Economia & Mercados
14/05/2023 10:03

Juro neutro acima de 4% é consenso na 4ª reunião do BC com economistas


Por Marianna Gualter e Cícero Cotrim

São Paulo, 12/05/2023 - A taxa neutra de juros acima dos 4,0% calculados pelo Banco Central (BC) foi consenso entre os economistas do mercado financeiro presentes na quarta reunião realizada com a autarquia, a primeira do dia. Em contrapartida, houve discordância sobre o início dos cortes da taxa Selic, embora a maioria dos cenários apresentados preveja afrouxamento monetário ainda este ano.

“Teve muita gente falando que o juro neutro está acima do que se espera: algumas casas com 5%, e algumas falando até em aumentar para 6%”, relatou um participante que conversou com o Broadcast sob a condição de anonimato. O consenso, de acordo com um economista presente no encontro, é que a taxa real neutra de juros está mais próxima de 5% do que de 4,5%.

Na ata do Copom de maio, o BC apontou para alguns indícios de que a taxa neutra de juros poderia ser maior, o que significaria uma política monetária menos restritiva hoje do que o estimado pela autoridade monetária. Mas a maioria dos membros do colegiado julgou que essa avaliação ainda é "prematura" e precisa ser corroborada por mais dados.

Os participantes também concordaram que o processo de desinflação parece mais lento do que o esperado, embora tenham divergido nas expectativas sobre o comportamento do IPCA à frente. Enquanto alguns analistas citaram a expectativa de uma inflação menor em 2023, devido à deflação dos IGPs, outros chamaram atenção para a resiliência da inflação de serviços, que pode dificultar o processo de convergência.

Por isso, os economistas apresentaram ao BC cenários distintos de início do ciclo de cortes da taxa Selic. “Entre 30% e 40% dos que falaram não acham que cai ainda esse ano, mas uma pequena maioria acredita em cortes em 2023”, comentou um analista. Segundo outro participante, a visão sobre o ritmo de desinflação e o juro neutro determinou as projeções para o começo do afrouxamento monetário.

Assim como nas três reuniões anteriores, os economistas também convergiram na avaliação de que a atividade econômica está mais forte do que se esperava em 2023, mas divergiram sobre as razões. Enquanto alguns falaram sobre o bom desempenho da agropecuária no início do ano, outros citaram uma demanda mais forte que o esperado, reflexo do mercado de trabalho aquecido.

Os analistas também voltaram a concordar na avaliação de que o novo arcabouço fiscal diminui a incerteza no cenário, mas não deve ser suficiente para “harmonizar” as políticas fiscal e monetária, como tem defendido o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). “A percepção é que o arcabouço evita os cenários de cauda de dívida explosiva, mas está longe de permitir que o BC fique confortável em mudar o direcionamento da política monetária”, relatou um economista.

Como nas reuniões de ontem, os economistas do grupo 4 não debateram a indicação do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a diretoria de Política Monetária do BC.

Internacional

O cenário de crescimento internacional também entrou em pauta. Os participantes avaliaram que a economia mundial tem surpreendido de forma positiva no que se refere a atividade, mas também tem mostrado uma taxa de inflação mais resiliente. A exceção é a China, que, apesar do crescimento, tem apresentado uma inflação mais baixa.

Sobre a política monetária dos Estados Unidos, os economistas não chegaram a um consenso acerca da trajetória de juros. “Há quem acha que parou e quem acredita que ainda há aumento à frente”, relatou um economista. Outra fonte notou que o temor com uma desaceleração mais forte da economia global reapareceu nesta reunião.

IPCA de abril

A primeira reunião do dia começou apenas 15 minutos depois da divulgação do IPCA de abril - que atingiu 0,61%, acima da mediana da pesquisa Projeções Broadcast, de 0,55%. Embora o dado tenha sido citado na discussão, acabou por não ser comentado a fundo pelos economistas, devido ao pouco tempo para análise, segundo fontes ouvidas pela reportagem.

“Acho que acabou sendo um erro grave do BC esse agendamento, porque todo mundo teve de olhar o dado por cima, não deu tempo de fazer as contas e incorporar esse número ao cenários”, diz um analista. “A discussão acabou mais puxada por outras coisas, e esse debate sobre o IPCA deve ficar para as próximas reuniões”, completou. O BC tem mais dois encontros com analistas hoje, que terminam às 12h30 e às 16h.

Os encontros trimestrais com economistas são realizados para subsidiar a confecção do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), cuja próxima edição será publicada em 29 de junho. Todas as reuniões desta sexta-feira, 12, foram feitas por videoconferência, com participação dos diretores do BC Diogo Guillen (Política Econômica) e Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos).

Contatos: marianna.gualter@estadao.com e cicero.cotrim@estadao.com
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