Presidente vai a eventos para os quais quer destaque, pois sabe que atrai a mídia
Por Caio Spechoto
Há um incômodo permanente no presidente Luiz Inácio Lula da Silva e em seu entorno: eles gostariam que a imprensa desse mais atenção a áreas do governo que efetivamente executam políticas públicas, como educação, saúde e meio ambiente. Isso se manifesta, por exemplo, nas frequentes entrevistas a rádios locais concedidas pelo petista. Nesses casos, os entrevistadores costumam estar interessados principalmente nas obras feitas pelo governo na região. A imprensa nacional quase sempre se concentra em temas mais amplos de política ou nas maiores obras, principalmente as dos grandes centros.
Outra forma encontrada por Lula para induzir a imprensa a dar destaque aos temas que lhe são caros é usar a si mesmo como isca de jornalistas. Ele vai a eventos para os quais quer destaque porque sabe que sua presença atrai a cobertura da mídia. Isso se manifestou nesta quarta-feira, 18. A Presidência da República organizou uma entrevista coletiva de Lula e da ministra da Saúde, Nísia Trindade, para falar sobre a campanha do governo contra a dengue. Jornalistas dos principais veículos de comunicação do Brasil compareceram, graças à participação do petista. Lula fez um breve pronunciamento no início. Depois, Nísia fez uma apresentação geral sobre o tema. Lula se despediu dos presentes e deixou a ministra respondendo a perguntas dos jornalistas.
A saída antes do início das perguntas tem dois efeitos práticos. Libera o presidente para seus compromissos cotidianos e impede que ele seja exposto a questionamentos de repórteres. Em fevereiro, em evento de estrutura semelhante para divulgar um novo programa para imóveis abandonados da União, Lula ainda estava presente quando as perguntas começaram. Uma repórter perguntou ao petista sobre ato que o ex-presidente Jair Bolsonaro, principal adversário político de Lula, havia promovido no dia anterior. O presidente não respondeu – e a jornalista foi vaiada por parte do público.
