Economia & Mercados
05/08/2020 08:33

Exclusivo: B3 prepara o lançamento de plataforma de gestão de risco para o mercado livre



Crédito: Renato S. Cerqueira/Futura Press

Por Wellington Bahnemann e Luciana Collet

São Paulo, 04/08/2020 - A B3 prepara para setembro deste ano o lançamento de uma plataforma informacional para gestão de risco de contratos no mercado livre. O novo serviço da Bolsa é fruto de um diagnóstico realizado a partir de conversas com comercializadoras e clientes livres sobre a ausência de mecanismos efetivos para mitigar a falta de transparência nas operações de compra e venda de energia no ambiente de livre contratação.

"Percebemos que um dos grandes problemas deste mercado é falta de transparência e informação para a gestão de risco", afirma o diretor de Produtos Balcão, Commodities e de Novos Negócios da B3, Fábio Zenaro, em entrevista exclusiva ao Broadcast Energia. A Bolsa brasileira vem mantendo conversas com comercializadoras, consumidores livres e geradoras para definir a sua estratégia de crescimento no mercado livre de energia.

A partir das interações com agentes de mercado, a B3 alterou o conceito do seu produto em desenvolvimento de uma ferramenta de pré-registro de contratos de energia para um serviço de gestão de risco voltado ao mercado livre. A ideia da bolsa brasileira é permitir, a partir do cruzamento de uma série de informações, que as empresas do setor possam mensurar o risco de se firmar um contrato com uma determinada contraparte.

Com adesão voluntária, a superintendente de Novos Negócios da B3, Ana Beatriz Vieira de Mattos, explica que as empresas participantes da plataforma irão reportar para a bolsa informações sobre os seus contratos de energia (volume, preço, submercado, tipo de energia, entre outros), além de outros dados que permitam verificar uma análise mais completa sobre a saúde financeira das companhias, como demonstrativos financeiros e governança corporativa.

A partir da análise dos dados reportados, a B3 irá conceder um selo para os agentes do mercado. Além de aumentar a transparência sobre a situação de cada empresa, em pontos como o nível de exposição em contratos de energia ou condição financeira, a ideia também é contribuir com a disseminação de melhores práticas. Companhias que divulgam seus resultados trimestralmente e possuem balanços auditados, por exemplo, receberão uma pontuação mais alta.

A B3 está estruturando a plataforma de modo que a captura das informações sobre as transações ocorra praticamente em base diária, permitindo que o processo de avaliação dos agentes de mercado seja realizado com mais frequência. Apenas informações mais qualitativas ou financeiras, atualizadas com menor periodicidade, não serão reavaliadas diariamente.

"A gente entende que a plataforma é um viabilizador para o desenvolvimento de outros produtos pela B3", complementa Ana. Além do selo, que funcionará como uma espécie de rating, a Bolsa pretende instituir uma curva futura de preços com base nas informações reportadas pelos agentes de mercado. A depender da adesão das empresas ao serviço da B3, a expectativa é de que a curva forward possa ser lançada ao mercado em 2021.

Estratégia de longo prazo

Neste primeiro momento, a B3 deve lançar a plataforma em caráter experimental para um melhor entendimento dos agentes do setor sobre o seu funcionamento. Para Zenaro, a iniciativa tem dois desafios principais: 1) a adesão de geradoras, comercializadoras e consumidores livres ao serviço e 2) a garantia de que as informações compartilhadas são fidedignas e confiáveis.

Para atrair a adesão do mercado à sua plataforma, a B3 avalia a possibilidade de não cobrar dos usuários ou, caso o serviço venha ser pago, que o valor seja o mínimo possível para cobrir os custos da operação. Além disso, os participantes terão acesso a informações mais detalhadas sobre o rating dos agentes e poderão visualizar a curva futura de forma antecipada. "Não batemos ainda o martelo, mas não vislumbramos que esse é o produto que vai gerar forte receita. Ao contrário, queremos causar o mínimo de barreira", diz Zenaro.

Se houver uma boa adesão à plataforma e for possível consolidar uma curva de futuro de preços da energia de referência, a intenção da B3 é alavancar a venda de outros produtos para o mercado livre - a própria Bolsa já disponibiliza para o setor os derivativos de energia desde 2015. Entre os serviços que o executivo vê possibilidade de gerar receita estão a gestão colateral de contratos bilaterais, atuação como contraparte central no mercado de balcão ou até avançar no mercado de bolsa.

"Estamos olhando no longo prazo neste momento e são esses produtos que a gente tem um maior valor agregado", argumenta Zenaro. Na visão do executivo, a oferta destes novos serviços vai depender da evolução do mercado livre no Brasil e das necessidades dos agentes do setor. "O mercado precisa querer. Não adianta a B3 oferecer e não existir uma demanda dos agentes de mercado", acrescenta o executivo.

Contato: wellington.bahnemann@estadao.com; luciana.collet@estadao.com; energia@estadao.comC
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