Economia & Mercados
23/05/2023 08:59

Gasolina deve cair mais esta semana, mas novos agentes mantêm PPI e podem segurar repasse


Por Denise Luna

Rio, 22/05/2023 - Os postos de abastecimento ainda não refletiram a totalidade dos reajustes anunciados pela Petrobras na semana passada, o que deve ser observado esta semana, avaliam fontes do setor. A expectativa também é de que nova queda de preços na refinaria da estatal ocorra entre junho e julho, para compensar a volta do ICMS sobre a gasolina em 1º de julho, conforme antecipou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Em entrevista ao Broadcast na semana passada, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, confirmou a conversa com Haddad sobre o assunto, e não descartou uma nova queda de preços. Mas, ressaltou Prates, isso só irá ocorrer se as condições forem favoráveis para a empresa, que apesar de ter abolido a paridade de importação (PPI), continua com o radar na volatilidade dos preços do petróleo no mercado internacional.

O petróleo do tipo Brent, que é referência para a estatal, vem oscilando entre US$ 70 e US$ 80 o barril este ano. Nesta segunda-feira, a commodity recuava 0,5%, para US$ 75,20. Enquanto isso, os preços dos derivados no mercado internacional estavam acima do mercado brasileiro, refletindo os reajustes da Petrobras.

Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a gasolina está 5% mais barata no Brasil e o diesel, 6% nos polos atendidos pela Petrobras. Nos polos atendidos também pelas refinarias privadas, essa diferença é de 6% e 5%, respectivamente.

Levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostrou que na semana de 14 a 20 de maio a gasolina caiu apenas 0,5% nos postos de abastecimento, apesar da redução de 12,6% no dia 17 de maio. O diesel, também reduzido em 12,7%, caiu 1,9% no período para o consumidor final. Já o gás de cozinha, cuja queda foi de 21,6% nas refinarias, chegou ao consumidor com desconto de apenas 0,1%.

"A pesquisa da ANP é semanal e deve mostrar algum impacto ainda, mas é preciso entender que a Petrobras não é mais o único supridor do mercado", explica o presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecomércio), James Thorp Neto.

Ele destaca que além dos importadores, o mercado agora tem no Nordeste a Acelen e no Norte a Atem, que adquiriram as refinarias da Petrobras na Bahia (Refinaria de Mataripe) e no Amazonas (Refinaria de Manaus), e que esses preços ajudam a formar o preço médio do mercado. Além disso, os reajustes anunciados pela Petrobras se referem à gasolina A, que corresponde a 73% da gasolina vendida ao consumidor (gasolina C, com 27% de mistura do etanol).

"Todos ficam esperando que a queda seja dos mesmos R$ 0,40 por litro que a Petrobras anunciou, mas é 73% disso, ou cerca de R$ 0,29 por litro", diz Thorp Neto, ressaltando que a decisão de reduzir ou aumentar preços "é uma decisão individual de cada posto."

Segundo uma alta fonte do setor, geralmente quando o preço cai nas refinarias leva de quatro a cinco dias para ter impacto nos postos. Isso porque os motoristas aguardam o novo preço e os estoques demoram a cair. No caso de aumento de preço, o movimento é justamente o contrário, já que os motoristas correm para os postos para aproveitar o preço mais baixo.

"De hoje a quarta-feira devem ser feitos reajustes para baixo, mas onde houver mais competição reduz mais, onde tem baixa competição, reduz menos", explica a fonte.

De uma maneira ou de outra, o movimento da Petrobras - que também alterou a sua estratégia comercial de reajuste e não depende mais da paridade de importação (PPI) -, deve ter um impacto relevante na inflação oficial medida pelo Índice Nacional Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), principalmente se for concretizada a previsão do ministro da Fazenda.

Segundo os analistas Guilherme Sousa e Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, o Boletim Focus da semana passada teve como destaque um grande recuo na expectativa de inflação de 2023, de 6,03% para 5,80%. "Pode-se afirmar que o recuo na expectativa foi quase em sua totalidade motivado pelos anúncios promovidos pela (e sobre) Petrobras na última semana", disse em relatório nesta segunda-feira, 22.

De acordo com os analistas, o impacto da queda de R$ 0,40 por litro nas refinarias da estatal impacta sobremaneira tanto a inflação corrente como a expectativa de inflação deste ano.

"Mediante as alterações nas expectativas do boletim Focus, passamos a estimar que a projeção de 2023 e 2024 para IPCA do BC irão recuar marginalmente, 20bps (pontos base) em 23 e 10bps em 24. Ressaltamos que o juro real neutro considerado nas estimativas do BC é de 4,0%, bem abaixo das Bs e da nossa, entre 5,5% e 6,0%.

"Em relação às projeções mensais de inflação, o mercado projeta 0,43% para maio (-2bps) e 0,34% (-16bps) para junho de 2024. Nós, da Ativa Investimentos, projetamos 0,53% e 0,29% para o mesmo período, respectivamente", informa.

Contato: denise.luna@estadao.com
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