Economia & Mercados
26/05/2022 12:31

Prêmio Broadcast Projeções: Processo de desinflação é principal expectativa para 2º semestre


Por Guilherme Bianchini e Cícero Cotrim

São Paulo, 26/05/2022 - Após encerrar 2021 em 10,06%, a inflação passou por novos choques no início de 2022 e segue como foco de preocupação para o segundo semestre, ainda que a expectativa seja de desaceleração, de acordo com os vencedores da 16ª edição do Prêmio Broadcast Projeções. Com impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia e consequente explosão de preços das commodities, a mediana do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano é de 8,40%, segundo pesquisa do Projeções Broadcast, bem acima do teto da meta do Banco Central (BC), de 5,0%.

Com a política monetária avançando em território significativamente contracionista, a Selic subiu de 2,0% no início de 2021 para 12,75% em maio de 2022. A mediana do mercado indica ao menos mais uma alta dos juros, a 13,25%, e a expectativa é que os efeitos defasados do aperto contribuam para a desinflação na segunda metade do ano, assim como o arrefecimento esperado para a atividade econômica.

Cassiana Fernandez, economista-chefe do JPMorgan no Brasil - 5º colocado do Top 10 Básico -, avalia que a dinâmica inflacionária deve se manter no centro das preocupações no segundo semestre do ano. A combinação entre inflação elevada, forte aperto monetário e volatilidade por causa das eleições ainda pode gerar um quadro de deterioração da renda real da população, com prejuízos ao crescimento econômico na segunda metade de 2022.

"Esse é um fator de grande preocupação, principalmente se tivermos um processo mais preocupante e agressivo de inflação de alimentos, que acaba sendo ainda mais prejudicial para a população mais carente e vulnerável", diz a analista. "Teremos eleições com inflação alta e crescimento baixo. É difícil dizer uma variável específica, mas a interação entre esses três fatores é o que mais preocupa e pode representar riscos."

O cenário básico do JPMorgan é de um IPCA de 8,70% este ano, significativamente acima do teto da meta perseguida pelo Banco Central (BC) pelo segundo ano consecutivo. Nos juros, o banco trabalha com a premissa de mais um aumento de 0,5 ponto porcentual da Selic em junho, que levaria a taxa a 13,25% no fim do ciclo. Depois, a tendência é que a autarquia aguarde a materialização dos efeitos defasados, avalia Fernandez.

"Para frente, vai depender muito da discussão com relação a quando será o pico da inflação. Se começarmos a ver uma desaceleração no curto prazo e, mais importante, uma estabilização da dinâmica recente de expectativas de inflação, acho que o BC sinalizaria essa pausa”, explica a economista. “Mas ainda não é um nível que eu ache suficiente para trazer a inflação de volta à meta."

No Barclays, 2º colocado no Top 10 Geral e 3º no Básico, o economista para Brasil, Roberto Secemski, ressalta que ainda não há clareza sobre a duração dos choques de preços em commodities e fertilizantes impostos pela guerra na Ucrânia, que ainda podem se estender por alguns trimestres. Além disso, a discussão do arcabouço fiscal no período eleitoral também deve adquirir importância, conforme o pleito se aproxima.

"Ainda tem a resposta do Fed [Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos] à inflação americana, que pode pesar de outras formas sobre os emergentes. E, como consequência disso, a resposta do BC, para saber quão longa é essa extensão que eles têm em mente", diz Secemski, que prevê fim do ciclo de aperto da Selic em junho, a 13,25%, e IPCA de 8,80% em 2022.

Para Aurelio Bicalho, economista-chefe da Vinland Capital, vencedora do Top 10 Geral e do Básico, o debate sobre a desinflação seguirá sendo o destaque do segundo semestre, tanto a nível doméstico quanto global. "Uma coisa é a inflação subir muito, mas voltar rápido. Outra é ficar rodando em um patamar mais alto por mais tempo. Isso desperta agentes econômicos, famílias e empresas", diz Bicalho, que projeta IPCA de 8,60% em 2022.

O CEO e economista-chefe da consultoria Parallaxis - 4ª colocada no Top 10 Básico -, Renato Chaim, acredita que a tendência não é de melhora da dinâmica inflacionária no País. Além da pressão externa com a disparada de custos internacionais, como de commodities e fretes, o analista destaca que o aperto monetário conduzido pelo Fed pode levar a um aumento do dólar, até agora contido pelo diferencial de juros.

"O problema é que o aumento dos juros não está acontecendo só no Brasil, e o especulador vai fazer a conta com todo mundo que está subindo juros", diz Chaim, que espera um aumento do dólar ao nível de R$ 5,40 no fim do ano, podendo superar este nível durante as eleições. "Para mim, o grande problema no Brasil é cambial. A inflação é um reflexo."

Neste cenário, o economista avalia que o IPCA deve encerrar o ano com alta de 8,50%, com riscos para cima. O aumento de juros por parte do Fed - a 1,75% no fim deste ano, segundo as estimativas da Parallaxis - ainda deve exigir que o BC mantenha o ciclo de aumento da Selic por mais tempo, a um nível de 14,0% no fim do ciclo, diz Chaim.

As preocupações em torno do cenário externo também estão no cenário de Tomás Goulart, economista-chefe da Novus Capital, empatada na segunda colocação do Top 10 Geral com o Barclays. O analista espera que a inflação atinja 8,90% este ano, com um crescimento de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Segundo Goulart, a redução dos estímulos por parte do Fed tende a ajudar o processo de desinflação no fim de 2022, mas contrata riscos para a atividade à frente.

"Enquanto não houver uma estabilização da inflação global, não vamos conseguir estabilizar a nossa inflação", diz Goulart. "O fim de 2022 e início de 2023 tem um mundo que vai crescer menos e tende a reduzir as pressões inflacionárias. Mas, por outro lado, tem um risco de recessão global, muito negativo", completa o economista, que espera uma taxa Selic terminal de 13,75%.

Atividade

Além da inflação, o acompanhamento da atividade econômica também ficará no foco do segundo semestre, diz Daniel Xavier, coordenador do Departamento Econômico do Banco ABC Brasil, 4º colocado no Top 10 Geral. Ele espera que os efeitos defasados da política monetária levem o Produto Interno Bruto (PIB) a uma queda de 0,3% no terceiro trimestre e uma estabilidade (0,0%) no quarto, com alta de 1,2% em 2022.

"Isso vai ser importante para corroborar a perspectiva de suficiência do ajuste de juros na segunda metade do ano, e também vai ajudar a conter as expectativas de inflação", explica Xavier, que prevê Selic terminal de 13,75%. "Os vetores econômicos do primeiro semestre vão ser os mesmos do segundo. A questão é ver se eles mudam de sinal."

O economista-chefe do Banco BV - 5º colocado no Top 10 Geral -, Roberto Padovani, alerta que o aperto do Fed, a guerra na Ucrânia e a desaceleração da economia chinesa devem levar a uma rápida convergência do PIB global à média histórica. O ambiente externo mais desafiador deve pesar mais sobre o Brasil, devido ao quadro doméstico de inflação elevada, juros altos e aumento da percepção de risco.

"Como o Brasil depende de ciclos globais, o mundo crescendo menos vai nos levar também a crescer menos, mas com os desafios locais de inflação alta e disseminada, juros altos por mais tempo e uma percepção crescente de riscos. Essa combinação de fatores conduz a uma desaceleração econômica, que estaria mais explícita no segundo semestre", diz o analista. O BV espera uma alta de 1,0% do PIB em 2022 e um IPCA de 9,0%.

Gesner Oliveira, sócio-executivo da GO Associados, 2ª colocada no Top Básico, também estima crescimento de 1,0% do PIB em 2022, número considerado modesto. Ele afirma que o País sofre com impactos negativos da guerra e com sequelas da economia, como inflação, volatilidade do dólar e fragilidade fiscal.

"Mas também temos oportunidades, porque houve uma migração de capital, com a atenção do investidor saindo do leste europeu e vindo para o Brasil. O País ficou mais atraente ou, relativamente menos arriscado, em relação a outros emergentes", pondera.

Contato: guilherme.bianchini@estadao.com e cicero.cotrim@estadao.com
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