Economia & Mercados
23/02/2022 16:00

Exclusivo: Solfácil quer quadruplicar número de financiamentos a sistemas de microgeração


Por Luciana Collet

São Paulo, 23/02/2022 - A Solfácil, ecossistema de soluções para geração de energia solar distribuída, prevê quadruplicar o volume de financiamentos feitos a sistemas fotovoltaicos em 2022. A empresa, que viabilizou 26 mil projetos de geração distribuída (GD) no ano passado, espera financiar mais de 100 mil projetos da chamada microgeração neste ano.

"O futuro é continuar crescendo muito forte", disse o diretor-presidente e fundador da Solfácil, Fabio Carrara, em entrevista ao Broadcast Energia. "Estamos falando em chegar rapidamente, em cinco anos, na marca de 1 milhão de clientes", acrescentou. Ele garantiu que recursos não serão problema e indicou que a empresa já vem se preparando para acessar o mercado de capitais para garantir os montantes necessários para as operações. A empresa emitiu, no ano passado, o primeiro fundo de direitos creditórios (FIDC) com um selo verde no Brasil e acredita que o mercado tem interesse por investimentos como esse.


Carrara: Mesmo com marco legal de geração distribuída, setor deve seguir crescendo forte
Foto: Divulgação/Paulo Vitale


O crescimento esperado está apoiado na expansão do mercado de geração distribuída. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), 2022 poderá ser o melhor ano da energia solar já registrado no País. De acordo com a entidade, a geração própria de energia solar deverá praticamente dobrar sua potência instalada neste ano, impulsionada pelo marco legal da microgeração e minigeração distribuída, recém publicado, e pelos aumentos tarifários, chegando aos 17,2 gigawatts (GW) de potência instalada, o que exigirá investimentos da ordem dos R$ 40,6 bilhões.

Para Carrara, embora este seja o último ano para consumidores aproveitarem as regras atuais da geração distribuída e se beneficiarem de condições mais atrativas de retorno para o investimento na instalação de sistemas, a prevista mudança das regras, a partir de 2023, não retirará o impulso de crescimento do setor. "GD no Brasil é sustentável por décadas, mesmo com novo marco regulatório que começa a diminuir um pouco o valor da energia injetada na rede, de forma gradativa ao longo de 7 a 8 anos", disse. Ele citou que a inflação energética tem sido superior aos índices oficiais de inflação e que as perspectivas são de novos reajustes elevados para a conta de luz nos próximos anos, com o pagamento dos empréstimos que vem sendo feito de forma recorrente para as distribuidoras (por conta da covid e crise hídrica).

Adicionalmente, ele comentou que o custo do equipamento fotovoltaico tem se reduzido. "(O marco de GD) vai ter efeito no fim do ano, vai dar uma acelerada (nas vendas), mas vai crescer em 2023 por esses outros fatores", avaliou, citando, ainda, que a geração distribuída no País ainda tem muito espaço para crescer se comparado com outros mercados. "A Austrália tem 25% de penetração de telhados solares - enquanto o Brasil tem 0,8% -, e mesmo assim a GD australiana vem crescendo forte, no ano passado fez quase 4 GW."

O Brasil também cresceu significativamente em 2021, com um recorde de 3.826 GW de sistemas instalados, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A adição de capacidade foi maior que a proporcionada pela fonte eólica, a qual agregou 3,7 GW, com grandes usinas, liderando a expansão de capacidade no País.

Segundo Carrara, grande parte desse forte crescimento foi viabilizado pela criação e expansão de linhas de financiamento, como a desenhada pela Solfácil. Dos cerca de R$ 20 bilhões de investimentos realizados, ele estima que metade foram financiados. "Sempre enxergamos que para fazer esse setor acontecer, o grande gargalo era financiamento, então viabilizamos uma linha inovadora que permitiu a troca de um custo por investimento", disse.

O modelo desenhado pela empresa se inspira no project finance utilizado nos financiamentos para projetos de infraestrutura e oferece a consumidores individuais uma solução em que o cliente paga o empréstimo sem alterar seus gastos com energia, trocando parte do que desembolsa com conta de luz pelo pagamento da parcela. Pelos cálculos da Solfácil, em 2021 seus clientes trocaram R$ 175 milhões de pagamentos pela conta de luz, por investimento em painéis próprios.

"Somos a primeira instituição financeira a oferecer prazo de 10 anos para setor, e vimos vários bancos seguir essa tendência", diz Carrara. Segundo ele, quando a empresa entrou no setor, em 2018, o prazo dos bancos comerciais tradicionais era de cinco anos. "Todo mundo percebeu que para viabilizar infraestrutura, precisa ter prazo para diminuir parcela e fazer sentido a troca de um pelo outro; isso sempre se observou na geração centralizada: prazos alongados, casados com os projetos", acrescentou.

Ele também citou o prazo de carência, de 120 dias, como diferencial da empresa. "O cliente só vai conseguir trocar um (pagamento) pelo outro se o sistema estiver funcionando e entre compra, instalação e homologação na rede tem um tempo", justificou. Em geral, as instituições oferecem atualmente carência de 90 dias.

Após avançar com uma solução de financiamento, a Solfácil quer enfrentar outro gargalo costumeiramente encarado pelos integradores: a conexão com fornecedores. Para isso, a empresa, que antes se apresentava como fintech e agora se define como ecossistema, está desenvolvendo um marketplace que concentre seus integradores parceiros e os distribuidores de kits fotovoltaicos. "Tem muito caso de parceiro nosso sofrendo para conseguir entregar projetos no prazo prometido porque na hora de comprar o kit fotovoltaico, placas, inversor, não tem disponibilidade, demora, então a solução do marketplace vem pra ajudar integrador, o setor, e consequentemente o consumidor final, a melhorar essa experiência, digitalizar e não segurar um setor que tem tudo para crescer".

Contato: energia@estadao.com
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