Celebração da indústria é ofuscada por embate entre Lula e Zema, possíveis adversários ao que vem
13 de março de 2025
Por Eduardo Laguna
A ideia era comemorar os grandes investimentos da indústria, mas o clima foi de campanha eleitoral. Os eventos realizados em Minas Gerais pela montadora Stellantis e pela siderúrgica Gerdau foram marcados pelas segundas intenções de seus dois convidados mais destacados: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador do Estado, Romeu Zema.
Zema confirmou presença na noite da véspera, quando sabia que Lula estaria em Betim, pela manhã de terça-feira, para inaugurar o centro tecnológico da Stellantis dedicado ao desenvolvimento de carros híbridos. Depois, seguiria com sua comitiva ministerial à usina da Gerdau em Ouro Branco, onde foram investidos R$ 1,5 bilhão na expansão da capacidade de produção de bobinas de aço. Dois grandes palcos estavam, portanto, montados para o confronto entre possíveis adversários nas eleições ao Planalto do ano que vem.
Não deu outra. Ao fim do primeiro evento, após estocadas de um lado e provocações de outro, a sensação geral foi de que 2026 já começou. Primeiro a falar, Zema usou os holofotes para atacar o governo estadual anterior, comandado pelo petista Fernando Pimentel. Disse que pegou um Estado que estava “literalmente desmoronando”, referindo-se à tragédia, na mesma época, do rompimento da barragem de Brumadinho.
Finalizou o discurso valorizando a organização enxuta de seu governo: “Apesar de sermos o segundo Estado mais populoso do Brasil, nós somos o que tem o menor número de secretarias, 14″. Soou como uma alfinetada diante de Lula, que estava acompanhado por boa parte dos 39 ministros que compõem o seu governo.
O chefe do Executivo federal pegou pilha. Mas, antes dele, coube a Alexandre Silveira, um dos muitos ministros levados por Lula a Minas, iniciar o contra-ataque. O ministro de Minas e Energia enfatizou que a dívida de Minas Gerais saltou de R$ 110 bilhões para R$ 165 bilhões desde 2019. Quem assumiu o Estado em 2019? Isso mesmo, foi Zema.
Quando chegou a sua vez, em discurso para encerrar a solenidade na Stellantis, Lula não deixou barato as declarações de um dos cotados a enfrentá-lo em 2026. Dirigindo-se ao governador mineiro, destacou o último resultado do Produto Interno Bruto (PIB), cujo crescimento no ano passado foi de 3,4%, para argumentar que não importa o tamanho, mas sim a qualidade e comprometimento da equipe de um governo.
“Eu tenho muita sorte e, graças à minha equipe, precisou eu voltar à presidência para que a economia voltasse a crescer acima de 3%. Ela não crescia há quanto tempo? O Zema não lembra há quanto tempo essa economia não crescia 3%. Nem você e nenhum economista se lembra há quanto tempo essa economia não crescia a 3%”, disparou Lula.
As trocas de farpas continuaram na cerimônia da Gerdau em Ouro Branco, a mais de 100 quilômetros de Betim, mostrando que, a partir de agora, cerimônias com autoridades promovidas pelo setor produtivo tendem a ter seus anúncios empresariais cada vez mais eclipsados pelo embate político.
Entre uma alfinetada e outra, o vice-presidente Geraldo Alckmin tentou descontrair o público, ainda em Betim, com uma das charadas que gosta de usar para animar os seus discursos. “Como falamos de astro e de estrela, faço uma pergunta: Por que a estrela não mia? Porque ‘astronomia’”, brincou, meio sem jeito, ao se referir ao termo, em latim, stello – iluminar com estrelas – que inspirou o nome da anfitriã da festa, a Stellantis. Só conseguiu arrancar alguns sorrisos amarelos. O “climão” já estava feito.
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