Economia & Mercados
17/09/2021 15:29

Especial: delta segura inflação nos EUA, mas analistas ainda apostam em tapering do Fed em 2021


Por Iander Porcella

São Paulo, 14/09/2021 - A inflação desacelerou nos Estados Unidos em agosto, guiada principalmente pelo arrefecimento dos efeitos da reabertura econômica, em meio ao impacto da variante delta do coronavírus no setor de serviços. No entanto, analistas esperam que as pressões inflacionárias ainda voltem a crescer no país. Segundo eles, para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), o resultado é um "alívio", e a previsão de início do tapering, processo de redução das compras de ativos, se mantém neste ano.

Os preços dos carros usados recuaram 1,5% no mês passado, na comparação com julho. Foi a primeira vez que esse componente do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) registrou queda desde fevereiro. Nos meses recentes, os veículos foram o principal foco de inflação nos EUA. Como as montadoras estavam com dificuldades de fabricar carros novos, devido à falta de chips semicondutores, a demanda reprimida, que voltou com a retomada da economia, se deslocou para os usados.

Agora, sem esse efeito, o CPI subiu 0,3% em agosto, na comparação mensal, abaixo da mediana de 0,4% do Projeções Broadcast. Essa alta foi sustentada pelos componentes energia e alimentação. O núcleo, que exclui os dois itens responsáveis pelo avanço do índice cheio, registrou ganho de 0,1% ante julho. A mediana indicava avanço de 0,3%. Na comparação anual, os dois indicadores registraram altas de 5,3% e 4,0%, respectivamente.

Além dos carros usados, itens de serviços também contribuíram para a leitura mais "suave" da inflação americana. Os preços de passagens de avião diminuíram 9,1%, em relação ao mês anterior, e os de diárias de hotéis recuaram 2,9% em igual base comparativa. Segundo os economistas, esse cenário é resultado da piora da pandemia nos EUA, causada pela disseminação da cepa delta, que é mais contagiosa.

"Embora a propagação da variante delta tenha revertido o efeito da reabertura na inflação, ainda há muitos sinais de uma pressão inflacionária cíclica crescente", diz o economista-chefe da Capital Economics para EUA, Paul Ashworth.

Na avaliação do economista-chefe da Pantheon, Ian Shepherdson, os preços relacionados a viagens e lazer devem voltar a subir assim que a pandemia voltar a melhorar no país. "Fraqueza transitória após força transitória?", questiona o Citi, em uma referência ao discurso defendido pela maioria dos dirigentes do Fed de que a inflação atual é temporária. Os analistas do banco americano também preveem novas pressões de preços à frente.

"Embora compartilhemos da visão do Fed de que este não é o início de uma espiral ascendente de salários e preços, esperamos que a inflação permaneça persistentemente acima de 2% até 2022", afirmam os economistas Kathy Bostjancic e Gregory Daco, em relatório da Oxford Economics enviado a clientes.

O Commerzbank viu menos pressões inflacionárias subjacentes no indicador de agosto, mas, mesmo assim, o banco alemão também não espera que os preços desacelerem "significativamente" antes do próximo ano. "Para o Fed, os dados de preços mais recentes são um alívio, uma vez que não apoiam os apelos para uma aceleração significativa da virada na política monetária", diz o economista Bernd Weidensteiner, do Commerzbank. Ainda assim, o banco alemão, assim como todas as outras casas de análises citadas na reportagem, mantiveram a previsão de que o Fed iniciará o tapering no fim deste ano ou, no máximo, no início de 2022, a depender também da evolução dos dados do mercado de trabalho.

Em 2020, quando a crise da covid-19 começou, o BC dos EUA passou a comprar US$ 80 bilhões mensais em Treasuries, títulos da dívida pública americana, e US$ 40 bilhões em ativos lastreados em hipotecas. O objetivo da autoridade monetária com esse programa de relaxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) era apoiar as condições financeiras, com a redução dos juros de longo prazo e o aumento do fluxo de crédito para empresas e famílias.

Agora, contudo, em meio à retomada econômica, o Fed precisa decidir quando começar o encerramento do programa. Alguns dirigentes dizem que já houve "progresso substancial" em direção à meta de inflação, de em média 2%, mas outros ainda esperam mais avanços no emprego.

Contato: iander.porcella@estadao.com
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