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27/09/2017 17:25

Organização em "silos" é desafio para melhorar gestão hospitalar, diz consultora dos EUA


São Paulo (SP)--(DINO - 27 set, 2017) - A norte-americana Alice Lee passou 10 anos da carreira trabalhando na transformação da gestão de um dos mais renomados hospitais do mundo, o Beth Israel Deaconess Medical Center (BIDMC), na cidade de Boston, nos EUA, hospital da escola de medicina da universidade de Harvard, que reúne cerca de 1.250 médicos. Como vice-presidente do local, ela atuou durante uma década para ajudar a implementar o sistema lean, filosofia de gestão originária do modelo Toyota, que vem sendo adotada também na área da saúde.

Ao longo dessa experiência, Alice desenvolveu uma percepção própria sobre a forma de encarar os problemas na gestão hospitalar: de maneira holística, entendendo um hospital como uma organização complexa, mas vendo tudo sempre sob o ponto de vista de quem é o mais importante nesse processo: os pacientes. Nesse trabalho de mudança de gestão, ela diz ter aprendido uma importante lição: se as lideranças não estiverem alinhadas com a transformação proporcionada pela mentalidade lean, a mudança não terá resultados.

Hoje diretora-executiva do Lean Enterprise Institute, entidade norte-americana que busca disseminar o sistema lean entre as empresas no mundo, Alice virá a São Paulo para fazer uma palestra no 3o Lean Summit Saúde, encontro de organizações da área que estão mudando seus sistemas de gestão, evento que vai ocorrer dia 18 de outubro, no Centro Empresarial São Paulo. Na entrevista a seguir, ela antecipa o que vai falar no Brasil.

Quais são as principais dificuldades para se mudar a gestão de um hospital e adotar o sistema lean?

Os hospitais são organizações complexas. Múltiplas organizações convivem dentro de um hospital. Por exemplo, no hospital escola da Harvard em que trabalhei muitos médicos não eram funcionários do hospital. E assim, envolvê-los na transformação da gestão era mais desafiador. Além disso, em um hospital de ensino pode haver missões conflitantes, com objetivos diferentes, que podem se chocar um com o outro: na pesquisa, no atendimento clínico, na missão acadêmica do ensino... É importante, então, compreender as condições específicas da própria organização. Não se pode acreditar que o mesmo tipo de mudança feita num hospital vai funcionar da mesma forma em outro. Um hospital comunitário, por exemplo, pode não ter uma missão de ensino ou pesquisa. Isso exige uma abordagem diferente de mudança de gestão.

E quais os principais ganhos que o Sistema lean pode trazer para hospitais?

Os cuidados de saúde são únicos, pois há muitos fluxos que devem ser abordados ? fluxo de pacientes, fluxo de material, fluxo de equipamentos, fluxo de medicação, fluxo de clínicas, fluxo de informações e assim por diante. O sistema lean pode ajudar a diminuir ou eliminar os vários estrangulamentos e gargalos que podem ocorrer nesses fluxos, dependendo do problema em questão. Para isso, é preciso sincronizar e coordenar esses fluxos com as necessidades dos pacientes. O nível de complexidade dos processos de um hospital não pode ser subestimado. Mas os ganhos com a adoção do sistema lean podem ser enormes.

Quais são os principais problemas que uma gestão tradicional pode gerar na mudança de gestão em um hospital?

Pode ser um desafio passar da gestão tradicional para a gestão lean porque muitos hospitais são organizados em silos funcionais, em setores fechados em si mesmos. Isso pode interromper diversos fluxos de processos envolvendo os pacientes. Por exemplo, quanto um paciente fica parado no setor da emergência e não pode ir para a internação. Esses silos funcionais são muitas vezes necessários porque envolvem conhecimentos especializados, habilidades diferentes e fundamentais no ambiente do tratamento de saúde. Mas também podem contribuir para estagnações e paralisações nos processos do cuidado, pois operam de forma independente, apesar de que os pacientes precisam atravessar esses silos para receberem cuidados. Além disso, compartilhar conhecimento em um ambiente de gerenciamento tradicional também se torna mais desafiador, pois pode não haver uma compreensão compartilhada sobre o que está acontecendo de errado, quais são os problemas. Muitos problemas ficam isolados nos silos funcionais. E isso pode dificultar a solução.

Que tipo de mudança é preciso ocorrer nas pessoas que trabalham num hospital para que se consiga transformar a gestão e adotar o sistema lean?

É importante entender o clima da organização ao iniciar o trabalho de transformação. Há uma crise de negócios para resolver imediatamente? Há problemas de qualidade? Problemas de clima interno? Um bom primeiro passo para entender quando e por onde começar é buscar saber quais são os problemas mais urgentes que precisam ser resolvidos. Pode ser interessante iniciar a mudança de gestão por um problema real específico que se precisa resolver na organização. Os resultados vão demonstrar que é possível mudar. E isso pode gerar interesse e envolver outros setores e pessoas. Claro que é preciso ter uma abordagem estratégica geral para a transformação. Mas primeiro deve-se começar por algum lugar.


Website: https://www.lean.org.br/lean-summit-saude-2017.aspx

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