Política
24/11/2017 19:31

Aumenta diagnóstico e tratamento para HIV, mas taxa de abandono da terapia se mantém alta


Brasília, 24/11/2017 - Relatório do Ministério da Saúde mostra que o diagnóstico e tratamento de pessoas vivendo com HIV-Aids melhorou no Brasil nos últimos quatro anos, embora deixe claro que há ainda inúmeros desafios a serem enfrentados. De acordo com o trabalho, o número de pessoas com HIV que sabem da sua condição aumentou.

Também é maior a parcela dos que estão em tratamento com medicamentos antirretrovirais. Ao mesmo tempo, as taxas de abandono à terapia ainda são altas e continua significativo o número de pessoas que descobrem a infecção pelo HIV de forma tardia - o que dificulta o sucesso no tratamento.

"Há conquistas, mas também desafios", constata a diretora do Departamento de Prevenção e Controle das ISTs, HIV/Aids e Hepatites Virais, Adele Benzaken. Um dos maiores avanços apontados pelo trabalho é a melhora no diagnóstico. Estima-se que 830 mil pessoas vivem com HIV no Brasil. Desse total, 694 mil (84%) sabem que são portadoras do vírus - um aumento de 18% quando comparado com dados de 2012.

Em 2016, 72% das pessoas diagnosticadas estavam em tratamento. Uma proporção bem maior do que em 2012, quando 62% das pessoas vivendo com HIV-Aids estavam em terapia com antirretrovirais. A supressão viral (quando a proporção de vírus circulante no sangue é considerada pouco expressiva, o que indica o sucesso do tratamento) também avançou. Dos pacientes tratados, 91% apresentam carga mínima de vírus.

Os dados indicam que o Brasil está próximo de atingir pelo menos duas das três metas do Programa das Nações unidas para Aids (Unaids), batizado de 90-90-90. O compromisso dos países é chegar até 2020 com 90% das pessoas com HIV-Aids diagnosticadas; desse grupo, pelo menos 90% em tratamento e, dos que estão em tratamento, 90% com supressão viral. "Estamos a seis pontos porcentuais para alcançar a meta do diagnóstico", constata Adele. A meta da supressão viral já foi atingida e agora precisa ser mantida até 2020.

Um dos maiores desafios é tentar garantir que as pessoas diagnosticadas entrem em tratamento - e mantenham essa condição. A diretora chama a atenção para os dados da população entre 18 e 24 anos. Nesse grupo, apenas 56% dos diagnosticados estão em tratamento e 49% têm carga viral em níveis considerados ideais.

"É preciso fazer um esforço para melhorar esses indicadores." A ideia é fazer uma campanha para mobilizar pessoas nessa idade a se testar e manter o tratamento. Tão importante quanto isso, ressalta Adele, é tentar identificar as falhas do sistema que levam jovens a se manter afastados dos sistemas de saúde. As estratégias, afirma a diretora, serão adotadas em conjunto com serviços estaduais e municipais de saúde.

Para Veriano Terto, da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, os indicadores apontam um bom resultado. "Mas esses dados se contrastam com outros dados chocantes, como, por exemplo, que 30% da população transexual vive com HIV/Aids, ou o crescimento da prevalência da infecção entre população de homens que fazem sexo com homens", disse. "O Brasil vive um paradoxo. Qual epidemia vamos descrever? A que em números gerais já está próxima de atingir o 90-90-90 ou a que mostra o avanço da epidemia entre jovens?"

Os dados do trabalho indicam que 9% das pessoas vivendo com HIV-Aids abandonaram o tratamento em 2016. Mesmo porcentual apresentado em 2014. As taxas, no entanto, mudam quando se analisa raça/cor. Ano passado, a taxa de abandono na população branca foi de 8%.

Entre negros, no entanto, foi de 11%, o mesmo porcentual constatado entre população indígena. "Há uma sinergia de estigmas. Além de enfrentar o estigma do HIV, essas pessoas enfrentam as dificuldades próprias do racismo institucional. Isso pode acabar induzindo ao abandono", afirma Terto. (Lígia Formenti)
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