Por Aline Bronzati
São Paulo, 25/02/2022 - A série de boicotes econômicos e financeiros por parte da União Europeia e dos Estados Unidos à Rússia pela invasão na Ucrânia deve ser compensada pelo aumento da relação comercial de Moscou com a China nos últimos anos. Se não totalmente, deve, ao menos, amenizar o efeito das sanções, na opinião de economistas e professores ouvidos pelo Broadcast.
"Hoje, 60% do comércio da Rússia é com a China. É uma relação ampla e vai continuar sendo", avalia o professor de Economia Internacional na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Fernando Padovani. Para ele, o conflito com a Ucrânia "joga a Rússia nos braços da China".
O relacionamento entre os dois países se estreitou durante a liderança do presidente chinês Xi Jinping e o russo, Vladimir Putin. Nesta sexta-feira, ambos conversaram sobre a atual situação da Ucrânia. Xi Jinping disse que a China apoia que Rússia e Ucrânia resolvam a questão por meio de negociações.
Apesar da relação mais estreita entre os países, a China não tem capacidade de absorver todo o apoio do mercado europeu à Rússia, de acordo o professor e vice-coordenador do curso de Relações Internacionais da FGV, Pedro Brites. "A China continua sendo o ator externo mais importante para a Rússia, capaz de prover produtos de alta tecnologia, mas não o suficiente para suprir o mercado europeu", afirma ele.
O professor do Departamento de Relações Internacionais da UERJ, Maurício Santoro, lembra que o aprofundamento entre China e Rússia se deu, principalmente, no setor de agronegócio. "Isso não resolve o problema da Rússia, mas ameniza", avalia ele, especialista em China. A grande dificuldade da Rússia, segundo Santoro, é que a China não conseguirá suprir o mercado europeu no que tange ao setor de energia. Os russos são relevantes fornecedores de petróleo e gás natural à Europa.
A consultoria britânica Capital Economics vê um limite na ajuda chinesa aos russos. Na áreas financeira e de petróleo, por exemplo, suprir a Rússia é possível. Já em relação ao fornecimento de gás natural, contudo, não há estrutura para fazê-lo.
"Existem várias maneiras pelas quais a China pode aliviar parte da pressão econômica e financeira que as potências ocidentais podem exercer sobre a Rússia. Mas também há limites para o quão longe a China pode ir", enfatiza o economista-chefe da Capital Economics para Ásia, Mark Williams.
Pesa ainda uma questão de prazo. Brites, da FGV, observa que a duração do conflito e o peso das sanções serão essenciais para quantificar o impacto das sanções para a Rússia. No curto prazo, Moscou pode não ser tão afetado. A ideia da Casa Branca, porém, é justamente afetar a Rússia no longo prazo.
Desde o agravamento da crise com a Ucrânia, a Rússia passou a sofrer uma série de sanções nas áreas de exportações, bancos e grandes executivos russos. Ontem, dia 24, o G7, grupo das economias mais ricas e industrializadas do mundo, afirmou, por meio de comunicado, que irá aplicar "severas e coordenadas" sanções econômicas e financeiras ao país.
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