhar dinheiro com o Pix por meio de parcerias com estabelecimentos comerciais, nas transações que são feitas pelo aplicativo. Embora a pessoa física esteja isenta de pagar tarifas em transferências e pagamentos, a loja que recebe o dinheiro pagará uma taxa ao PicPay, em transações feitas a partir de um determinado valor, ainda não definido pela fintech.

Hoje, são 1 milhão de estabelecimentos credenciados para receber pagamentos por meio do aplicativo do PicPay. Para ser atrativa para o lojista, a fintech procurar oferecer algumas facilidades que vão além da simples transação, como permitir ao consumidor que ele parcele a compra de um produto em um estabelecimento que não parcela. O lojista não perde a venda e o consumidor tem um alívio no bolso. "Hoje, o que faturamos a partir das transações em estabelecimentos representa 20% da nossa receita, mas há potencial para chegar 40%", afirma Elvis Tinti, diretor comercial da fintech.

Diretora da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) e fundadora da Linker, banco digital especializado em clientes pessoa jurídica, Ingrid Barth afirma que o Pix será uma "excelente oportunidade" para as fintechs que oferecem serviços para empresas. "Ainda há muitos gargalos de pagamentos para as pequenas e médias de companhias, seja de conciliação ou de compensação, e os custos são muitos altos e se refletem no preço para o consumidor final", comenta.

Ela ressalta também que há uma vantagem indireta no Pix relacionada às informações das transações que também pode resultar em possibilidades de monetização. "Com a concentração que temos, as informações ficam muito limitadas aos grandes bancos. Com as instituições menores fazendo parte de um arranjo de pagamento como o Pix, seja como iniciador ou na intermediação, é possível guardar informações e usá-las com inteligência para pensar produtos financeiros, de crédito, por exemplo, que sejam rentáveis e aumentem o portfólio", explica.

Contato: andre.italo@estadao.com
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