Economia & Mercados
23/06/2022 10:14

Exclusivo: Empresas brasileiras miram listagem na Nyse, mas janela deve reabrir só em 2023


Por Aline Bronzati, correspondente

Nova York, 22/06/2022 - A Bolsa de Nova York (Nyse) conversa com "algumas" empresas brasileiras, inclusive pesos-pesados, para listagem nos Estados Unidos. A volatilidade alimentada pelo aperto monetário do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que ganhou uma dosagem extra diante da maior inflação em quatro décadas no país, porém, deve atrasar a reabertura do mercado somente para 2023. Por ora, somente estreias sem captações de recursos estão no front. Depois da Eve, startup de 'carros voadores' da Embraer, a rede de churrascarias Fogo de Chão, controlada pela Fogo Hospitality, está em processo para colocar os pés em Wall Street.

"O mercado hoje está praticamente todo fechado. Precisamos de alguns meses de baixa volatilidade, com uma performance melhor, mais clareza de como os EUA vão controlar a inflação e o investidor ficar mais disposto a olhar novas empresas. Hoje, o investidor está um pouco receoso apesar de muito dinheiro no horizonte", diz o chefe de mercados internacionais da Nyse, Alex Ibrahim, em entrevista ao Broadcast.

Além da subida de juros nos EUA, que diminui o apetite por ativos de risco como, por exemplo, ações, o temor crescente de a maior economia do mundo entrar em recessão a reboque, fora a guerra na Ucrânia, cobrem o cenário de incertezas. Neste ambiente, afirma Ibrahim, o investidor está "cético" e "muito preocupado" para apostar em novas empresas que venham desembarcar em Nova York.

"Os investidores estão com outros olhos e procuram, principalmente em tech, empresas com rentabilidade ou um caminho claro para alcançá-la", afirma o chefe de mercados internacionais da Nyse.


Alex Ibrahim, chefe de mercados internacionais da Nyse. Foto: Divulgação/Nyse

O ceticismo do investidor não é exclusividade para casos brasileiros e vai na onda do "arrasto global" de volatilidade que tomou conta dos mercados externos, conforme Ibrahim. O momento, diz, é de fazer o dever de casa e preparar o negócio para uma janela de oportunidade tão logo ela apareça.

Em relação ao Brasil, que além do contexto externo ainda passará por eleições presidenciais em outubro, o executivo da Nyse se diz otimista. Quanto às urnas, ele não comenta, mas diz que o mercado já está acostumado a precificar o risco político e conhece os principais candidatos, o atual presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O pipeline para Brasil está muito forte, o problema é quando essas empresas irão a mercado. Hoje, isso ainda não está muito claro quando as empresas poderão fazer a listagem ou a captação no mercado internacional", explica Ibrahim.

Segundo o executivo, "algumas empresas" miram o pós Labor Day, feriado em que se comemora o Dia do Trabalho nos Estados Unidos e que acontece na primeira segunda-feira de setembro, ou ainda o quarto trimestre. Mas, muitas, admite, já estão com o radar somente para 2023, quando o processo de aperto monetário nos EUA deve estar mais bem sedimentado e as eleições no País superadas.

O Brasil ocupa hoje o quarto lugar no ranking de países com empresas listadas na Nyse e fica atrás somente de Canadá, China e Reino Unido. Antes, detinha a terceira posição, mas perdeu o posto após deslistagens de empresas brasileiras nos últimos anos como, por exemplo, a Oi. A recuperação da posição, que o colocaria novamente entre os top três da Bolsa de Nova York, passa pela melhora do cenário, coberto de incertezas à frente.

Ruídos

Outro tema que desagrada o investidor, segundo ele, é a intervenção de acionistas, sejam eles públicos ou privados, nos negócios das empresas. Sobre a ingerência do governo Bolsonaro na Petrobras, que caminha para o seu quarto presidente diferente em menos de dois anos, Ibrahim afirma que não comenta casos específicos, mas reforça: "O investidor não gosta de acionista colocando a mão nas empresas, a menos que seja coisa boa. Do contrário, gera incerteza", diz. Somente em junho, as ADRs da Petrobras acumulam queda de 17% na Nyse.

Apesar disso, empresas como Petrobras, Vale e os grandes bancos brasileiros ajudam a garantir ao Brasil a liderança em liquidez na Bolsa de Nova York. Mas a Nyse quer mais. Aqui, a ideia, conta Ibrahim, é atrair grandes emissores com ações já listadas na B3 e que buscam ampliar sua base de investidores para Wall Street.


Foto: Aline Bronzati/Estadão Conteúdo - De Wall Street, Nyse disputa emissores brasileiros com a rival Nasdaq

A busca pelos grandes nomes brasileiros é um dos alvos da Bolsa de Nova York, que estruturou nos últimos anos um time dedicado a Brasil, grupo que inclui Ibrahim. Em outra frente, disputa ainda empresas mais jovens e com potencial de crescimento à frente, batalha na qual duela com a rival Nasdaq, que no passado se consolidou como a bolsa de tecnologia. "Isso não existe mais. É uma visão velha. Hoje, a Nasdaq está competindo com a gente por empresa de energia. Essa ideia de Nasdaq ser uma empresa só de tech não é correto", rebate.

Segundo ele, o market share da Nyse no setor de tecnologia é de 68% e inclui nomes como o maior IPO de software dos EUA, a Snowflake, a maior empresa de cybersecurity, a SentinelOne, a maior fintech do mundo, o Nubank, além de outros como a plataforma de streaming Spotify.

Nas recentes disputas que teve com a rival Nasdaq, a Nyse venceu algumas, como a Eve, e a rede de churrascarias Fogo de Chão. No caso da empresa de carros voadores da Embraer, a sócia norte-americana Zanite tinha ações na concorrente, mas decidiu fazer as malas e trocou a Times Square por Wall Street. Em um movimento parecido, a Fogo de Chão decidiu se listar novamente nos EUA, mas, desta vez, irá para a Nyse. Em 2018, a companhia decidiu fechar seu capital e sair da Nasdaq após ser vendida ao fundo Rhône Capital.

Uma das disputas, porém, a Nyse perdeu para a Rival. Amanhã, o Banco Inter estreia na Nasdaq, após migrar seus papéis do Brasil, onde negociavam na B3, para os Estados Unidos. "Infelizmente, não ganhamos", lamenta Ibrahim.

Contato: aline.bronzati@estadao.com
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