Economia & Mercados
13/05/2022 18:21

Especial: Preços de serviços devem ter maior alta desde 2015 e são desafio à meta de 2023


Por Thaís Barcellos

Brasília, 11/05/2022 - A aceleração dos preços de serviços tem chamado atenção nos últimos meses e o grupo pode fechar o ano no maior nível desde 2015 (8,1%), impulsionado pela reabertura da atividade em um ambiente de custos mais altos e retomada do emprego. Em um momento em que há maior otimismo com o crescimento econômico este ano, o degrau mais alto dos preços de serviços, que costuma ser mais persistente, pode ser um desafio a mais à convergência da inflação à meta de 2023 (3,25%) - algo que o mercado se mostra cada vez mais descrente.

Os preços de serviços representam hoje 34,1% da cesta de consumo do brasileiro medida pelo IPCA, o índice de inflação oficial. No indicador de abril em 12 meses, esse grupo mostrou nova aceleração, de 6,30% até março para 6,94% no período finalizado em abril, contra 12,13% do IPCA total. Já os subjacentes, que excluem serviços mais voláteis, avançaram de 6,98% para 7,74%, segundo cálculos do economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano.

De 2002 a 2016, os preços de serviços mostraram taxas de aumento acima de 5,0%, com média de cerca de 7% no período. De 2017, após dois anos de recessão, em diante, a média caiu pela metade, mantendo-se em patamar comportado com o crescimento econômico perto de 1% até 2019 e depois tombando com a pandemia de covid-19, que afetou fortemente o setor. Com o início da reabertura econômica, os preços voltaram a subir no fim do ano passado.

Em artigo publicado no Blog do Ibre, o consultor legislativo do Senado, Ailton Braga, projeta que os preços de serviços devem chegar a 7,5% em junho. Ele considera esse patamar "incompatível com a meta de inflação para os próximos anos", especialmente em 2023, já que exigiria variação próxima a zero de itens comercializáveis, impactados pelo câmbio, e de preços monitorados.

Ele lembra que, entre 2011 e 2014, quando os preços de serviços se situavam em torno de 8,5%, o IPCA cheio sempre ficou acima da meta de 4,5%, mesmo com ajuda do dólar e o controle de preços monitorados, como gasolina e energia.

"Vai ser difícil reduzir a inflação de 11% para 3%. Possivelmente, vai ser necessária uma queda forte do nível de atividade, para conseguir trazer a inflação para a meta, como aconteceu quando a inflação chegou a 10% em 2015. Foi preciso uma recessão, e mesmo assim foram dois anos para baixar", diz ao Broadcast.

Como o Banco Central considerou na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), Braga também avalia que a maior parte dos efeitos do nível restritivo do juro básico ainda não chegou à atividade econômica e, portanto, com mais defasagem, aos preços de serviços.

Como esse setor é altamente intensivo em mão de obra, aumentos de salário na economia tendem a ser um custo relevante e a influenciar reajustes de preços finais. A política monetária mais apertada esfria a economia e atua para reverter essa dinâmica. Mas o processo leva tempo e alguns economistas destacam que a atividade e o mercado de trabalho têm surpreendido positivamente.

"O que estamos vendo são surpresas positivas de atividade econômica e na taxa de desemprego. Os salários estão recompondo a inflação defasada. Nesse contexto, a inflação de serviços vai piorar. Mas o BC está subindo juros. Em algum momento, a economia vai desacelerar e os preços de serviços também, mas no ano que vem devem continuar elevados", diz o economista-chefe da Novus Capital, Tomás Goulart.

O economista projeta alta do IPCA de 8,4% este ano e de 4,2% em 2023, com 7,0% e 5,5% para serviços. Para ele, o BC tem que "rezar" por uma reversão da inflação global, especialmente dos preços de commodities, para conseguir alcançar um IPCA mais próximo da meta no ano que vem. "Muito dificilmente teremos desinflação maior que isso. Esse patamar de 4 pontos porcentuais já é uma baita desinflação", diz ele.

O processo de desinflação mais forte do Plano Real foi de 1995 para 1996 (12,85pp), ainda sobre os efeitos da política. Depois, o maior foi de 2015 para 2016, de 4,38pp. "Para ir para 3,25% tem que contar com muita ajuda global", completa ele, que espera que o BC leve a Selic a 13,25% e que a economia cresça 1,5% este ano.

Analisando o efeito da massa de rendimentos real, medida pela Pnad, sobre os preços de serviços, o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, estima o pico para essa categoria em 7,8%, em junho. Depois, avalia que tende a desacelerar com o impacto do aperto monetário já realizado, terminando 2022 em 6,4% - maior valor desde 2016 (6,5%) - e 2023 em 5,1%. Para o IPCA, as projeções são de 8,0% e 3,8%. "Acredito que a categoria de Serviços, mesmo não sendo o carro-chefe, poderá ajudar na desaceleração do IPCA em 2023."

A Tendências Consultoria Integrada espera desaceleração ainda maior dos preços de serviços entre o fim de 2022 e 2023, de 7,0% para 3,7%, também observando um "esfriamento" do mercado de trabalho no segundo semestre deste ano. "Devemos 'colher' menos preços de serviços em 2023", explica a economista e sócia Alessandra Ribeiros, que estima estabilidade para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 e alta de 1,3% no ano que vem, além de Selic a 13,25% no fim deste ano.

Contato: thais.barcellos@estadao.com
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