Economia & Mercados
18/02/2022 17:28

Especial: Energisa amplia transmissão com a Gemini, dona de ativo envolvido em apagão no AP


Por Luciana Collet

São Paulo, 18/02/2022 - A aquisição da Gemini Energy pela Energisa deve proporcionar uma importante expansão da companhia no segmento de transmissão. As três linhas operadas atualmente pela Gemini possuem uma Receita Anual Permitida (RAP) da ordem de R$ 363 milhões, mais que ao total dos projetos atualmente existentes, de R$ 291,1 milhões. Anunciada ontem à noite, a compra foi feita ao valor de R$ 822,6 milhões, considerando a assunção do endividamento líquido de R$ 1,734 bilhão, o que corresponde a um aumento na alavancagem consolidada de 0,3 vez dívida líquida/Ebitda.

Em nota, a Energisa, que concentra atuação no segmento de distribuição, afirmou que a aquisição "faz parte do plano de diversificação de negócios do Grupo Energisa, com o objetivo de acelerar frentes como transmissão de energia, geração distribuída, geração de energia renovável centralizada, soluções energéticas e comercialização de energia no mercado livre".

A Gemini opera três concessões de transmissão já em operação, duas na região Norte e uma na região Sudeste. A mais conhecida é a Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), proprietária da subestação que pegou fogo em novembro de 2020, provocando um apagão no Amapá no final de 2020. Além dessa linha, a empresa também é responsável pela Linhas de Xingu Transmissora de Energia, no Pará, conectando Tucuruí e Xingu a centros de consumo do estado, e a Linhas de Taubaté Transmissora de Energia, que conecta Rio de Janeiro e São Paulo.

A companhia também possui uma empresa de prestação de serviço (Plena O&M). Em conjunto, as três concessionárias possuem oito subestações com capacidade instalada de 6.700 MVA, considerando os novos reforços já homologados, e 1.451 quilômetros de linhas de transmissão.

A Energisa apontou que a aquisição trará "relevante ganho de escala", que proporcionará otimizações de custos operacionais e administrativos, e citou em particular a sinergia com o lote 5 conquistado em leilão de dezembro passado, composto por uma linha no Amapá. Destacou, ainda, o potencial de crescimento, uma vez que futuros leilões de transmissão, no curto prazo, devem ofertar lotes no Amapá e Pará. Já o próximo leilão deverá contar com o terceiro circuito de conexão do Amapá com o Sistema Interligado Nacional, reforçando a ligação hoje feita apenas pela LTME.

O Citi avaliou a aquisição como uma "boa jogada". "Outra alocação de capital interessante", disseram os analistas Antonio Junqueira e Guilherme Bosso, referindo a transação anterior na área de geração distribuída. "A área de M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês) da empresa tem sido mais ativa do que a comunidade de investidores parecia acreditar até pouco tempo atrás", avaliaram. O banco manteve a recomendação de compra dos papéis da empresa.

Segundo os cálculos da equipe, a taxa interna de retorno real ficou entre 11% e 12%, com VPL (valor presente líquido) em torno de R$ 280 milhões. "Se a empresa re-alavancar as linhas ao longo dos anos (uma possibilidade real) o VPL pode estar próximo de R$ 500 milhões a R$ 700 milhões. Então, uma grande jogada, e que só aumenta a alavancagem consolidada da empresa em 0,3 vezes o Ebitda", disseram.

Já o analista do Bradesco BBI Francisco Navarrete estimou TIR real alavancada de 7,5%. "Embora esteja abaixo da TIR implícita atual da Energisa de 10,2%, está praticamente em linha com a menor taxa de desconto que aplicaríamos a um ativo de transmissão operacional", afirmou. Ele salientou estimativa não incluiu qualquer potencial acréscimo de VPL com alavancagem da aquisição ou potencial de implantação de investimentos de reforço ao longo dos anos restantes da concessão.

A operação ainda está sujeita à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Em nota, a Gemini Energy afirmou que "a transação faz parte do planejamento estratégico traçado pelos acionistas da Gemini que têm como principal compromisso a excelência operacional".

A empresa entrou no noticiário após o incidente em subestação operada pela empresa que levou a um apagão no Amapá por dias. A Aneel instaurou processos administrativos para apurar a ocorrência, que geraram multa à LMTE e ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Por não concordar com a multa aplicada, a LMTE ingressou com ação judicial em que refuta a penalidade. O processo judicial segue em trâmite, e a multa está suspensa por decisão judicial.

Procuradas, a Energisa e a Gemini recusaram os pedidos de entrevista.

Contato: luciana.collet@estadao.com
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