Economia & Mercados
01/07/2021 08:53

Com desafios no social, iFood investe no E, do ESG, e compensará emissão de carbono


Por Talita Nascimento

São Paulo, 30/06/2021 - A partir de julho, todas as entregas realizadas pelo iFood terão suas emissões de carbono compensadas antecipadamente. Em parceria com a startup ambiental brasileira Moss.Earth, a empresa de delivery fez o inventário de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), somando todos os níveis de emissão, tanto os de responsabilidade direta quanto indireta da empresa. Assim, a companhia sabe quanto emite de CO2 em cada entrega e pode compensá-lo. Os recursos investidos nessa compensação serão usados em projetos de preservação ambiental da Floresta Amazônica.

Com essa ação, até o fim de 2021, o iFood terá preservado uma área de aproximadamente 1,250 milhão de metros quadrados na Floresta Amazônica, equivalente a 125 campos de futebol oficiais. A iniciativa faz parte do iFood Regenera, programa de metas ambientais da empresa, anunciado em março de 2021, e que também tem o objetivo de zerar a poluição das entregas.

Gustavo Vitti, vice-presidente de Pessoas e Soluções Sustentáveis do iFood, afirma que as demandas por critérios de ESG (Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Governança) têm se tornado centrais na empresa. Ele diz que os principais acionistas da plataforma discutem o tema desde 2019 e que cerca de um terço das conversas envolvem questões a respeito desses pilares. "Eles partem do princípio que negócios sustentáveis vão durar", diz.

Para o professor Marcus Nakagawa, coordenador do Núcleo ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDES), a iniciativa é positiva. Ele vê que as empresas têm se conscientizado que compensar suas emissões de carbono e passar a poluir menos é importante. Sobre o anúncio do iFood, ele nota que o fato das medições e compensações serem feitas por uma empresa auditada e certificada, como é o caso da Moss.Earth, é o ponto mais relevante. "É sempre importante estar atento a isso, como são auditados os dados e o plantio de árvores ou a preservação prometida", afirma.

Desafios no Social

No entanto, Nakagawa chama atenção para o fato de que, no País, enquanto a governança e o cuidado com o meio ambiente têm ganhado o debate público, o critério relacionado à responsabilidade social sempre foi o menos observado. O iFood, por exemplo, enfrenta críticas devido à remuneração de seus entregadores e a falta de condições de trabalho adequadas. Segundo dados da plataforma, em 2020, os entregadores ganharam, em média, entre R$ 20 e R$ 22 por hora trabalhada. Ao analisar as horas que eles ficam disponíveis para a plataforma, porém, os ganhos ficam entre R$ 8 e R$ 10 por hora.

Sobre a questão, Vitti afirma que o iFood defende que uma legislação futura deve proteger esse entregador. "É nessa agenda que temos trabalhado em Brasília", afirma. Ele diz que a companhia participa de discussões a respeito de uma legislação que ofereça segurança para esses entregadores em "moldes mais modernos" que os da CLT. Ele diz ainda que a companhia desenvolve ações de educação para capacitar os entregadores.

A empresa já enfrentou paralisações e manifestações de entregadores por melhorias na remuneração e reconhecimento de direitos. Algumas respostas foram apresentadas nesse sentido. Desde 2019, o iFood oferece seguro de acidentes pessoais e de vida para entregadores ativos na plataforma. O seguro cobre até R$ 15 mil de despesas médicas e odontológicas de emergência, além de indenização em caso de acidentes que levem a invalidez permanente total/parcial e morte acidental nas rotas de entregas e do retorno do entregador para casa. Além disso, na pandemia, foram criados dois fundos de apoio destinados aos entregadores em quarentena por apresentarem sintomas ou por fazer parte dos grupos de risco. O fundo, que prevê 28 dias de afastamento, corresponde à média de rendimentos do entregador no app dos últimos 3 meses.

A especialista em sustentabilidade Maria Eugênia Buosi, sócia fundadora da Resultante, afirma que, sem dúvida, as emissões são tema relevante para uma empresa de transportes, independente do modal, mas afirma que o demais critérios não podem ser esquecidos. "O projeto é interessante e inovador. No entanto, há outros temas que precisam ser endereçados quando falamos de uma empresa como o iFood. Saúde e segurança do trabalho, além da precarização das condições de trabalho e remuneração dos entregadores não podem ser perdidos de vista. É um setor em que o social pesa tanto quanto ou mais que o ambiental", afirma.

Contato: talita.ferrari@estadao.com
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