Economia & Mercados
22/07/2022 10:38

Especial: Interrupção na oferta global de petróleo deve cair no 2ºsem, mesmo c/sanções à Rússia


Por Gabriel Vasconcelos

Rio, 21/7/2022 - As interrupções na oferta global de petróleo devem cair para o patamar de 5,9 milhões de barris por dia (b/d) no segundo semestre deste ano, ante 6,8 milhões b/d nos primeiros seis meses de 2022. Os dados são de um levantamento da S&P Global Commodity Insights obtido com exclusividade pelo Broadcast. Segundo especialistas, essa dinâmica alivia os preços da commodity, mas nem tanto. Isso porque o nível de parada segue historicamente alto.

Essas interrupções são o volume de óleo bruto que o mundo deixa de produzir ou ofertar em função de paralisações para manutenção de plataformas, temporadas de furacões, deslocamento de demanda devido a sanções ou aumentos estratégicos da capacidade ociosa.

Na prática, a redução desses volumes significa mais petróleo bruto no mercado mundial, o que tende a baixar os preços do barril. No entanto, a média esperada para interrupções no segundo semestre, 5,9 milhões de b/d, ainda está acima da dos últimos cinco anos, de 5,4 milhões b/d. Na conta, não foram considerados os dados de 2020 devido ao cenário anormal do setor no auge da pandemia.

Cotação

De acordo com o analista da S&P Global Commodity Insights, Matthew Andre, esse volume ainda alto de interrupções nos próximos meses pode sustentar os preços, ajudando a evitar quedas mais intensas que levem os preços abaixo de US$ 100 por barril.

Segundo Andre, o barril de petróleo Brent, referência para o mercado global, vai permanecer "forte" pelo resto de 2022. A S&P Global estima um preço médio de US$ 106 por barril em 2022, mas se aproximando de US$ 96 ao fim do ano.

Para o analista de óleo e gás da consultoria Wood Mackenzie, Marcelo de Assis, o barril de petróleo deve chegar ao fim do ano entre US$ 100 e US$ 110, acomodando oferta apertada em função da guerra na Ucrânia, que ele define sem desfecho no horizonte, e incertezas do lado da demanda, como eventuais lockdowns na China e riscos ao crescimento econômico dos Estados Unidos em função da escalada dos juros e da Europa por causa da restrição de combustíveis.

Para Assis, a diferença de 500 mil b/d entre as interrupções previstas para o segundo semestre de 2022 e a média dos últimos anos não é significativa para pesar decisivamente nos preços.

O analista da divisão de óleo e gás da consultoria StoneX, Pedro Shinzato, avalia que há um descolamento entre os fundamentos de oferta e demanda atuais, que seguem pressionando a cotação do petróleo, e o receio de recessão pelo mercado financeiro, que tem feito muitos investidores migraram para a renda fixa, fazendo os preços futuros das commodities caírem.

Shinzato evita fazer projeções, mas acredita que o preço do Brent chegará ao fim do ano em boa medida mais alto que os atuais. "O fato é que estamos no prelúdio das sanções (à Rússia). Ainda não é obrigatório, e tem muito (país) europeu comprando petróleo russo. Isso vai mudar no fim do ano. Fora isso, ainda teremos a temporada de furacões e, depois, o início do inverno no Hemisfério Norte. A oferta só tende a ficar mais apertada", diz Shinzato.

Para o analista há uma inversão no comportamento do mercado de óleo e gás: com a disparada das margens de refino, a dinâmica dos derivados passou a puxar os preços do barril e não mais o contrário. Essas margens, o "crack spread" no jargão do mercado, tem alcançado os US$ 40 no caso do diesel e US$ 30 para gasolina, quando historicamente ficam entre US$ 10 e US$ 15, diz Shinzato.

Rússia

Em 2022, até o momento, o maior volume de interrupções na oferta de óleo cru se concentraram no segundo trimestre, marcado pelo início da guerra na Ucrânia e os primeiros boicotes ao óleo russo. Mais do que o deslocamento de demanda relacionado à Rússia, março, abril e maio também assistiram a uma temporada de manutenção "pesada", dizem os analistas da S&P Global Commodity Insights .

Para o segundo semestre, a previsão é que as interrupções de oferta da Rússia se mantenham em alta, mas que as manutenções em outros países produtores caiam, compensando em parte a queda de oferta.

A "parcela de culpa" dessas manutenções nas interrupções chegou a 3,1 milhões de barris por dia no segundo trimestre, puxada por interrupções nas operações de Noruega e Canadá. A interrupção total ligada a manutenções deve cair para 2,5 milhões de b/d neste trimestre e continuar em queda até atingir o nível de 1,9 milhão b/d à medida que manutenções sazonais forem concluídas.

Na contramão do alívio, o relatório prevê que as interrupções da oferta russa saltem de 900 mil b/d no segundo trimestre para 2 milhões de b/d até o fim do ano, à medida que a União Europeia elimine, de fato, as importações de petróleo e produtos russos dentro de seis e oito meses, respectivamente.

Para se ter ideia do vácuo russo no mercado global de petróleo, no primeiro trimestre, antes do deslocamento da demanda de compradores em função das sanções, as interrupções somaram apenas 66 mil b/d. Hoje, no entanto, boa parte do petróleo do país já é vendido com desconto para o mercado asiático, sobretudo China e Índia.

Números da Administração Geral Chinesa de Alfândegas mostraram que a Rússia foi pelo segundo mês seguido, em junho, o principal fornecedor de petróleo ao regime de Pequim. No período, 7,29 milhões de toneladas de petróleo russo chegaram aos à China, aumento de quase 10% ante igual período de 2021.

Contato: gabriel.vasconcelos@estadao.com
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