Brasília, 20/03/2019 - Em um tom mais dovish que o visto em comunicados anteriores, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avaliou hoje que, em seu cenário básico para inflação, o balanço de risco tornou-se simétrico desde o encontro de fevereiro do colegiado.
Na prática, o BC passou a dar peso equivalente ao risco de inflação menor, por conta da ociosidade da economia, ou de inflação maior, por conta do andamento das reformas e do cenário externo. Até a reunião anterior, o balanço era considerado assimétrico, com peso maior para os riscos inflacionários.
No comunicado publicado há pouco, após manter a Selic (a taxa básica de juros) em 6,50% ao ano pela oitava vez consecutiva, o Copom pontuou que "indicadores recentes da atividade econômica apontam ritmo aquém do esperado". "Não obstante, a economia brasileira segue em processo de recuperação gradual", acrescentou o colegiado.
A visão de que o ritmo da atividade econômica está abaixo do esperado marca uma diferença em relação ao comunicado da decisão anterior, de fevereiro. Na época, o Copom havia se limitado a avaliar que os indicadores evidenciavam "recuperação gradual da economia".
Ao avaliar o cenário global, o Copom disse que ele permanece desafiador. "Por um lado, os riscos associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas recuaram desde a reunião anterior do Copom", diz o colegiado. "Por outro lado, os riscos associados a uma desaceleração da economia global, em função de diversas incertezas, mostram-se mais elevados."
Estes fatores fizeram o BC alterar a percepção sobre seu balanço de riscos. O Copom reiterou que permanecem fatores de risco em ambas as direções - ou seja, no sentido de inflação mais baixa e no sentido de inflação mais elevada -, mas, ao contrário do que vinha ocorrendo, o colegiado não deu peso maior aos riscos de aceleração de preços.
"Por um lado, o nível de ociosidade elevado pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária", disse o colegiado, lembrando que este último risco se intensifica "no caso de deterioração do cenário externo para economias emergentes". A conclusão trazida pelo comunicado, no entanto, é a de que "o balanço de riscos para a inflação mostra-se simétrico". (Fabrício de Castro - fabricio.castro@estadao.com)