Economia & Mercados
05/08/2020 08:37

BNDES faz a maior 'venda em bloco' da história da Bolsa e prevê outras operações


Por Fernanda Guimarães e Vinicius Neder

São Paulo, 04/08/2020 - A venda de R$ 8,1 bilhões de ações da Vale que estavam na carteira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi o maior "block trade" da história da Bolsa brasileira. Ao todo, a venda via leilão na bolsa de valores correspondeu a 2,5% do capital da mineradora brasileira, que estava com suas ações próximas da máxima histórica, na esteira dos preços do minério de ferro, seu produto carro-chefe. Com a operação bilionária, o BNDES acumula, na gestão de Gustavo Montezano, desinvestimentos na casa de R$ 35 bilhões.

Com a mineradora brasileira próxima a se tornar uma companhia de capital pulverizado, uma "corporation" no jargão do mercado, o início da saída do BNDES de seu capital significa, ainda, menor posição do governo na mineradora, privatizada em 1997 no governo de Fernando Henrique Cardoso. O banco de fomento ficou com cerca de 1,5% que está fora do bloco de controle da companhia e 2,29% vinculado ao bloco de controle da empresa, que vigora até o dia 09 de novembro. Depois disso, as ações ligadas ao bloco serão liberadas. O governo possui ainda uma participação indireta na Vale por meio do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ, o maior do País. A Petros, dos funcionários da Petrobras, tem uma posição menos relevante.

Para garantir o sucesso da oferta da Vale no pregão de hoje, o BNDES se comprometeu com investidores a não fazer mais nenhuma venda de papéis da mineradora em um prazo de 90 dias, segundo fonte. Com o lock-up, o banco de fomento não causa uma pressão adicional de baixa no papel com a expectativa no mercado de venda de mais um grande bloco de ações. E parece ter dado certo: a ação da Vale encerrou o dia com alta de 0,73%, mesmo com as 135 milhões que foram a mercado.

O BNDES vendeu a ação da Vale em R$ 60,26, o mesmo preço do fechamento da ação ontem e 4% abaixo da máxima histórica. O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, foi às redes sociais após o sucesso da venda e voltou a defender a estratégia de reduzir o tamanho da carteira de ações do BNDES, que encerrou 2019 em torno de R$ 100 bilhões. Para o executivo, "mais importante do que as cifras desse marco histórico é ter o BNDES se reposicionando e voltando suas energias, conhecimento e recursos para o desenvolvimento social e ambiental do nosso país".

Desde o agravamento da crise causada pela covid-19, a diretoria do BNDES vinha reafirmando a decisão de reduzir a bilionária carteira de ações e sinalizando que retomaria o processo quando as cotações se recuperassem. O tombo no valor de mercado dessas participações, por causa da crise, vinha sendo citado como justificativa para as vendas, já que a possibilidade de perder com o vaivém das cotações representaria um risco elevado para o banco. No final do ano passado, a carteira de renda variável do banco de fomento valia mais de R$ 100 bilhões.

Agora, o BNDES planeja também fazer um leilão na bolsa para a venda de suas ações preferenciais na Petrobras, mas deverá esperar melhora do preço do papel, que cai mais de 27% em 2020.

A venda de ações da Vale faz parte da retomada do processo de enxugamento da carteira de renda variável do banco de fomento. Também estão programadas para serem vendidos, ainda em um block trade, as participações que a instituição financeira possui em Suzano e Klabin.

Em julho, o BNDES vendeu sua fatia na AES Tietê para a AES Corp e embolsou R$ 1,27 bilhão. No início do ano, havia vendido suas ações ordinárias na Petrobras, colocando R$ 22 bilhões em caixa. Hoje ainda possui as ações preferenciais, que não têm direito a voto.

No fim do ano passado, o BNDES vendeu sua participação na empresa de carnes Marfrig. Antes da pandemia, a instituição também planejava sair da JBS, uma transação de mais de R$ 15 bilhões. Essa operação pode demorar um pouco mais, mas segue na pauta. No total, o BNDES tem em sua carteira quase 30 empresas de capital aberto.

Contato: fernanda.guimaraes@estadao.com e vinicius.neder@Estadão.com
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