Economia & Mercados
29/09/2021 10:26

Especial: Temor com energia se soma a Evergrande e aversão ao risco sobe no mercado de bonds


Por Cynthia Decloedt

São Paulo, 28/0/2021 - Os investidores que operam no mercado de títulos de dívida (bonds) no exterior, onde empresas de todo o mundo buscam crédito, agregaram temores de escassez de energia ao leque de preocupações que têm provocado cautela e reduzido o apetite por ativos de emergentes. O contrato de credit default swap (CDS) do Brasil, que protege contra risco de calote do País e é considerado um termômetro de aversão ao risco, subiu 2% hoje para 206 pontos-base. O CDS que protege contra uma cesta de emergentes avançou 2,8 pontos-base.

“Os temores relacionados à escassez de energia, por conta das decisões de algumas regiões, como a China e a Europa, de banir o uso do carvão e substituir por gás natural, se acentuaram nos últimos dias, porque aparentemente não haverá oferta suficiente para cobrir a demanda”, disse o sócio da gestora Octante, Laszlo Lueska, que opera no mercado de bonds.

Na Europa, os preços do gás natural disparam e já há problemas de abastecimento de energia, uma vez que a volta à atividade econômica nos pós-vacinação está mais acelerada. Ao mesmo tempo, a região não está conseguindo importar a mesma quantidade de gás que precisaria da Rússia, seu principal fornecedor, por conta de manutenções dos gasodutos russos. Na China, o risco de corte de energia está aumentando, com implicações no setor produtivo, diante da penalização imposta pelo governo no uso do carvão como fonte de energia.

As preocupações com o potencial de expansão da economia chinesa, que têm implicações no crescimento de todo o mundo, especialmente o países exportadores de commodities, também vem do mega calote da construtora Evergrande, para o qual os mercados ainda aguardam solução. O setor tem sido um propulsor do crescimento chinês nos últimos anos e não está claro como a cadeia de construção e os bancos serão impactados.

No mercado de dívida, a Evergrande já deixou de honrar na semana passada pouco mais de US$ 80 milhões em juro de seus mais de US$ 2 bilhões em bonds com vencimento em 2022. O não pagamento ainda não provocou o vencimento antecipado de outras dividas, porque a Evergrande tem 30 dias para negociar com seus credores. Somente em bonds, a Evergrande tem US$ 19 bilhões emitidos.

Mas a sinalização do Banco Central norte-americano, o Fed, de que vai cessar o programa de estímulos pode ser visto como o maior propulsor da aversão ao risco que se instala nos mercados. Esse deve ser o evento com maior potencial de reprecificar os ativos. As taxas futuras do juro norte-americano já espelham o movimento e estão subindo. As implicações são elevação no custo de captação das empresas no mercado de dívida e maior cautela dos investidores para assumir posições em emergentes.

Mesmo assim, a FS Bioenergia, maior produtora brasileira de energia a partir do milho, reabriu seus greenbonds com vencimento em 2025 e captou US$ 80 milhões. De toda a forma, o montante foi reduzido em relação ao inicialmente previsto, em torno de US$ 100 milhões. Especialistas no mercado acreditam que o fluxo das operações de dívida tende a cair nos próximos dias.

Contato: Cynthia.decloedt@estadao.comP
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