Economia & Mercados
18/10/2022 17:12

Especial: Após 3 meses de queda, gasolina sobe por causa de refinarias privadas e importadores


Por Gabriel Vasconcelos

Rio, 18/10/2022 - O aumento de 1,4% no preço médio da gasolina nas bombas para R$ 4,84, informado pela Agência Nacional do Petróleo, Biocombustíveis e Gás Natural (ANP) ontem, se deveu a reajustes recentes praticados por refinarias privadas e importadores, na tentativa de acompanhar as cotações internacionais, afirmam especialistas ouvidos pelo Broadcast. Também pesou o encarecimento do etanol anidro, que compõe a gasolina, nas últimas semanas.

A alta de preço da gasolina registrada ontem pela ANP interrompe um ciclo de 15 semanas seguidas de queda nos preços da gasolina, viabilizado pelo rebaixamento das alíquotas de ICMS a 17% no fim de junho e quatro reduções de preços seguidas pela Petrobras no período de um mês e meio até 1º de setembro.

Hoje, a julgar pelo comportamento dos preços dos derivados de petróleo no exterior, gasolina e diesel domésticos tendem a seguir pressionados nas próximas semanas, com altas maiores ou menores, a depender da participação da Petrobras no processo. Como já mostrou o Broadcast, a companhia voltou a praticar preços defasados ante o mercado internacional e segue pressionada pelo governo federal a não fazer reajustes até o fim do segundo turno das eleições presidenciais, o que vai atenuar, temporária e artificialmente, a escalada de preços.

Economista e professor da PUC-Rio especializado em energia, Edmar Almeida lembra que a Petrobras ainda domina a maior parte do fornecimento de gasolina do país e baliza o preço final ao consumidor. No entanto, outros agentes e a dinâmica do etanol anidro, somados, têm influência relevante que começa a aparecer no preço final.

"Hoje a Petrobras tem peso de pouco mais de 50% nesse preço médio final. O restante é o etanol, refinarias privadas e importadores", diz Almeida. Esses outros agentes elevaram seus preços na tentativa de acompanhar a paridade internacional, que mudou porque o câmbio ficou apreciado e o preço do barril do petróleo se recuperou nas últimas semanas, encarecendo os derivados."

Na prática, portanto, o não repasse da flutuação das cotações internacionais aos preços pela Petrobras reduz significativamente, mas não evita aumentos no preço final da gasolina ao consumidor.

A refinaria de Mataripe, na Bahia, controlada pela Acelen, promoveu, ontem, a terceira elevação nos preços dos combustíveis aos revendedores em outubro. Desta vez, a unidade vendida no fim do ano passado pela Petrobras à empresa de private equity (que compra participações em empresas) ligado ao fundo soberano de Abu Dhabi, o Mubadala Capital, aumentou os preços da gasolina entre 3,3% e 3,8% e o diesel entre 4,9% e 8,9% e a gasolina de 3,3% a 3,8%, a depender do mercado. Segunda maior refinaria do País, a Acelen responde hoje por algo entre 12% e 15% da capacidade de refino nacional. Nesse movimento, somam-se agentes menores no interior do País e importadores que, de sua parte, provêm entre 5% e 10% do consumo nacional.

Os números da ANP divulgados ontem traduzem o impacto dos aumentos da Acelen no preço ao consumidor final: na região Nordeste, que consome o produto dessa refinaria, o preço do litro da gasolina nas bombas saltou de R$ 4,83 para R$ 5,05, alta de 4,55%. Foi a maior alta regional, seguida do Sudeste (0,85%) e Sul (0,42%), que também têm refino privado com algum peso. No Centro-Oeste e Norte ainda foram registradas quedas de 0,41% e 0,62% respectivamente nos preços de revenda da semana passada.

Na abertura dos dados por Estados, a gasolina subiu em 15 unidades da federação e no distrito federal, com destaque justamente para mercados do Nordeste, como a Bahia, onde a gasolina subiu 10,32% na passagem de uma semana para outra.

O movimento dos agentes privados, como a refinaria de Mataripe, não vem sendo seguido pela Petrobras, que hoje pratica preços abaixo da paridade de importação, com defasagens de 14% ou R$ 0,83 por litro no caso do diesel e 7% ou R$ 0,24 por litro na gasolina, segundo cálculos da Associação brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom).

A Petrobras afirma não repassar flutuações internacionais imediatamente e que ainda se mantêm dentro dos limites da política de preços de paridade internacional (PPI). Mas o Broadcast apurou que o governo federal tem pressionado a diretoria da estatal a segurar preços em função do contexto eleitoral.

Na semana passada, no que parte do mercado encarou como confissão do represamento de preços, o diretor de exploração e produção da companhia, Fernando Borges, admitiu que a estatal reduziu preços numa velocidade maior do que a que estaria disposta a empregar agora para praticar aumentos. Em linha com o discurso do governo federal, Borges disse que esse modus operandi "beneficia a sociedade brasileira" e é a "contribuição" possível da empresa à sociedade.

Etanol Anidro

Outro fator que tem pesado no preço final da gasolina, o etanol anidro tem visto o preço subir há cinco semanas, desde o início de setembro, segundo informações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP.

Na semana entre 5 e 9 de setembro, o insumo custava, em média, R$ 2,81 por litro. Na semana passada, já custava R$ 3,04 por litro, aumento acumulado de 8,2%. O produto responde por 27% da mistura da gasolina comercializada nos postos de gasolina e seus aumentos são repassados ao preço final para os consumidores.

Contato: gabriel.vasconcelos@estadao.com
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