Economia & Mercados
28/06/2023 11:58

Especial: El Niño deve trazer de volta volatilidade nos preços de energia, mas só em 2024


Por Wilian Miron e Luciana Collet

São Paulo, 27/06/2023 - Embora a configuração de um El Niño a partir deste mês já esteja confirmada, a tendência é que os atuais níveis de preço de energia no mercado livre permaneçam baixos no restante do ano, uma vez que os reservatórios que atendem ao Sistema Interligado Nacional (SIN) estão em níveis confortáveis para atravessar o período seco, com armazenamento acima de 80% em todas as regiões, segundo os dados mais recentes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Para especialistas consultados pelo Broadcast Energia, a volatilidade sobre os preços da energia só deve reaparecer a partir de 2024 e se intensificar no segundo semestre daquele ano, a depender da capacidade de recuperação dos reservatórios a partir do período úmido 2024/2025. "Como estão muito cheios [para esta época do ano], mesmo em cenários mais secos, nossas simulações mostram que o armazenamento permanecerá em alta até o período seco do ano que vem", comenta a head de Preços e Estudos de Mercado da Thymos Energia, Mayra Guimarães.


Foto: Divulgação/Copel


Mesmo com o cenário confortável para os próximos meses, meteorologistas e especialistas do setor elétrico têm se debruçado para entender a intensidade do fenômeno e os impactos sobre a recuperação dos reservatórios das hidrelétricas no próximo período úmido. De modo geral, o El Niño altera o regime de chuvas, concentrando maiores volumes na região Sul, mas tornando as precipitações mais irregulares no Sudeste/Centro-Oeste, onde fica a chamada caixa d'água do setor elétrico brasileiro, com aproximadamente 70% da capacidade de armazenamento de água para produzir energia. Já o Norte e o Nordeste tendem a ficar mais secos.

"A possibilidade é de que, a partir de um segundo período úmido não tão bom, aconteça um retorno da volatilidade de preços. Talvez preços ainda baixos, mas algo que já saia do piso, porque a sensação das pessoas hoje é que nunca mais sairá do piso", diz o sócio-diretor e meteorologista da Nottus, Alexandre Nascimento.

Contudo, pelo fato de o El Niño causar um aquecimento fora do normal das águas do Oceano Pacífico na parte Equatorial, elevando, de modo geral, as temperaturas no planeta, há uma tendência de elevação na carga de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN), que pode aumentar já nos próximos meses, devido ao inverno mais quente do que o normal. Além disso, o ritmo de evaporação de água nos reservatórios deve ser observado. Esses dois fatores também podem alterar o comportamento dos preços de energia nos próximos meses, avalia Mayra Guimarães, da Thymos Energia. "Pode ser que tenha uma tendência de demanda [por energia] crescendo".

Um relatório divulgado recentemente pelo banco Santander considera que o fenômeno pode ter impacto moderado nos preços de curto prazo e aponta que nos próximos anos esse efeito pode ser mais significativo. Para os analistas Lucas Barbosa, Aline de Souza Cardoso e André Sampaio, mesmo a elevação de carga devido às temperaturas não deve ter impacto tão significativo e pode ser suprida pelo crescimento das fontes intermitentes, como eólica e solar, uma vez que o ambiente econômico ainda fraco pode limitar o crescimento da carga.

"Mesmo que as altas temperaturas projetadas e as baixas chuvas no Sudeste se confirmem, esperamos que os preços spot permaneçam no fundo do poço para 2023 e 2024", diz trecho do relatório.

Do lado do operador do sistema, a tendência é que à medida que as chuvas se tornem mais abundantes no Sul, o acionamento das usinas dessa região seja privilegiado, para evitar que os reservatórios fiquem muito cheios. Tal configuração deve tornar a região exportadora de energia nos próximos meses.

Já para o Sudeste/Centro-Oeste ainda há dúvidas em relação aos efeitos que a mudança atmosférica deve provocar. Parte dos analistas acredita que pode haver chuvas mais regulares no centro-sul do País, favorecendo as bacias do Madeira, Paranapanema, Baixo Paraná, Tietê, e parcialmente a cabeceira do Grande.

De acordo com o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, o fenômeno tem sido acompanhado pela entidade, que vê uma situação confortável para atendimento da demanda energética entre este ano e o próximo. "Mesmo que traga estação chuvosa que não seja tão abundante como foram as últimas, tudo indica que teremos ano bom", pontua.

Contato: energia@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast+ e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso