Economia & Mercados
07/06/2019 21:01

Investidor deve evitar emergentes e preferir segurança mesmo com possível corte de juro pelo Fed


Por: Altamiro Silva Junior e Victor Rezende

São Paulo, 05/06/2019 - A possível redução de juros este ano nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), com bancos prevendo até dois cortes, pode não gerar fluxos expressivos de recursos para emergentes, incluindo o Brasil. Gestores ouvidos pelo Broadcast dizem que essas economias estão enfraquecidas e com diversos problemas e, assim, por enquanto, não devem atrair capital externo, que tende a buscar ativos mais seguros.

O ambiente na economia mundial de preocupações com desaceleração da atividade e aumento das tensões comerciais também não é favorável aos ativos de risco. Por isso, a preferência dos investidores deve ser por ouro, títulos do Tesouro americano e países muito específicos, como Índia, o emergente que mais cresce no planeta. Quanto ao Brasil, a avaliação dos investidores é a de que o capital estrangeiro só deve entrar de fato com a aprovação da reforma da Previdência.

Os dados mais recentes mostram que os emergentes vêm perdendo capital externo em ritmo acelerado desde meados de março. Fundos de ações dedicados a estes mercados, monitorados pelo Credit Suisse, registram saques há seis semanas consecutivas, com retiradas líquidas de US$ 15 bilhões. O Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, com sede em Washington, destaca que, em maio, os emergentes perderam US$ 5,7 bilhões. A razão foi o aumento da tensão comercial e preocupações com a desaceleração para a economia mundial. Para este e os próximos meses, a tendência não é muito animadora.

Se, em dezembro de 2018, a adoção de uma postura mais "dovish" (suave) pelo Fed elevou o apetite por risco de investidores internacionais e estimulou o fluxo de recursos para emergentes, agora o momento é outro, observam os economistas do IIF. Um eventual corte de juros nos EUA pode até trazer algum alívio para os emergentes, mas a busca por "portos seguros" pelos investidores, sobretudo por ativos denominados em dólares, devem deixar o ambiente desafiador para esses mercados, que estão ainda dependentes do rumo a ser seguido pelas disputas comerciais travadas pelos EUA com importantes parceiros, como China e México. De acordo com dados do IIF, Índia e Tailândia foram os principais motores de uma tentativa de recuperação dos investimentos em fundos de ações de emergentes em maio, recebendo US$ 1,5 bilhão e US$ 600 milhões, respectivamente.

Com base nos desenvolvimentos recentes, o ABN Amro mudou o cenário base e, agora, acredita em uma escalada contínua dos conflitos comerciais dos EUA com a China e o México, "o que implica uma incerteza prolongada nessa frente". O banco holandês espera que o Fed reduza suas taxas de juros três vezes nos próximos três trimestres, mas alerta que as tensões comerciais são negativas para o sentimento de risco, "e, portanto, uma ameaça potencial para fluxos de carteira para mercados emergentes".

O estrategista em Nova York do banco de investimentos Brown Brothers Harriman (BBH), Win Thin, vai na mesma linha e afirma "duvidar" que os emergentes vão se beneficiar do melhora da liquidez mundial com juros mais baixos nos EUA. As condições econômicas nesses mercados estão se deteriorando no mesmo ritmo dos países desenvolvidos, destaca ele. Turquia e Argentina estão com problemas fiscais e/ou de contas externas, enquanto o México tem a questão tarifária com Washington e o Brasil tem a incerteza política sobre o momento de aprovação das reformas.

"Os emergentes como classe de ativos não estão bem e a perspectiva não é das melhores, em meio a crescentes problemas domésticos e no exterior", disse um ex-diretor do Banco Central.

No caso brasileiro, em recente viagem aos EUA, o chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, conversou com investidores e encontrou resistência em aportar recursos no Brasil. "O estrangeiro não está vindo e não há perspectiva de vir no curto prazo", destaca.
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