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Diante de comunicado mais duro do Copom, mercado calibra expectativas para novo ciclo de alta
20 de setembro de 2024
Por Gabriela Jucá, Anna Scabello e Daniel Tozzi Mendes
O tom hawkish do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou ontem o juro de 10,50% para 10,75%, levou o mercado a calibrar suas expectativas para o ciclo de elevação da taxa Selic. Agora, a maioria (56%) prevê elevação no juro de 0,50 ponto porcentual em novembro, contrariando a expectativa anterior, de um ritmo de aumento de 0,25 ponto.
A perspectiva mais dura do documento também se traduziu em uma revisão das estimativas da taxa Selic para o fim de 2024, que passou de 11,25% para 11,75%, na comparação com levantamento realizado antes da reunião.
Os membros do Comitê mudaram a avaliação do hiato do produto de “próximo da neutralidade”, que constava da última ata, para “o campo positivo” no comunicado de ontem. Também chama atenção o cenário de referência do BC para o primeiro trimestre de 2026 – atual horizonte relevante da política monetária – que passou a projetar inflação em 3,5%, ante estimativa anterior de 3,4%, também descolada do centro da meta, de 3,0%.
Além disso, o Comitê apontou explicitamente uma “assimetria altista” no balanço de riscos, o que marcou uma alteração em relação ao que vinha sendo comunicado de forma mais implícita pelo colegiado.
“O Copom começou em um ritmo gradual, mas provavelmente não será um ciclo gradual”, destacou, em relatório, o UBS BB, que alterou a estimativa de aperto monetário após o comunicado. Antes, a projeção era de um aperto total de 1,0 ponto porcentual. Agora, a estimativa é de um ciclo total de aumento de 1,75 ponto porcentual, sendo três elevações de 0,50 ponto até janeiro. O cenário do banco prevê o juro em 11,75% ao fim do ano e em 12,25% ao fim do ciclo, na primeira reunião de 2025.
O hiato do produto no campo positivo e as previsões de inflação no cenário de referência do BC, explicou o banco, contribuíram para a perspectiva de uma taxa de juros mais alta.
O economista-sênior e sócio da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, prevê elevações de 0,50 ponto na Selic em novembro e dezembro e uma derradeira, de 0,25 ponto porcentual em janeiro, levando a taxa a 12% ao fim do ciclo. Ele concorda que o tom duro do comunicado corrobora a perspectiva. “Acredito que seja mais plausível e recomendável a aceleração do ritmo de alta até a fim de adiantar o processo de redução da inflação para a direção da meta”, detalha.
Para o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, a intensidade do aperto monetário à frente ainda está em aberto, apesar do tom hawkish do comunicado. “A discussão fica sobre entender se, para o BC, mantido tudo o mais constante, é preciso acelerar a alta para 0,50 ponto ou se é preciso o cenário se deteriorar mais para aumentar o ritmo de elevação”, afirma Sichel. Por isso, ele não descarta mudar seu cenário-base – hoje de três altas sequenciais de 0,25 pp. “O comunicado é compatível com uma aceleração no ritmo de alta, mas vamos esperar a ata e o RTI”, diz.
Na avaliação do economista, o BC parece, por ora, puxar essa definição do ritmo de aperto para vetores exclusivamente domésticos, com mais destaque para o ritmo da atividade econômica e as projeções de inflação do que, por exemplo, para o câmbio.
“Quando ele fala de atividade, o BC fala que o hiato está positivo, o que foi diferente do comunicado anterior. No anterior ele mencionava também ‘processo de desinflação’ e agora fala em inflação”, detalha o economista.
Neste cenário, Sichel considera que o orçamento total de ajuste altista na Selic projetado pela Porto, que hoje é de 1,0 ponto porcentual até janeiro de 2025, tem um viés “claramente para cima”.
Já o Bradesco prevê que o Copom continue o ritmo de aumento de 0,25 ponto porcentual por mais três reuniões – de novembro até janeiro – mas reconhece que o modelo do BC indica chances de um ritmo e orçamento “maiores do que aqueles incorporados em nosso cenário-base”, conforme escreveram em relatório divulgado ontem.
O banco projeta, por ora, Selic em 11,25% no fim do ano e em 11,50% ao fim do ciclo de aperto, contando com alguma desaceleração da atividade, apreciação da taxa de câmbio e acomodação das expectativas de inflação.
O Bradesco também chama atenção para o hiato do produto mais apertado, o aumento da projeção de inflação no cenário de referência do BC e para o balanço de riscos com assimetria para cima. “A mensagem que se extrai é de que há necessidade de maior restrição por parte da política monetária”, avalia.
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