Economia & Mercados
08/03/2022 09:55

Especial: Preços congelados da Petrobras por muito tempo podem causar desabastecimento no País


Por Denise Luna e Fernanda Nunes

Rio, 07/03/2022 - A demora por uma solução para o preço dos combustíveis no mercado interno coloca o Brasil em risco de um possível desabastecimento, principalmente de diesel, produto que depende de importação. Anualmente, cerca de 300 navios com óleo diesel chegam aos portos brasileiros, com uma média de 1,5 bilhão de litros por mês. Sem poder repassar a alta do preço internacional para os postos de abastecimento, as importações podem ser suspensas, até que o mercado se normalize.

O governo sentiu a gravidade do problema e nesta segunda-feira vai reunir técnicos de três ministérios - Economia, Minas e Energia e Casa Civil - para tentar achar uma solução que permita à Petrobras aumentar os preços sem repassar toda essa volatilidade para o consumidor final. O martelo, porém, deve ser batido apenas amanhã, em outra reunião no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Jair Bolsonaro, que tem criticado abertamente a política de preços da estatal.

A Petrobras está há 54 dias sem fazer reajustes, em um contexto em que o valor do petróleo subiu 47% desde o último aumento da companhia, em 12 de janeiro. A atitude da empresa contraria declarações do próprio presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, que no ano passado, após 86 dias com o preço congelado, justificou o aumento como forma de manter o mercado abastecido.

“Se a Petrobras mantiver os preços muito abaixo da paridade, ninguém consegue importar combustível e as refinarias não são suficientes para atender toda a demanda”, explica Rodrigo Glat, sócio da GTI ADM de Recursos. Ele observa, porém, que se a economia estivesse aquecida o problema já teria ocorrido, mas hoje o risco é mais baixo.Glat alerta que o governo está demorando muito a tomar alguma decisão que reduza a volatilidade dos preços, que por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia atingiram outro patamar, bem mais elevado.

Nesta segunda-feira,por alguns segundos, a commodity chegou a bater os US$ 139,13 o barril do tipo Brent, cedendo para US$ 123,21 no fechamento dos contratos para maio.Somente de sexta-feira até hoje, a estatal já perdeu R$ 22 bilhões em valor de mercado na bolsa de valores de São Paulo (B3) com as especulações sobre possíveis subsídios que o governo estaria negociando para aliviar o aumento. A defasagem entre os preços praticados pela Petrobras nas refinarias para o diesel e gasolina já passam de 30%, ou seja, a estatal teria que fazer reajustes dessa ordem para equiparar seus preços ao mercado internacional.

Segundo fontes, o estoque da Petrobras com preço de dois meses atrás termina em março, o que joga o problema do desabastecimento para o mês de abril, se o preço do petróleo continuar nos patamares atuais.De acordo com o consultor em Gerenciamento de Risco da consultoria StoneX, Pedro Shinzato, a aposta é de que não haverá desabastecimento, mesmo com a atratividade claramente baixa em se importar combustíveis no momento.

“Digo isso baseado na experiência que tivemos em outubro agora (2021), quando os grandes importadores continuaram ativos apesar da diferença de preços”, disse, referindo-se ao congelamento de preços por 86 dias no ano passado, que chegou a acumular defasagem de 60-70 centavos por litro no diesel. Hoje a defasagem supera R$ 1 por litro. No entanto, ele prevê que os preços ao consumidor podem subir fortemente, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, que têm uma maior presença de produtos importados devido à falta de refinarias nessas regiões.

“O que há de contraponto aqui é caso haja alguma mudança na tributação ou formação de um fundo estabilizador de preços, que estão sendo discutidos no Congresso. Daí precisaria avaliar certinho como seria o plano do governo para tentar entender o impacto líquido no preço na bomba”, avaliou.

contato:denise.luna@estadao.com e fernanda.nunes@estadao.com
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