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Trump morde a isca

Investidores amanheceram desmontando posicionamento do "Trump Trade"

11 de setembro de 2024

Por André Marinho

Os planos da campanha do ex-presidente Donald Trump eram claros: usar o debate presidencial na noite de terça-feira, 10, para confrontar os pontos mais impopulares da rival democrata, a vice-presidente Kamala Harris. Por vezes, o republicano até tentou explorar a escalada da inflação e o grande fluxo de imigrantes ilegais na fronteira com o México, dois calcanhares de Aquiles da oponente.

Mas Harris tinha um arsenal de iscas preparado. E Trump mordeu todas.

“Vou convidá-lo a assistir a um dos comícios de Donald Trump porque é algo realmente interessante de assistir”, começou Harris. “Ele fala sobre personagens fictícios como Hannibal Lecter. Ele vai falar sobre moinhos de vento que causam câncer. E o que você também notará é que as pessoas começam a abandonar seus comícios mais cedo, por exaustão e tédio”, provocou.

Tradicionalmente sensível ao tema, Trump passou os minutos seguintes em uma apaixonada defesa do tamanho de sua plateia. Em determinado momento, recorreu a uma já desmentida alegação de que imigrantes estão comendo animais de estimação em Ohio, boato que circula nas redes sociais. O moderador do debate da emissora ABC News, David Muir, teve que intervir para esclarecer a ausência de evidências que sustentem a informação.

“Isso é que é ser extremista”, ironizou Harris, com um sorriso no rosto logo após as falas.

A comparação ecoou entre os americanos. Pesquisa da CNN com o instituto SSRS apontou que 67% dos eleitores viram a vice-presidente como a vencedora do embate contra 37% que preferiram o desempenho de Trump.

Desde a madrugada, o Broadcast mostrou as repercussões em Wall Street, que também parece ter enxergado a vantagem à vice-presidente. Os investidores amanheceram desmontando os posicionamentos do “Trump Trade”, em que ativos como o peso mexicano e os Treasuries eram penalizados diante da percepção de que um eventual triunfo do ex-presidente pode deflagrar uma política tarifária inflacionária. Em Nova York, a ação da Trump Media & Technology, dona da rede social Truth Social abriu o pregão com um tombo de 15%.

É claro que a divulgação de dado de inflação ao consumidor (CPI) nos EUA, pela manhã, embaralhou os negócios e impediu uma visibilidade mais clara sobre o que está sendo o principal condutor dos movimentos. Mas a fraqueza do dólar é um sinal de que o debate repercutiu nas mesas de operações. Quem diz isso é o estrategista Francesco Pesole, do ING: “No câmbio, uma vitória de Trump está associada a um dólar mais forte”.

Em termos políticos, o presidente da Eurasia, Ian Bremmer, acredita que Harris pode ganhar pontos após o confronto com Trump. No entanto, vencer a batalha não é vencer a guerra. A pouco menos de dois meses da eleição, muita água ainda vai rolar em uma campanha acirrada. O mercado de trabalho dá sinais de enfraquecimento e o fantasma da inflação ainda não está completamente domado.

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