Por Gabriel Baldocchi
São Paulo, 29/06/2023 - Uma leitura correta e antecipada do ambiente desafiador, combinada à capacidade de manter investimentos mesmo na crise, ajudam a explicar como o conjunto de empresas vencedoras do
Prêmio Broadcast Empresas 2023 alcançou uma posição de destaque em relação ao restante do mercado. O levantamento feito pela
Agência Estado, em parceria com a Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), destaca as dez empresas de capital aberto que tiveram o melhor resultado para seus acionistas no ano anterior.
Em 2022, o ambiente econômico foi marcado por turbulências, desde as consequências da guerra na Ucrânia até a ação dos bancos centrais para tentar reverter o avanço da inflação. Isso, sem que a maior parte das companhias tivesse se recuperado da crise gerada pela pandemia.
O cenário de juros elevados e renda apertada deu o tom do ranking do ano passado, com destaque para empresas ligadas à prestação de serviços e atuação voltada ao mercado interno. Mas as ganhadoras carregam também méritos decorrentes de suas próprias decisões de gestão, como a diversificação de negócios, pulso firme para acelerar os planos de investimento, na contramão de concorrentes, e apostas na digitalização.
De uma análise com 240 empresas aptas a participar do ranking, a primeira colocação ficou com a BB Seguros. Em seguida vieram Assaí (2º), WEG (3 º), Engie Brasil (4 º), Raia Drogasil (5º), Ambev (6º), Hypera Pharma (7º), B3 (8º), Kepler Weber (9º) e Santos Brasil (10º).
"Essas empresas conseguiram superar os desafios do baixo crescimento e dos juros altos e se destacar em várias métricas financeiras. Souberam ler melhor a economia do que as demais", afirma o professor de economia da FGV, Joelson Sampaio. "No geral, são companhias mais consolidadas do que o restante."
"O ano de 2022 foi um dos mais difíceis desta longa trajetória do
Prêmio Broadcast Empresas - que completa nesta edição 23 anos -, tanto do ponto de vista macroeconômico, como para o mercado de capitais. E as empresas vencedoras tiveram o feito de conseguir dar retornos significativos", afirma Teresa Navarro, editora-chefe da
Agência Estado/Broadcast.
No topo do ranking, a BB Seguros puxa a fila de serviços da lista. Para a empresa, os investimentos de cerca de R$ 600 milhões em tecnologia ajudaram na aproximação aos clientes e são um dos fatores principais que explicam o avanço de 53,7% no resultado do ano passado. A cifra representa aproximadamente 10% do lucro de 2022, de R$ 6 bilhões.
Segundo o CEO da holding de seguridade do Banco do Brasil, Ulisses Assis, a capacidade de análise dos riscos foi fundamental para enfrentar desafios como a quebra das safras de culturas como a soja, que fez a sinistralidade das empresas disparar. Líder de mercado, a Brasilseg, empresa da BB Seguros, conseguiu diluir o impacto ao longo do ano.
Segunda colocada, a rede de atacarejos Assaí avalia que o bom ano de 2022 se deve aos investimentos em crescimento da companhia e vislumbra um 2023 que exige sangue frio e foco no longo prazo. "Ao longo dos anos, crescemos com expansão autossustentada. O retorno foi alto, pois conseguimos gerar caixa suficiente para financiar nossa expansão", afirma Belmiro Gomes, CEO do Assaí.
Posturas adotadas por grupos como Engie Brasil e Raia Drogasil reiteram a percepção de como os investimentos geram resultados. A primeira, como fruto da diversificação feita nos anos anteriores, por meio da compra da transportadora de gás TAG. A segunda, com a força para abrir novas farmácias - 260 só em 2022 - num momento em que concorrentes desaceleraram em resposta aos juros elevados.
"[A concorrência] pegou empréstimo quando a Selic estava a 2% [ao ano], e agora está a 13%, então estão endividados. Nós não temos essa questão [de dívida]", pontua o CEO da RaiaDrogasil, Marcilio Pousada.
Apesar da perspectiva de queda, os juros elevados ainda rondam as companhias. Um novo componente engordou o caldo de preocupações dos negócios neste ano: a Reforma Tributária. A preocupação maior é saber como as mudanças promovidas pelo governo e apreciadas no Congresso, após décadas de debate, se refletirão em seus negócios.
O tema foi discutido em debate na cerimônia de entrega do prêmio, na manhã desta quinta-feira, 29. Para o economista Manoel Pires, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre-FGV), a maior parte dos efeitos positivos da Reforma Tributária sobre a economia brasileira deve se materializar no curto prazo. Ele afirmou que o prazo para que o novo sistema entre em vigor é factível, ainda que o relacionamento entre o governo e o Congresso possa afetar o cronograma.
Segundo o economista, a reforma deve combater uma das principais distorções atuais do sistema tributário: o alto grau de litigiosidade. "O mundo faz guerra fiscal, mas no Brasil ela é ilimitada. O problema do sistema tributário brasileiro é que os Estados fazem guerra fiscal com recursos dos outros."
Metodologia
O ranking, que está em sua 23ª edição, reflete um conjunto de sete indicadores muito utilizados por investidores e profissionais do mercado financeiro. São eles: a variação da rentabilidade patrimonial; pagamento de dividendos em relação ao patrimônio; índice preço/lucro (PL); preço/valor patrimonial da ação (P/VPA); oscilação da ação; volatilidade da ação; e liquidez. Cada empresa é representada pela sua ação mais líquida (ON ou PN).
Prêmio Broadcast Empresas 2023 |
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Posição |
Ação |
Nome |
1 |
BBSE3 |
BB Seguros * |
2 |
ASAI3 |
Assaí |
3 |
WEGE3 |
Weg ** |
4 |
EGIE3 |
Engie Brasil |
5 |
RADL3 |
RaiaDrogasil |
6 |
ABEV3 |
Ambev |
7 |
HYPE3 |
Hypera |
8 |
B3SA3 |
B3 |
9 |
KEPL3 |
Kepler *** |
10 |
STBP3 |
Santos Brasil |
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* Vencedora na categoria Novo Mercado
** Vencedora na categoria Sustentabilidade
*** Vencedora na categoria Small Cap
Fonte: AE
Contato: gabriel.baldocchi@estadao.com