Economia & Mercados
14/01/2022 14:14

Especial: Safra menor e repique de Covid colocam no radar risco de queda do PIB no 1tri22


Por Cícero Cotrim

São Paulo, 13/01/2022 - O recrudescimento da pandemia de Covid-19, o aumento de casos de gripe e as revisões para baixo nas projeções de safra agrícola levantaram o risco de um início de 2022 com atividade mais fraca. Embora as informações disponíveis para o período sejam escassas, economistas ouvidos pelo Broadcast dizem ver chances de um Produto Interno Bruto (PIB) com baixo crescimento - ou negativo - no primeiro trimestre deste ano.

"Os efeitos da pandemia agora não parecem ser tão duros pelo lado da demanda, porque não temos novas medidas relevantes de distanciamento. Mas temos efeitos na oferta: vemos entidades do varejo, associações comerciais e shoppings falando em impactos por causa da falta de trabalhadores", diz o economista da Rio Bravo Investimentos João Leal, que já considera mais provável um PIB negativo no primeiro trimestre.

O primeiro trimestre é a leitura matematicamente mais importante do PIB, pelo seu peso na construção do carrego estatístico para o ano. Com a perspectiva de um resultado aquém do esperado, Leal reforça o viés negativo da projeção da Rio Bravo para o resultado de 2022, atualmente de queda de 0,2% - já menor do que a mediana do último boletim Focus, de alta de 0,28%.



Até 10 de janeiro, o aumento de casos de Covid-19 e influenza já havia levado ao cancelamento de mais de 500 voos no País, com 5% a 10% dos funcionários do setor afastados por terem sido contaminados. A BLTA, associação que congrega hotéis de luxo como Fasano e Copacabana Palace, disse estar sofrendo com falta de pessoal. Na área de saúde, estimava-se que os hospitais privados tinham 10% das suas equipes afastadas.

Ao mesmo tempo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reduziu em 0,3% as estimativas para a safra agrícola do País em 2022. A projeção do órgão ainda indica expansão de 9,4% da safra deste ano, com um resultado recorde para a soja. No entanto, a previsão não leva em consideração os efeitos recentes do excesso de chuvas no sul da Bahia e no Sudeste e da seca na Região Sul.

"Ainda existe um impulso da agropecuária, mas a diminuição da atividade em alguns segmentos por causa da covid e da influenza pode se sobrepor a esse efeito e, eventualmente, levar a um PIB negativo no primeiro trimestre", diz o economista-sênior do Banco MUFG Brasil, Maurício Nakahodo. Na ponta otimista do mercado, o banco estima um crescimento de 0,8% do PIB de 2022, mas Nakahodo reconhece um viés de baixa à estimativa.

O economista-chefe da Trafalgar Investimentos, Guilherme Loureiro, já fala em um cenário de PIB "provavelmente negativo" no primeiro trimestre mesmo sem considerar o repique de casos da pandemia, tendo em vista o aperto das condições financeiras no País. Para o analista, o aumento de casos causado pela variante Ômicron adiciona riscos ao cenário.

"Olhando o mundo, vemos que os novos casos estão em média duas vezes acima do pico anterior, mas as hospitalizações estão em cerca de 35%. Se for esse o caso aqui e não sobrecarregar o sistema de saúde, muda pouco nosso cenário", diz Loureiro, que estima uma queda de 0,5% a 1,0% do PIB este ano. "Já no caso de hospitalizações subirem muito, há o risco de vermos novos fechamentos de estabelecimentos, com impacto maior no PIB."

O economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, prevê crescimento de 0,5% do PIB do primeiro trimestre de 2022, em um cenário que já considera um impulso menor da agropecuária - com as estimativas anteriores, a expansão ficaria entre 0,8% a 0,9%. Para Serrano, os principais riscos do repique da pandemia estão no cenário internacional, com a possibilidade de manutenção das rupturas em cadeias de suprimentos.

"Tem um risco de um PIB menor no primeiro trimestre se forem intensificadas as medidas de restrição. Sem nada severo, o impacto é marginal", diz o economista, que estima queda de 0,5% do PIB de 2022. "Numericamente, o primeiro trimestre ainda deve ser importante para evitar um desastre maior em 2022, mas o quadro de atividade é fraco, com efeitos da inflação, desemprego elevado e condições financeiras piores."

Contato: cicero.coltrim@estadao.com
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