Economia & Mercados
16/11/2018 06:31

Fitch não antecipará mudança em ratings de bancos do Brasil, mas chama atenção para reformas


Pequim, 16/11/2018 - A agência de classificação de risco Fitch Ratings não considera antecipar uma eventual mudança no rating dos bancos brasileiros somente por conta do fim do ciclo das eleições presidenciais no Brasil. Ressalta, contudo, em comunicado à imprensa, que as implicações do resultado das urnas, que elegeram Jair Bolsonaro (PSL), para essas instituições dependerão do tempo de adoção e da qualidade das reformas econômicas e fiscais estruturais que vão determinar a direção macroeconômica do País no longo prazo.

Liquidez adequada, os níveis de capitalização e, portanto, crescimento conservador, justificam, segundo a Fitch, a posição de não antecipar alterações no rating dos bancos brasileiros somente por conta das eleições. "Uma recuperação lenta e fraca deve continuar a contribuir para a estabilização da lucratividade, da qualidade dos ativos e dos principais índices de crédito dos bancos brasileiros", destacam o diretor de instituições financeiras da Fitch Ratings para América Latina, Claudio Gallina, a diretora sênior Shelly Shetty e a analista sênior Laura Kaster, em comunicado.

Eles destacam que os bancos no Brasil são apoiados por uma sólida estrutura regulatória e baixo nível de exposição em operações (empréstimos e depósitos) em dólar. Chamam atenção ainda para carteiras corporativas, mais expostas ao risco cambial e à volatilidade das taxas.

Os analistas da Fitch ressaltam que, apesar da conclusão do ciclo eleitoral com "claro ímpeto político" para Bolsonaro, permanece uma "incerteza significativa" quanto ao ritmo e alcance das reformas econômicas, bem como a capacidade do novo governo para executar seu plano. "O Partido Social Liberal do presidente eleito teve ganhos significativos no Congresso, mas a legislatura continua altamente fragmentada e a capacidade de sua administração de formar uma maioria legislativa continua sendo uma questão fundamental", avaliam eles.

À medida que as eleições ajudam a mitigar o risco político do País no curto prazo e melhorar a confiança do investidor, Gallina, Shelly e Laura acreditam que o cenário pode ser benéfico para as perspectivas de lucros dos bancos por meio de maior crescimento do crédito e aumento da atividade dos mercados de capitais. "O último seria esperado se um plano de privatização ganhasse força, impulsionando o aumento do investimento direto estrangeiro", avaliam eles.

De acordo com os analistas da Fitch, o sistema bancário brasileiro tem liquidez e capital adequados para lidar com um aumento na demanda do consumidor e comercial sem afetar significativamente seus níveis de capitalização. Embora não espere que isso ocorra no médio prazo, a Fitch estima que o segmento tenha capital adequado para elevar sua carteira total de crédito para cerca de R$ 2 trilhões (equivalente a US$ 530 bilhões).

No entanto, uma guinada significativa nos empréstimos seria negativo, na visão da agência, em termos de crédito, se isso levasse a um agravamento significativo da qualidade dos ativos. Atualmente, os bancos brasileiros, conforme a Fitch, tem provisionamento adequado, de cerca de 3% das perdas projetadas líquidas (NPLs, na sigla em inglês) conforme dados setembro de 2018, com os indicadores dos bancos públicos não excedendo significativamente os níveis dos pares privados.

Os consumidores com melhor perfil de crédito podem, na visão da classificadora, esperarem por mais estabilidade política e econômica antes de recorrerem a empréstimos, o que poderia levar os bancos a buscar um crescimento de baixa qualidade e maior perda. "Se os grandes bancos mantiverem padrões conservadores de subscrição e evitarem riscos de concentração, isso seria um crédito positivo", destacam os analistas da Fitch.

Eles chamam atenção, contudo, para os pequenos e médios bancos que podem ver uma porcentagem maior desse crescimento de crédito e, potencialmente, um risco maior como resultado.

Os analistas da Fitch ressaltam ainda que o potencial para uma aceleração do crescimento permanece altamente incerto e as perspectivas macroeconômicas para o Brasil seguem profundamente desafiadoras. O cenário base da agência de classificação de risco prevê uma aceleração lenta a médio prazo, com o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) em ritmo devagar.

"Além disso, os riscos de queda continuam proeminentes em relação ao aperto monetário nos EUA, à incerteza sobre o protecionismo do comércio global e fatores internos, incluindo a fraca dinâmica fiscal e da dívida do Brasil e potenciais déficits de reformas. No geral, o ambiente operacional doméstico deve permanecer desafiador para os bancos brasileiros em 2019", avaliam os analistas da Fitch.

Em termos de políticas específicas para o setor financeiro, eles não esperam que a privatização dos bancos públicos seja a principal prioridade para o novo governo, apesar dos sinais de uma agenda liberalizante. Segundo os analistas da Fitch, a nova administração provavelmente respeitará a independência operacional do Banco Central. Uma eventual diretriz do regulador para o crescimento do crédito em detrimento dos padrões de aceitação de risco, resultando em maior deterioração da qualidade de crédito, na visão deles, seria vista como um crédito negativo. (Aline Bronzati - aline.bronzati@estadao.com)
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast+ e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso